Os 5 venenos mais mortais do planeta
Quando desafiadas a citar nomes de
venenos, as pessoas podem muito bem pensar imediatamente em cianeto,
arsênico ou estricnina, alguns dos mais mortais e famosos que
conhecemos. Mas estas não são as substâncias mais tóxicas do mundo.
Mais venenosa do que todos estes, mas mesmo assim ainda longe do topo
da lista, é a tetrodotoxina, a toxina do baiacu, que envenena cerca de
50 japoneses todos os anos. O peixe é uma iguaria no país, mas pode ser
letal se preparado de forma incorreta.
Aliás, este era o veneno favorito da assassina Rosa Klebb, no filme
de James Bond From Russia With Love, conhecido no Brasil como Moscou
contra 007. Ele também aparece nos polvos-de-anéis-azuis, e foi mais
recentemente descoberto em pequenos sapos no Brasil.
A DL50 – a quantidade necessária para matar 50% da população de teste
– é como a toxicidade dos venenos é mais frequentemente avaliada
mundialmente, e é geralmente citada por quilograma de peso corporal.
Nesta escala, por exemplo, a DL50 do cianeto de sódio é de cerca de 6 mg
por quilograma. A DL50 da tetrodotoxina, em comparação, é de cerca de
300 microgramas por quilograma, se ingerida por via oral, e uma
quantidade ínfima de 10 microgramas por quilograma, se injetada.
Avaliar a toxicidade de venenos não é fácil. O estado químico de uma
substância é importante, pois tudo depende de como a ingerimos. Se
ingerimos mercúrio metálico líquido (diferente da inalação de seu
vapor), seria muito provável que ele passasse direto através de nosso
corpo sem causar danos. Em 1996, um professor americano derramou apenas
uma ou duas gotas do dimetil mercúrio composto em suas luvas de
borracha, que penetraram as luvas e sua pele, enviando-o para um coma
fatal alguns meses mais tarde.
No entanto, aqui está uma seleção representativa, em ordem crescente,
de cinco venenos verdadeiramente mortais, todos pelo menos uma centena
de vezes mais tóxicos que o cianeto, o arsênico ou a estricnina.
5. Ricina

Este veneno vegetal extremamente tóxico foi famosamente utilizado para
matar o dissidente búlgaro Georgi Markov, exilado em Londres. Em 7 de
setembro de 1978, ele estava esperando por um ônibus perto da ponte de
Waterloo, quando sentiu um impacto na traseira de sua coxa direita.
Olhando em volta, viu um homem que se abaixava para pegar um
guarda-chuva. Markov foi logo levado para o hospital com febre alta – e
morreu três dias depois.
Uma autópsia revelou uma minúscula esfera feita de uma liga de
platina-irídio na coxa de Markov. A esfera havia sido perfurada para
carregar uma pequena quantidade de ricina e pode ter sido ejetada de uma
pistola de ar escondida no guarda-chuva.
Os fãs da série Breaking Bad também devem se lembrar bem da ricina e
de seus efeitos mortais. Walter White e Jesse Pinkman planejaram usá-la
para matar alguns de seus inimigos, como Tuco e Gustavo Fring, durante a
série (Walter também usa a ricina para “chantagear” emocionalmente
Jesse, fazendo-o voltar ao seu lado na batalha contra Gus Fring – mas
dizer mais do que isso seria dar um grande spoiler da trama).
A ricina é obtida a partir dos grãos da planta do óleo de rícino (
Ricinus communis),
a qual é cultivada para extrair o óleo – a ricina permanece na fibra
sólida. É uma glicoproteína que interfere com a síntese de proteínas na
célula, causando a morte celular. Ela tem uma DL50 de 1-20 miligramas
por kg, se ingerida por via oral, mas muito menos é necessário para
matar se inalada ou injetada (como no caso de Markov).
4. VX

O único composto sintético nessa lista, o VX é um agente nervoso com a
consistência parecida com a do óleo de motor. Ele surgiu a partir de
pesquisas da ICI, uma das maiores empresas britânicas no ramo de
pesticidas, mas provou-se ser muito tóxico para ser usado na
agricultura. O VX mata por interferir com a transmissão de mensagens
entre células nervosas; isto requer uma molécula chamada acetilcolina.
Depois que a acetilcolina passa sua mensagem, ela precisa ser
quebrada (caso contrário irá continuar enviando a mensagem) por uma
enzina catalisadora chamada acetilcolinesterase. O VX e outros agentes
nervosos fazem esta enzima parar de trabalhar, de modo que as contrações
musculares da vítima saem do controle e a pessoa morre de asfixia.
Agentes nervosos foram fabricados por ambos os lados durante a Guerra
Fria, mas o VX tornou-se particularmente bem conhecido após ser
apresentando no filme A Rocha, de 1996, que tinha no elenco Nicolas Cage
e Sean Connery. Apenas uma pessoa é conhecida por ter sido morta pela
ação do VX, um ex-membro da seita Aum Shinrikyo, um culto apocalíptico
japonês responsável por um ataque com gás sarin no metrô de Tóquio em
1995, embora cerca de 4.000 ovelhas tenham sido mortas pelo veneno em um
acidente em Skull Valley, Utah, EUA, em 1968.
O VX tem uma DL50 de apenas 3 microgramas por kg (embora alguns relatos sugiram que o número é um pouco maior).
3. Batracotoxina

Todos nós já ouvimos falar ou temos uma imagem em nossas cabeças de
índios usando zarabatanas com dardos feitos com pontas de veneno para
caçar suas presas ou atacar inimigos. O curare é o mais conhecido deles,
e vem de uma planta. Os mais tóxicos, no entanto, vêm de peles de
pequenos sapos – e o mais mortal de todos é a batracotoxina.
Índios no oeste da Colômbia recolhem esses sapos –
Phyllobates terribilis e
Phyllobates bicolor –
e os fazem “suar” o veneno com fogo para então colocá-lo em seus
dardos. A DL50 da batracotoxina é de cerca de 2 microgramas por kg, o
que significa que uma quantidade do tamanho de dois grãos de sal de
cozinha é capaz de matar.
A batracotoxina mata por interferir com canais de íons de sódio nas
células de músculos e nervos, fazendo-os abrir e impedindo que eles
fechem. A migração contínua de íons de sódio resulta, em última
instância, na insuficiência cardíaca da vítima.
Curiosamente, rãs nascidas em cativeiro dessas espécies não possuem
venenos, o que sugere que o veneno é derivado de sua dieta. Na verdade,
quase 30 anos atrás, Jack Dumbacher, um ornitólogo americano que estava
trabalhando na Papua Nova Guiné, foi arranhado na mão por um dos
pássaros Pitohui locais. Ele instintivamente colocou a mão na boca, que
começou a ficar dormente.
Finalmente, verificou-se que estas aves – no lado oposto do mundo em
relação à Colômbia – têm a plumagem contendo a mesma molécula venenosa
que os sapos sulamericanos. Pensa-se que tanto as aves quanto os sapos
obtêm a toxina dos besouros que comem – embora o veneno seja muito menos
potente nas aves.
2. Maitotoxina

Há um número grande de potentes toxinas e venenos marinhos, tais como a
saxitoxina, que muitas vezes são a causa de envenenamento depois que
comemos mariscos contaminados. Estes são frequentemente associados com a
proliferação de algas nocivas no mar.
A maitotoxina é a mais letal destas substâncias, tendo um DL50 de
cerca de uma ordem de grandeza menor do que a batracotoxina. Formada por
um dinoflagelado, uma espécie de plâncton marinho, a maitotoxina tem
uma estrutura muito complicada, o que apresenta um grande desafio para
os químicos sintéticos.
A maitotoxina é uma cardiotoxina. Ela exerce os seus efeitos através
do aumento do fluxo de íons de cálcio através da membrana do músculo
cardíaco, também causando insuficiência cardíaca, assim como a
batracotoxina.
1. Toxina botulínica

Cientistas divergem sobre as toxicidades relativas de venenos, mas
parecem concordar que a toxina botulínica, produzida por bactérias
anaeróbias, é a substância mais tóxica conhecida. O seu DL50 é muito
pequeno – 1 nanograma por quilograma pode matar um ser humano.
Extrapolando a partir de seu efeito em ratos, uma dose intravenosa de
apenas 10
-7g seria fatal para uma pessoa de 70 kg.
Ela foi identificada pela primeira vez como a causa de uma
intoxicação alimentar devido a salsichas preparadas incorretamente (a
palavra salsicha é derivada da palavra latina botulus) no final do
século 18 na Alemanha. Existem várias toxinas botulínicas, com o tipo A
sendo o mais potente. Elas são polipeptídeos, que consistem em mais de
1.000 moléculas de aminoácidos unidos.
A toxina causa paralisia muscular, impedindo a liberação da molécula de sinalização acetilcolina (um neurotransmissor).
Esta mesma propriedade paralisante é fundamental para o uso clínico
da toxina botulínica no Botox cosmético. Injeções alvo de pequenas
quantidades da toxina fazem músculos específicos pararem de trabalhar,
relaxando músculos que poderiam, de outra forma, causar o efeito da pele
enrugada. A toxina botulínica também já foi aplicada em uma variedade
de condições clínicas, tais como paralisar músculos que, se não fossem
tratados, causariam o estrabismo.
Há cada vez mais interesse em utilizar as propriedades das
substâncias tóxicas encontradas na natureza medicinalmente. O veneno da
jararaca brasileira, por exemplo, contém moléculas que reduzem a pressão
sanguínea, o que levou a tratamentos pioneiros para a pressão arterial
elevada. [
Science Alert]