O CORAÇÃO E A ASPIRINA
Dados históricos sobre a aspirina
A
aspirina, usada desde 1875, é a substância salicilato de sódio derivada
da planta Salix alba, usada como antitérmico desde a Antigüidade. O chá
de Sabugueiro (Sambucus nigra), no Brasil, é usado como antitérmico e
analgésico. A aspirina obtida de fontes naturais é mais cara do que a
produzida industrialmente.
Desde a sua
descoberta e a produção industrial da aspirina, ela sempre foi usada
como analgésico e antitérmico. Ela tem ainda outras propriedades
terapêuticas, como antiinflamatório, uricosúrico e estimulante. Se
admite que a aspirina seja o estimulante mais usado em todo o mundo.
Muitas pessoas tomam a aspirina como profilático, "para não terem dor de
cabeça". Pode-se reconhecer pessoas viciadas em aspirina por terem um
modo particular de falar.
Em 1920, o laboratório
Beyer, da Alemanha que lançou a aspirina industrial no mercado,
acrescentou ao seu produto o slogan " "A Aspirina não faz mal ao
coração". Se dizia na época ser ela prejudicial ao coração. Por ironia
da história, os anos revelaram o contrário.
Por
dia, se consomem, só nos Estado Unidos, 80 milhões de comprimidos de
aspirina. A produção de aspirina no Brasil cobre 80% do seu consumo, o
restante é importado. Durante muitos anos a aspirina era oferecida no
mercado associada à cafeína visando diminuir os efeitos depressivos dela
ao coração. Ainda hoje existem no mercado muitos produtos onde a
aspirina é oferecida junto com outros medicamentos visando diminuir os
seus efeitos indesejáveis sobre o sistema digestivo. Esses produtos
geralmente são bem mais caros e não oferecem vantagens para a grande
maioria dos pacientes. A aspirina desde a sua descoberta está cercada de
opiniões divergentes quanto ao seu uso, indicações, riscos e
benefícios. Não poderia ser diferente quando se trata de sua indicação
mais recente, qual seja a de prevenir as doenças cardiovasculares:
angina, infarto, derrame, etc.
Argumentos a favor do uso da aspirina
1. Aspirina ajuda a prevenir ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais isquêmicos.
2. A aspirina é um medicamento eficaz e barato.
3.
A aspirina interfere na produção de plaquetas e assim altera o
propensão para a formação de trombos (coágulos) reduzindo os riscos de
acidentes cardiovasculares.
4. Por ano morrem
nos Estados Unidos cerca de 900.000 pessoas em decorrência de acidentes
vasculares cerebrais ou cardíacos. Calcula-se que de 5.000 até 10.000
dessas mortes poderiam ser evitadas com o uso da aspirina.
Argumentos contra o uso da aspirina
1. Os acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos são mais freqüentes quando o paciente está recebendo aspirina.
2.
As evidências sugerem que a aspirina não previne acidentes vasculares
cerebrais ou cardíacos em pacientes que não estejam acometidos de
doenças vasculares. Alguns estudos sugerem que isso não seja verdade.
3. Nenhum medicamento está isento de riscos. O uso de aspirina pode provocar problemas sérios de saúde.
4.
Pela alteração na formação de plaquetas a aspirina dificulta a formação
de coágulos. Esse fato pode provocar hemorragias, desde leves até
severas. Por esse mecanismo a formação de um trombo vascular pode ser
evitada mas em seu lugar ocorrer um sangramento que pode provocar um
acidente vascular de maior gravidade.
Os efeitos colaterais mais freqüentes da aspirina
1.
Irritação do estômago e intestino, provocando azia, dor epigátrica,
náuseas, vômitos, sangramentos internos, úlceras e perfurações graves. O
uso de bebidas alcoólicas intensifica esses efeitos, incluindo ainda
lesões no fígado.
2. Tinitus (Zumbido nos
ouvidos) e diminuição da audição, principalmente com doses maiores.
Esses efeitos tendem a diminuir com a redução das doses do medicamento.
3.
Alergias - cutâneas e respiratórias. Pode provocar asma em 0,2% das
pessoas. Em alguns pacientes provoca sangramento pulmonar.
4.
Síndrome de Reye - provocada em crianças e que, embora rara, pode ser
fatal. Particularmente na varicela a aspirina pode provocar a síndrome
de Reye.
Qual é o risco real de tomar aspirina?
O
estudo básico referente ao uso profilático de aspirina foi realizado em
22.071 médicos entre 40 e 84 anos. A metade recebeu 325 mg de aspirina
diariamente e a outra metade recebeu um placebo. Ao final de 5 anos
aconteceram 23 acidentes cerebrais hemorrágicos entre os médicos que
tomaram aspirina e 12 entre os que receberam o placebo. Estudos
posteriores confirmaram esses achados. Pelo número de médicos envolvidos
a incidência foi pequena, mas significativa por ter sido o dobro. Esse
estudo deveria se prolongar por mais anos, mas no fim dos 5 primeiros, a
incidência de acidentes vasculares cardíacos foi tão significativamente
menor entre os que recebiam a aspirina, de modo que foi considerado
antiético manter o grupo que tomava placebo afastado dos benefícios da
aspirina.
Estudos outros acumulando a
experiência em 55.462 paciente que receberam ou não aspirinas, todos
foram acompanhados durante 37 meses e a dose de aspirina variou de 75
até 413 mg por dia. Em cada 10.000 pessoas que receberam aspirina houve
137 infartos e 39 acidentes vasculares cerebrais isquêmicos a menos. No
entanto ocorreram 12 hemorragias cerebrais a mais no grupo que recebeu
aspirina. Se considerarmos um outro índice, o de sobrevida, houve 15 % a
menos de mortes entre os que receberam aspirina. Houve também 12% a
menos de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos ou embólicos nesse
grupo.
Se pesarmos os prós e os contras quanto
ao uso da aspirina ela pende a favor do seu uso. No entanto as chances
de benefício variam de pessoa para pessoa, e isso você e o seu médico
devem decidir.
Fatores que influenciam a decisão de tomar ou não tomar aspirina
1.
Pessoas jovens ou de meia idade e sem evidência de doença
cardiovascular provavelmente não se beneficiarão com o uso de aspirina e
somente serão expostas aos riscos do seu uso.
2.
O risco de acidente vascular cerebral, por exemplo num homem de 40
anos, hipertenso, mas sem outra manifestação de doença cardiovascular
existe uma chance de 0,l% ao ano de ocorrerem problemas cardíacos ou
cerebrais. Para essa pessoa, tomar aspirina representa um risco maior de
ocorrer algo do que aquele que se pretende evitar.
Conclusões
1. Não existe medicamento milagroso.
2. A aspirina é aquele que mais se aproxima desse objetivo.
3. Os benefícios da aspirina são evidentes e o custo é mínimo.
4.
O índice de complicações severas é baixo, mas existem ocorrências
fatais, e entre elas as hemorragias digestivas e perfurações de úlceras
pépticas.
5. Não deixe de escutar o seu médico se você é, ou não é, uma pessoa indicada para tomar aspirina.
(Fonte: ABC da Saúde)
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