GOTA
Gota
é uma doença caracterizada pela elevação de ácido úrico no sangue e
surtos de artrite aguda secundários ao depósito de cristais de monourato
de sódio.
A concentração normal de ácido úrico
no sangue é até 7,0 mg/100ml. Dependendo do país estudado, pode chegar a
18% a população com ácido úrico acima de 7mg%. Entretanto, somente 20%
dos hiperuricêmicos terão gota. Ou seja, ter ácido úrico alto não é
igual a gota.
É importante detectar quem tem
ácido úrico elevado pois muitas vezes esses indivíduos têm pressão alta,
são diabéticos e têm aumento de gordura no sangue com aterosclerose e a
descoberta da hiperuricemia faz com que indiretamente sejam
diagnosticados os problemas sérios que já existiam.
Outro risco para hiperuricemia é desenvolver cálculos renais de ácido úrico ou, raramente, doença renal.
É
uma doença de homens adultos. As mulheres passarão a ter crise de gota
após a menopausa. Pode haver diagnóstico de gota em homem e mulher jovem
mas certamente são situações raras.
Como se desenvolve?
 
 
O mecanismo produtor da doença mais freqüente é a ausência congênita de um mecanismo enzimático que excreta ácido úrico pelos rins. Não havendo eliminação adequada, aumenta a concentração no sangue | |
Outro defeito enzimático, bem menos comum, produz excesso de ácido úrico. Os rins, mesmo normais, não conseguem eliminar a carga exagerada de ácido úrico e este acumula-se no sangue | |
Quando há hiperprodução há hiperexcreção renal de ácido úrico. Pode ser detectada medindo-se o ácido úrico em urina de 24 horas. Confirmando-se hiperexcreção, deve-se procurar outras causas menos comuns de hiperexcreção como policitemia vera (excesso de glóbulos vermelhos) e psoríase. Cabe ao médico orientar exames nesse sentido | |
Alguns medicamentos diminuem a excreção renal do ácido úrico. Exemplos freqüentes são diuréticos e ácido acetil salicílico em dose baixa. Se esses não devem ser retirados é preferível mantê-los e tratar a gota. Quando a causa da hiperuricemia não é enzimática fala-se em gota secundária. |
Clínica
Pacientes
gotosos podem permanecer 20 a 30 anos com ácido úrico elevado antes da
primeira crise. Em alguns casos, já houve crise de cálculo urinário.
A
crise de artrite é bastante típica: o indivíduo vai dormir bem e acorda
de madrugada com uma dor insuportável que em mais de 50% das vezes
compromete o dedo grande do pé.
Há
situações de dor tão forte que os pacientes não toleram lençol sobre a
região afetada. Pode haver febre baixa e calafrios. A crise inicial dura
3 a 10 dias e desaparece completamente. O paciente volta a levar vida
normal. Fica sem tratamento porque não foi orientado ou porque não optou
pelo que foi prescrito.
Nova crise pode voltar
em meses ou anos. A mesma articulação ou outra pode ser afetada.
Qualquer articulação pode ser atingida. As dos membros inferiores são
preferidas mas encontram-se gotosos com graves deformidades nas mãos.
Não havendo tratamento, os espaços entre as crises diminuem e sua
intensidade aumenta. Os surtos ficam mais prolongados e, mais tarde, com
tendência a envolver mais de uma articulação. Há casos em que algumas
articulações não ficam mais livres de sintomas.
Gotosos
que tiveram seu diagnóstico tardiamente e os que não se tratam têm
cristais de monourato de sódio depositados nas articulações, tendões,
bursas e cartilagens (tofos). Podem assumir volumes enormes e deformarem
gravemente as articulações.
São
muito característicos os tofos volumosos localizados nos cotovelos.
Apesar de não ser comum, quando aparecem na cartilagem do ouvido são
úteis para diagnóstico de gota.
Diagnóstico
Na
primeira crise, o diagnóstico definitivo de gota só é feito se forem
encontrados cristais de ácido úrico no líquido aspirado da articulação.
Na
ausência de líquido articular, mesmo sendo no dedo grande do pé, a
primeira crise não deve ser rotulada antes de um período de
acompanhamento pois há outras causas de inflamação neste local. Lembrar
que somente 20% dos hiperuricêmicos terão gota. Se exames e a evolução
não definirem outra doença o paciente deve ser seguido como portador de
gota.
Pode ser muito fácil quando houver uma
história clássica de monoartrite aguda muito dolorosa de repetição e
ácido úrico elevado. Esse pode estar normal na crise. Quando a suspeita
for grande, repetir a dosagem 2 semanas após. Alterações radiológicas
podem ser típicas.
Nos pacientes com doença
crônica já com deformidades e RX alterado não há dificuldades
diagnósticas mas provavelmente haverá no tratamento. Pacientes nesse
estado têm gota de difícil controle ou não se tratam.
Tratamento
Gota não cura! Mas há tratamento garantido!
Já
vimos que o ácido úrico aumenta devido a defeitos na eliminação renal
ou na sua produção. Em ambas situações os defeitos são genéticos, isto
é, são definitivos. Se não forem seguidos permanentemente dieta e, na
grande maioria das vezes, tratamento medicamentoso, o ácido úrico volta a
subir e mais cedo ou mais tarde nova crise de gota virá.
Curiosamente,
grande número de gotosos não entende ou assume o abandono do
tratamento. A conseqüência não é somente nova crise de artrite aguda
muito dolorosa mas o risco de desenvolver deformidades articulares que
poderão ser bastante incômodas. Não se justifica, atualmente, gotoso ter
novas crises e, muito menos, deformidades estabelecidas.
Crise aguda
Nunca iniciar alopurinol na crise! Se já está usando, manter na mesma dose.
Colchicina
0,5 ou 1mg de hora em hora até a crise aliviar era o tratamento ideal
até que surgissem novos antiinflamatórios não-esteróides (AINES)
potentes e com menos para-efeitos, principalmente quando usados por
prazo curto.
O esquema da colchicina foi
abandonado devido à intensa diarréia que provoca, devendo ser usado
somente nos raríssimos pacientes que têm contra-indicação absoluta a
qualquer AINE, mesmo os recentes que são muito seguros.
A
melhor combinação de medicamentos é colchicina via oral 3 a 4 vezes ao
dia e um AINE intramuscular ou endovenoso. Quando a dor diminuir, passar
para via oral. A associação de analgésicos potentes é útil, se ainda
persiste dor.
O esvaziamento de uma articulação
repleta de líquido inflamatório por punção com agulha produz grande
alívio. Injeção intra-articular de corticóide está indicada quando há
contra-indicação aos esquemas clássicos.
Colchicina
inibe a chegada de leucócitos aonde estão os cristais. Não diminue o
ácido úrico. Isto se consegue com dieta e alopurinol (Zyloric).
Somente
iniciar alopurinol após desaparecimento da inflamação. O modo de
introdução deve ser lento. Usar 100 mg por dia 10 a 20 dias e depois 200
mg por dia. Em 4 a 6 semanas, dosar novamente o ácido úrico. Se estiver
acima de 6mg% é melhor passar para 300 mg de alopurinol.
Manutenção
 
 
Dieta | |
Deve-se prescrever dieta pobre em purinas, recomendar uso restrito de bebidas alcoólicas e evitar jejum prolongado. Cada gotoso sabe "onde aperta o sapato". | |
O controle ideal da dieta deve ser feito com nutricionista. Alguns pacientes conseguem controlar o ácido úrico somente com dieta. Certamente, o defeito enzimático é menor. | |
O grande segredo da dieta é abandonar os alimentos proibidos e não fazer ingestão excessiva em curto espaço de tempo de alimentos controlados e bebidas alcoólicas. |
Medicamentos | |
A maioria vai necessitar doses variadas de alopurinol, podendo chegar-se a 600mg/dia. O uso diário de 1 comprimido de colchicina pode evitar crises. Assim, a associação dos dois medicamentos tem sido sugerida. Os pacientes que estão com ácido úrico abaixo de 5mg% provavelmente não precisarão de colchicina se continuarem dieta e alopurinol que tem sido seguro e cômodo e também ajuda a evitar cálculos renais. |
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