10 seitas cristãs antigas bizarras

Nos
dois primeiros séculos da era cristã, o Novo Testamento ainda não havia
sido finalizado e a declaração de fé cristã aceita pela Igreja Católica
Apostólica Romana e outras de crença ortodoxa, o Credo
Niceno-Constantinopolitano, ainda estava muitos anos longe no futuro.O
mundo romano foi o lar de muitas seitas rotuladas como “cristãs” que
parecem estranhas e completamente desconexas para nós que estamos do
outro lado do Primeiro Concílio de Nicéia. Se você acha que seitas
cristãs modernas são confusas, segure o fôlego para ler sobre o
cristianismo primitivo:
10. Simonianismo
Os Simonianos, seita gnóstica do século II dC, tiraram seu nome de
Simão Mago (ou Simão, o mágico), que faz uma aparição nos Atos 8:9-24,
onde é repreendido pelo apóstolo Pedro por tentar comprar o ofício
apostólico (daí o termo “simonia” para a prática de venda de favores
divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos, bens espirituais, coisas
sagradas, etc). De acordo com o bispo Irineu de Lyon, Simão é o pai de
todos os hereges.
Simão
contou uma história na qual o primeiro pensamento feminino de Deus (ou a
“metade feminina de Deus”), chamada Enóia, foi para os mundos
inferiores para criar anjos. Infelizmente, os anjos se rebelaram contra
ela, que ficou presa no corpo de uma mulher. Ela habitou tal corpo
através de sucessivas reencarnações, uma das quais foi Helena de Tróia.
Deus finalmente desceu à Terra como Simão Mago a fim de resgatá-la.
Simão encontrou sua mais recente encarnação, também chamada Helena,
trabalhando como prostituta na cidade de Tiro.
Em forma humana,
Deus/Simão pregou contra os anjos rebeldes que criaram o mundo. Há
indícios nos escritos de Simão que ele também identificou-se como o
Cristo, que sofreu na Judéia. Ele ensinou que as pessoas que se voltavam
para ele e Helena (que foi identificada como o Espírito Santo) eram
salvas pela graça, não pelas obras. Os apócrifos “Atos de Pedro” relatam
que, em uma “competição” com o apóstolo Pedro para provar quem estava
dizendo a verdade, Simão levitou acima do Fórum Romano. Pedro, então,
rezou a Deus para derrubar Simão, e o herege foi parado em pleno ar e
caiu ao chão. Exposto como um vigarista, ele foi apedrejado pelo povo e
morreu por conta de seus ferimentos.
9. Montanismo

Montano fundou um movimento que, quando nasceu (cerca de 156 – 157 dC), foi chamado de “Nova Profecia”.
Montano
foi supostamente um sacerdote do culto pagão de Átis e Cibele, que
tinha uma tradição de comportamento dervixe (conhecido por sua extrema
pobreza e austeridade, similar às ordens mendicantes dos monges
cristãos). Enquanto o movimento não diferia muito das crenças da Igreja
Católica da época, havia desvios significativos em relação a sua
doutrina.
Por
exemplo, Montano permitia que mulheres tivessem posições de destaque na
seita. Suas principais companhias eram as profetisas Maximila e
Priscila. Em Pepuza, na Frígia (Ásia Menor), Priscilla afirmou que Jesus
apareceu para ela na forma de uma mulher enquanto ela dormia e, depois
de ter se deitado a seu lado, “colocou Sua sabedoria dentro” dela, e Lhe
revelou que aquele lugar era santo. Maximilla predisse que, após a sua
morte, o fim viria.
Uma notícia da iminente “segunda vinda de
Cristo” (ou “parusia”) se espalhou como fogo em toda a região, e logo
Pepuza foi afogada em um mar de devotos. Em preparação para a parusia,
Montano incentivou o ascetismo e o martírio e proibiu o casamento
(depois permitindo um único casamento).No
início, a Igreja Católica aprovava a Nova Profecia. Mesmo o defensor da
Igreja e inimigo da heresia Tertuliano ficou entusiasmado com a forma
como o Espírito Santo estava se movendo entre a comunidade Montanista.
Claro que, mais tarde, a Igreja começou a notar que as profecias da
seita estavam indo acima e além das palavras de Jesus e seus apóstolos,
bem como das tradições proto-ortodoxas. Isso levou o Montanismo a ser
considerado uma heresia. Séculos de oposição se seguiram culminando no
ano 550 dC, quando os católicos confiscaram as Igrejas Montanistas em
Pepuza e queimaram os ossos de Montano, Maximila e Priscila.
8. Marcionismo

Os Marcionitas eram seguidores de Marcião do Ponto (ou Marcião de
Sínope), considerado um dos cristãos mais influentes entre o tempo de
São Paulo e Orígenes. Ele teria sido expulso da Igreja por “seduzir uma
virgem”, mas essa acusação pode ter sido incitada por seus inimigos.
O
que se sabe é que ele chegou a Roma e começou a ensinar suas doutrinas
lá, atraindo um grande número de seguidores e ameaçando a própria
existência da Igreja Romana, ainda no seu início. O bispo Policarpo de
Esmirna chamou-o de “primogênito de Satanás”.
Marcião rejeitava o
Deus judeu Javé como uma divindade tirânica, ensinando que o Deus de que
fala as Escrituras Hebraicas não era o Pai de Jesus Cristo. Obviamente,
ele rejeitou os escritos judaicos (que viriam a ser o Antigo
Testamento), bem como compilou um novo cânone de livros sagrados. Para
este fim, ele produziu um “Evangelho do Senhor” (uma versão inicial do
Evangelho de Lucas) e recolheu as epístolas de Paulo, introduzindo assim
a ideia de um “Novo” Testamento.
Marcião avaliou Paulo como o
único apóstolo a entender verdadeiramente a mensagem de Jesus. Ele
considerava os 12 originais, incluindo Pedro, idiotas. Marcião também
proibiu o casamento e pediu o celibato entre seus seguidores (mesmo os
já casados), uma vez que trazer mais crianças para o mundo significava
trazer mais pessoas para o “cativeiro do despótico Javé”. Marcião foi
também um docetista – ele acreditava que Jesus nunca tinha sido um ser
humano de carne e sangue, apenas fingiu ser um.
7. Carpocracianismo
Enquanto os Marcionitas praticavam um celibato extremo, a seita
liderada por Carpócrates foi acusada do exato oposto – pura
libertinagem. Os Carpocracianos acreditavam na reencarnação, e o bispo
Ireneu de Lyon disse que os membros do grupo eram encorajados a
experimentar tudo o que há na vida para que não tivessem que reencarnar e
fazer o que ainda não tivessem feito, o que inclui a imoralidade.
Irineu
podia estar exagerando, mas Carpocracianos de fato se orgulhavam de ser
acima de todas as leis morais, e transcender convenções humanas. A
notoriedade da seita reacendeu no século 20 com a descoberta do
Evangelho Secreto de Marcos, uma versão mais espiritual do Evangelho
canônico de Marcos. Clemente de Alexandria acusou os Carpocracianos de
falsificá-lo para apoiar a sua libertinagem. O Evangelho Secreto incluía
uma cena em que um Jesus nu dava instruções a outro homem nu, e esta
sugestão de um
encontro homossexual foi usada pelos Carpocracianos para justificar um estilo de vida gay em uma sociedade muito menos tolerante do que a nossa é.
6. Marcosianismo

A seita marcosiana, liderada pelo professor Marcos (ou Marcus), é
conhecida por sua fascinação com a teoria da numerologia e das letras,
derivada dos pitagóricos.
Marcosianos
encontravam significado nos equivalentes numéricos de palavras (em
grego, cada letra tem um valor numérico). Por exemplo, o nome “Jesus” em
grego – Iesous – corresponde ao equivalente numérico “888”, um número
considerado como sagrado e mágico pelos antigos. Uma razão para isso é
que os números associados a todas as 24 letras gregas, quando somados,
dão 888.
A pomba era considerada o equivalente do Alfa + Ômega,
uma vez que Alpha é igual a 1 e Omega é 800, e a palavra grega para
“pomba” soma 801. Marcos também ensinou que 30 seres divinos chamados de
Aeons derivavam do fato de que 1+2+3+4+5+7+8 = 30, com o ” 6″ omitido,
porque não é uma letra do alfabeto grego habitual (“8” representa o
“Ogdóade”, os oito Aeons primários).
5. Valentianismo

Valentino
era um professor muito popular e influente, por pouco não sendo eleito
Bispo de Roma (o cara que chamamos de “Papa” hoje). Depois de perder (ou
recusar) a eleição, ele montou seu próprio grupo.
Valentino
acreditava em um andrógino Ser Primal, cujo aspecto masculino se
chamava Profundidade, e o feminino Silêncio, a partir do qual pares de
outros seres emanavam. Quinze pares acabaram sendo formados, totalizando
30 – os Aeons descritos por Marcos, discípulo de Valentino.
O
último Aeon, Sophia, sucumbiu a ignorância e foi separada de seu grupo, o
que resultou na criação de todos os males. Ela foi dividida em duas:
sua parte superior retornou ao seu grupo, enquanto sua parte inferior
ficou presa neste mundo físico. O conceito Valentiniano da salvação
estava no resgate de Sophia pelo seu Filho, ou Salvador, em quem todos
os Aeons são integrados. Sophia havia criado sementes espirituais em sua
imagem, mas elas também estavam na ignorância. Para despertar e
amadurecer as sementes, a Sophia inferior e o Salvador influenciaram o
Demiurgo (artesão, ou Criador), uma divindade também inferior, a criar o
mundo material e os seres humanos. Este Demiurgo não é outro senão o
Deus bíblico dos judeus.
4. Basilidianismo

Irineu chamou os seguidores de Basilides de Alexandria de dualistas e
emanacionistas. Ou seja, eles viam a matéria e o espírito como forças
hostis opostas, e acreditavam no mito gnóstico dos Aeons emanando em
sucessão a partir de um “Pai” não gerado. Os cinco principais Aeons eram
Nous (Mente), Logos (Palavra), Phronesis (Inteligência ou Prudência),
Sophia (Sabedoria) e Dynamis (Poder). De Sophia e Dynamis emanaram 365
céus em ordem decrescente, coletivamente chamados Abrasax.
O Deus
dos hebreus governou o céu mais baixo, e criou um mundo ilusório – o
nosso. O verdadeiro Deus viu o sofrimento da humanidade neste reino
ilusório e enviou Nous (ou Cristo) para trazer o conhecimento que iria
libertá-los. Nous nasceu como Jesus, cujo nome secreto entre os
Basilidianos era Kavlakav (ou Caulacau).
Cristo,
sendo um ser totalmente divino, não tinha corpo físico real. Basilides é
talvez mais conhecido por sua interpretação da crucificação de Cristo
que, sendo incorpóreo, não podia morrer. No caminho para o local da sua
crucificação, ele “fez uma troca” com Simão de Cirene, que estava
ajudando a carregar a cruz. Os romanos, enganados, começaram a
crucificar o pobre Simão. Esta noção sobrevive até hoje nas páginas do
Alcorão muçulmano: “Eles disseram ‘Matamos o Messiah Isa (Jesus), filho
de Maryam (Maria), o Mensageiro de Deus’, mas eles não o mataram, nem o
crucificaram, e sim a semelhança de Isa foi colocada sobre outro homem”
(Alcorão 4:157).
3. Ofitismo

Os ofitas são nomeados após a palavra “serpente” – como você deve ter
adivinhado, eram cristãos adoradores de cobras. A fascinação com
serpentes decorria da leitura sobre a “queda” no Gênesis. Para eles, a
serpente que tentou Eva não é a vilã da história, mas a heroína. Eles
chamaram o Deus Criador do Gênesis de Ialdabaoth (Filho do Caos), que
queria governar Adão e Eva escondendo deles a “árvore do conhecimento do
bem e do mal”, a fonte da sabedoria.
Ialdabaoth era o filho de
Sophia. Ele desconhecia o fato de que havia um reino divino mais elevado
acima dele – era ignorante -, e assim arrogantemente se proclamou o
único Deus. A serpente foi usada por sua mãe Sophia para frustrar suas
ilusões de grandeza, convidando Eva a comer do fruto proibido. Assim, o
próprio Moisés exaltou a serpente no deserto, e Jesus se comparou a essa
serpente.
2. Setianismo

Os Setianos eram assim chamados porque reverenciavam Seth (também
grafado Sete ou Set em português), o terceiro filho de Adão e Eva, como o
revelador do conhecimento. Eles se consideravam a “semente de Seth”, a
parte da humanidade que tinha atingido Gnosis (conhecimento) e que,
portanto, seria salva, ao contrário do resto da humanidade, os
descendentes de Caim e Abel. Cristo e Seth eram a mesma pessoa.Setianos
são mais conhecidos por seu trabalho “Apócrifo de João” ou “Evangelho
Secreto de João”. É a obra com a mais completa visão de mundo gnóstica.
Ela começa com o inefável e incognoscível Pai Primal, a partir do qual o
primeiro poder, Pensamento (também chamado de “Barbelo”) emanou. Esta
figura feminina desempenhou um papel tão importante no mito Setiano que
os seguidores da seita também eram conhecidos como Barbeloites.
Um
outro processo de emanação de Barbelo produziu Autogenes (Autogerado) e
os anjos, incluindo Adamas, o Homem Perfeito. A emanação caçula,
Sophia, queria criar uma imagem de si mesma sem o consentimento do
Espírito invisível. Ela acabou produzindo um ser deformado, Yaldabaoth,
que se tornou Demiurgo – o Deus Criador da Bíblia. Yaldabaoth, por sua
vez, produziu os Arcontes, que criaram o primeiro homem, Adão. Os
Arcontes viram que Adão era superior que eles em inteligência, de modo
que resolveram esconder dele a Árvore do Conhecimento no Jardim do Éden.
Quando Adão e Eva desobedeceram os Arcontes, foram expulsos do Paraíso.
Yaldabaoth então seduziu Eva, e ela deu à luz a Caim e Abel.
1. Borborismo ou Fibiorismo

O único relato que temos das práticas Fibionitas (também chamadas de
Borboritas) vem dos escritos de Epifânio, grande defensor da ortodoxia
cristã. É preciso estar consciente dos possíveis exageros e calúnias do
relato tendencioso desse “caçador de hereges”. No entanto, verdadeiro ou
falso, sua descrição é muito intrigante, para não dizer escandalosa.
Epifânio
afirma que, quando era jovem, no Egito, duas meninas Fibionitas
tentaram convertê-lo (“seduzi-lo”) e fazê-lo se juntar a sua seita. Ele
rejeitou a prática, mas passou a familiarizar-se com seus escritos.
Epifânio
dá detalhes das festas Fibionitas, que começavam com homens
cumprimentando as mulheres, enquanto secretamente faziam cócegas nas
palmas de suas mãos por baixo. Este podia ser um código secreto para
alertar aos membros da presença de estranhos, ou um gesto erótico.
Depois de jantar, os casais começavam a ter relações sexuais, com
qualquer outro membro da seita. O homem, no entanto, tinha que se
retirar antes do clímax, de modo que ele e sua parceira pudessem coletar
o sêmen e ingeri-lo junto, dizendo: “Este é o corpo de Cristo”. Os
líderes da seita que já haviam atingido a perfeição podiam realizar o
rito com um membro do mesmo sexo. Havia também a masturbação sagrada, na
qual se podia tomar o corpo de Cristo na privacidade de seu quarto.
E
qual a razão deste ritual sexual? Os Fibionitas acreditavam que este
mundo estava separado do reino divino por 365 céus. Então, para chegar
ao mais alto mundo, um Fibionita redimido deveria passar por todos os
365 céus – duas vezes. Mas a crença dita que cada céu é guardado por um
Arconte, e para passar por ele, é preciso chamar o nome secreto de um
dos Arcontes durante o ato sexual. Essa crença garante que cada homem
faça sexo com uma mulher pelo menos 730 vezes.
A
liturgia do sexo também foi fundada na ideia de que os seres humanos
têm uma semente divina presa dentro do corpo físico, e deve ser liberada
para que possam voltar para os reinos mais elevados. Esta semente é
transmitida através do sêmen masculino e do sangue feminino. Permitir
que a semente se desenvolva em outro ser humano no útero da mulher é
perpetuar o ciclo de aprisionamento. Assim, o ritual de coleta de sêmen e
de sangue de menstruação e sua ingestão representa a libertação da
semente divina. [
Listverse]HScyence - Maio 2020