Tudo o que você precisa saber sobre se deve realmente alongar ou não

Para
muitas pessoas, o alongamento geralmente cai naquela categoria “coisas
que eu acho que deveria fazer com mais frequência, mas não faço”.
Será que deveria mesmo? A ciência ainda não chegou a um consenso sobre isso.
“Há
muita controvérsia em torno do alongamento. De todos os tipos de
atividades [recomendadas pela Associação Americana de Medicina
Esportiva], o alongamento é provavelmente aquele cujos conselhos mudaram
com mais frequência, porque ainda estamos aprendendo muito sobre isso”,
explica Jan Schroeder, especialista da Universidade Estadual da
Califórnia (EUA).
Dito isso, há algumas coisas que os
pesquisadores já sabem sobre a prática. Embora alguns dos supostos
benefícios tenham sido exagerados, ser mais flexível pode
definitivamente desempenhar um papel importante na saúde.
Entenda o que é o alongamento e o que a ciência descobriu sobre ele:
O que acontece com um músculo quando você o estica?
“O
músculo é [principalmente] feito de fibras”, esclarece Mike Ramsey,
professor de esporte e exercício da Universidade Estadual East Tennessee
(EUA).
As
unidades funcionais básicas do tecido muscular são chamadas de
sarcômeros, compostos de fibras chamadas de proteínas contráteis. Quando
os sarcômeros se contraem, essas proteínas “se entrelaçam” e, à medida
que relaxam, se afastam. O tecido conjuntivo em seus músculos também se
estende junto com essas proteínas contráteis.
Entre as fibras
musculares, existem receptores sensoriais (basicamente terminações
nervosas) chamados fusos musculares, que monitoram o comprimento e a
tensão do músculo.
Se o músculo é alongado muito depressa, os
fusos iniciam o reflexo de estiramento. Isso faz com que o músculo se
contraia, porque seu corpo acha que corre o risco de se machucar. Se
você já tentou se alongar e percebeu uma resistência, experimentou esse
efeito. Se você luta contra essa resistência e força para se alongar
enquanto suas fibras musculares estão tentando contrair, de fato pode
acabar se machucando, danificando seus músculos, tendões ou ligamentos.
Com
o tempo, quanto mais você alonga um músculo, menos sensíveis ficam os
fusos musculares, o que significa que o reflexo de estiramento não é tão
forte. Eventualmente, você se torna capaz de alongar-se mais.
Diferentes tipos de alongamentos são mais adequados para diferentes situações
Os
dois principais tipos de alongamento são o estático (em que você segura
uma mesma posição por um tempo) e o dinâmico (em que você realiza uma
série de movimentos que estendem os músculos).
O alongamento
dinâmico geralmente é incluído em um aquecimento antes de um treino. Com
movimentos suaves e controlados, o objetivo é preparar o corpo para o
trabalho muscular que está prestes a realizar.
“Quando
fazemos alongamento dinâmico, estamos aquecendo lentamente a área das
articulações e os músculos que cercam essa articulação”, diz Schroeder.
Também começa a preparar as vias neurais envolvidas no exercício que
você vai fazer – contrações musculares são amplamente reguladas pelo
cérebro, de modo que o alongamento dinâmico ajuda a preparar essa
conexão mente-músculo.
O alongamento estático, por outro lado,
significa manter uma posição por um determinado período de tempo. As
orientações para a duração ideal de um alongamento estático variam, mas
alguns fisioterapeutas dão um conselho geral de cerca de 30 segundos.
Schroeder sugere que as pessoas não se estressem com o tempo e apenas se
estiquem até sentirem um alongamento profundo e satisfatório.
O alongamento estático pode ser benéfico para algumas pessoas…
A
maior vantagem do alongamento estático é que ele pode melhorar sua
mobilidade articular. Como as articulações trabalham em conjunto com os
músculos ao redor, quanto mais móveis estiverem, melhor será a amplitude
do movimento.
Uma maior amplitude de movimento irá ajudá-lo a
fazer praticamente qualquer exercício com mais facilidade. Isso também
significa que você provavelmente conseguirá aproveitar melhor o
exercício. Por exemplo, ser capaz de abaixar mais em um agachamento
atingirá mais músculos.
Além de aumentar a mobilidade articular e a
amplitude de movimento, o alongamento estático também pode ser útil
para melhorar o alinhamento do corpo e prevenir dor no dia a dia. Isto é
especialmente verdadeiro se você passa muito tempo sentado. Os músculos
flexores do seu quadril vão começar a encurtar, o que puxará sua pélvis
para baixo. Por sua vez, a parte inferior das costas ficará arqueada.
Essa posição biomecânica pode levar a dor em outras áreas, mas o
alongamento pode ajudar a remediar isso.
…Mas tem sua hora certa
O
alongamento estático pode ser uma boa maneira de terminar um treino. “O
corpo está voltando para a homeostase. Parar abruptamente pode fazer
com que o sangue se acumule nas pernas (em vez de recircular prontamente
para o coração e o cérebro) e fazê-lo sentir tonturas ou desmaiar, por
isso o alongamento é uma boa maneira de esfriar e fazer a transição do
corpo para o descanso”, explica Schroeder.
Por
outro lado, a pesquisa sugere que o alongamento estático logo antes de
um treino pode não ser a melhor ideia. Embora o alongamento dinâmico
antes de um treino possa ser benéfico, o estático pode, na verdade,
afetar negativamente a força muscular e sua capacidade de realizar
movimentos explosivos (como pular ou correr).
Dito
isso, esta pode não ser uma grande preocupação para a pessoa média. As
pessoas que precisam se preocupar com isso não são as que fazem
atividades no fim de semana – estamos falando mais sobre um grupo de
elite em que isso realmente se torna um fator. Se você tem um objetivo
de desempenho (como em um triatlo ou maratona), provavelmente é melhor
evitar o alongamento estático antes do treino.
A melhor opção para atletas parece ser se aquecer antes do treino, e se alongar depois dele.
Há algum debate sobre se o alongamento estático realmente é necessário para todos
Pessoas
ativas, que se exercitam regularmente, provavelmente já fazem
alongamentos dinâmicos suficientes através de suas atividades como
agachamentos, flexões e outras. Nesse caso, fazer alongamentos estáticos
pode não adicionar muito benefício.
“Será que o alongamento estático é realmente necessário para todos? Estou em cima do muro, para ser honesta”, opina Schroeder.
Você
deve ter ouvido falar que o alongamento é importante porque pode ajudar
a torná-lo um melhor atleta, mas a verdade é que a pesquisa científica
não confirma definitivamente isso. Pelo menos, não para qualquer tipo de
exercício.
Por
exemplo, uma revisão de 2017 publicada na revista Research in Sports
Medicine, que analisou como o alongamento afeta o desempenho e o risco
de lesões em corredores de longa distância, descobriu que o alongamento
provavelmente não ajuda a maioria a correr mais rápido nem a diminuir
lesões.
Mas
os pesquisadores também observaram que, de acordo com alguns estudos,
parece que uma rotina regular de alongamento pode reduzir a
probabilidade de lesões musculares e tendinosas em algumas atividades
(como esportes que envolvem movimentos rápidos e explosivos).
Até
que mais pesquisas específicas e amplamente aplicáveis sejam feitas, não
há como dizer qual é a quantidade ideal de alongamento, se houver, para
o seu exercício de escolha. O conselho padrão é: faça o que parece bom
para o seu corpo, pare se sentir dor, e sempre converse com um
especialista se quiser mudar sua rotina de exercícios.
Alongamento não pode prevenir ou curar músculos doloridos por conta do treino
O
alongamento tem seus propósitos, mas se esticar antes ou depois de um
treino certamente não impedirá seus músculos de ficarem doloridos.
De
fato, uma revisão de 2011 concluiu que o alongamento antes ou depois de
um treino não impede nem cura dor muscular de forma significativa.
O
alongamento não pode impedir essa quebra de fibras musculares em um
treino, nem curá-la. A única coisa que realmente funciona é o tempo.
Fazer com que o sangue flua através de exercícios leves como caminhar ou
andar de bicicleta com baixa intensidade também pode ajudar.
Porém, um alongamento suave pode de fato levar a algum alívio temporário dessa dor, ao relaxar o músculo.
Conclusão: alongamento é bom, mas não se alongar não é o maior dos problemas
Além de um aquecimento dinâmico antes de um treino, fazer alguns alongamentos estáticos por semana é uma abordagem razoável.
Não
é necessário complicar demais as coisas – faça uma pausa de 5 a 10
minutos no final de um treino para se acalmar com alongamentos
estáticos, ou estique-se durante um intervalo no trabalho (caminhe por
alguns minutos primeiro, para fazer o sangue fluir).
E, é claro,
alongue-se se tiver vontade. Às vezes, se esticar apenas traz uma
sensação boa – e isso já é um bom motivo para fazê-lo. [
Self] - Fonte: HScyence - Ago/18