Tratamento de água
A água é o
constituinte mais abundante da Terra e o ingrediente essencial da vida.
Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontram-se cobertos por
água. No entanto, menos de 3% do volume da água existente são de água
doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras polares e neves nas
montanhas, restando uma pequena porcentagem de águas superficiais
disponíveis para uso no planeta.
O Brasil é
um país privilegiado com relação à disponibilidade de água porque detém
53% do manancial de água doce disponível na América do Sul e possui o
maior rio do planeta, o Amazonas. Os climas equatorial, tropical e
subtropical que atuam sobre o território proporcionam elevados índices
pluviométricos. No entanto, mesmo com grande disponibilidade de recursos
hídricos, o país sofre com a escassez de água potável em algumas
regiões. A água doce disponível em território brasileiro está
irregularmente distribuída: aproximadamente, 72% dos mananciais estão
presentes na região amazônica, restando 27% na região centro-sul e
apenas 1% na região nordeste do país.
A água
consumida na Grande São Paulo vem principalmente de rios e represas. O
sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo
atualmente atende cerca de 60% da população por meio da captação de
águas superficiais de mananciais mas nas regiões mais distantes a
captação é realizada por intermédio de bombeamento de águas
subterrâneas. Grande parte do interior do Estado de São Paulo também é
abastecida por poços subterrâneos.
Tratamento
A água
deve ser tratada para eliminar qualquer tipo de contaminação e para
evitar a transmissão de doenças, tornando-a potável. O tratamento da
água é importante porque, em função do aumento da poluição e do aumento
da população, que trouxe como conseqüência o aumento do consumo, há
necessidade de remoção de contaminantes para que a água disponível possa
ser usada para consumo humano. A remoção desses contaminantes se dá por
intermédio de tratamentos específicos. O tratamento consiste em um
conjunto de procedimentos físicos e químicos para que a água fique em
condições adequadas para ser consumida. As principais etapas do processo
de tratamento convencional são as seguintes:
1.Coagulação:
Quando a água em seu estado natural (bruta) entra na ETA – Estação de
Tratamento de Água – ela recebe uma quantidade de um determinado
coagulante. Este produto tem a função de aglomerar partículas sólidas
que se encontram na água, formando flocos. Essa etapa do processo ocorre
sob agitação muito forte, chamada de mistura rápida. Nessa etapa,
quando necessário, adiciona-se um alcalinizante para correção do pH.
2.Floculação:
Nessa etapa do processo, com a água ainda em movimento mas em
velocidade menor que a etapa anterior, as partículas sólidas se
aglutinam em flocos maiores, ganhando peso, volume e consistência.
3.Decantação:
A etapa de decantação ocorre por ação da gravidade. Os flocos formados
com as impurezas se depositam e ficam sedimentados no fundo de tanques,
chamados de decantadores, separando assim as impurezas inicialmente
presentes na água.
4.Filtração:
- Após a decantação a água ainda contém impurezas que não foram
sedimentadas. Por isso, ela precisa passar por filtros constituídos por
camadas de areia ou areia e antracito, suportadas por cascalho de
diversos tamanhos. Nesta etapa, as impurezas de menor tamanho ficam
retidas no filtro.
5.Desinfecção:
A água já está limpa quando chega a esta etapa, mas ela recebe ainda
mais uma substância: o cloro, ou em alguns casos, o ozônio, que além de
desinfectante, funciona como um oxidante. Estas substâncias aplicadas na
etapa de desinfecção têm a função de eliminar microrganismos causadores
de doenças, garantindo também a qualidade da água nas redes de
distribuição e nos reservatórios. Atualmente no Brasil, para atendimento
às legislações, deve-se manter sempre um residual mínimo do
desinfectante na rede de distribuição.
6.Correção de pH:
Para proteger as canalizações das redes e das casas contra corrosão ou
incrustação, a água recebe uma dosagem de alcalinizante. Normalmente é
utilizado a cal, para corrigir seu pH.
7.Fluoretação:
- Finalmente, a água é fluoretada, em atendimento à Portaria do
Ministério da Saúde. Essa etapa consiste na aplicação de uma dosagem de
um composto de flúor (ácido fluorsilícico). Esse composto reduz a
incidência da cárie dentária, especialmente no período de formação dos
dentes, que vai da gestação até a idade de 15 anos. A aplicação do ácido
também previne a formação de cárie dentária em crianças.
O tempo de
duração do tratamento varia de acordo com a qualidade da água recebida.
Isto porque é a qualidade da água que chega à estação de tratamento que
vai determinar o tempo necessário em cada etapa do processo. A
qualidade da água que chega à população é garantida por monitoramentos
diários e freqüentes no processo de tratamento. O químico tem o papel de
manter o controle operacional do processo de tratamento de água, de
modo a garantir que todos os parâmetros regulados pela legislação sejam
atendidos.
Os produtos químicos utilizados no tratamento da água e suas finalidades são:
Oxidantes (cloro, ozônio, permanganato de potássio) - Oxidar metais (ferro e manganês) e matéria orgânica presentes na água bruta (sem tratamento).Coagulantes (sulfato de ferro e alumínio, cloreto férrico): Desestabilizar as partículas de modo que elas se combinem com as partículas de “impurezas” e formem os coágulos.Alcalinizantes (cal, carbonato de sódio) : Corrigir o pH das etapas do processo e da água final que será distribuída para a população, de modo que ela não mantenha características corrosivas ou incrustantes.Desinfectantes (cloro, ozônio, hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio): Eliminar microrganismos prejudiciais à saúde, que podem estar presentes na água.Fluoretantes (ácido fluorsilícico): Reduzir e prevenir cáries dentárias.
A partir
do momento em que a água sai do processo de tratamento, ela atende os
padrões de potabilidade exigidos pela legislação. Para garantir que está
sendo mantida a qualidade exigida até o ponto de consumo, diariamente é
realizado um monitoramento de todo o sistema de abastecimento. Todos os
dados coletados são acompanhados pela Vigilância Sanitária. Mesmo
assim, não é recomendável o consumo direto da água sem a utilização de
filtros ou outros equipamentos de purificação. É que as impurezas de
tamanho reduzido que não ficaram retidas no processo de decantação
durante o tratamento precisam passar por filtros. Por esse motivo
recomenda-se que, para o consumo humano, a água passe por esse processo
de filtração, para garantir sua potabilidade.
A importância do cloro e do flúor
Adiciona-se
gás cloro ou hipoclorito de sódio à água tratada com o objetivo de
combater a disseminação de doenças, do ponto de vista bacteriológico. A
ação do cloro ou do hipoclorito consiste na desinfecção da água e na
eliminação de microrganismos patogênicos. Os compostos de cloro usados
para o tratamento da água são: gás cloro, hipoclorito de sódio e
hipoclorito de cálcio. Mas, quantidades em excesso desses compostos
podem ser prejudiciais à saúde. Numerosos estudos mostram que quando o
cloro se mistura com substâncias orgânicas naturais podem se formar
organoclorados, chamados THMs (trihalometanos). Em estudos de
laboratório, THMs são conhecidos por danificar a glândula tireóide,
causar tumores cancerosos e afetar o sistema nervoso, fígado e rins,
além de causar distúrbios no sistema reprodutivo. Atualmente se faz o
controle de THMs através de análises de cromatografia, que são
realizadas por profissionais da química. Além dessas análises, existe um
controle constante dos resíduos de cloro, cuja frequência depende do
caso, isto é, se a água é superficial ou subterrânea.
Água da chuva e água de reúso
A água da
chuva pode ser utilizada para consumo humano, desde que seja tratada de
forma a manter os padrões determinados pela legislação. Já a água de
reúso pode ser utilizada de várias formas:
-Reúso indireto não planejado –
ocorre quando a água utilizada em alguma atividade é descarregada no
meio-ambiente e novamente utilizada de maneira não intencional e não
controlada.
-Reúso indireto planejado –
os efluentes são tratados e depois descarregados de forma planejada em
corpos superficiais de água ou subterrâneos. A água poderá ser
utilizada novamente de maneira controlada.
-Reúso planejado –
o reúso da água é resultado de uma ação humana consciente, que começa
com a descarga de efluentes. Para que o reúso seja planejado, é preciso
que o efluente seja tratado em uma estação de tratamento que atenda aos
padrões de qualidade exigidos pelo uso desejado.
- Reciclagem de água –
trata-se do reúso da água para o mesmo fim que tivera quando potável,
antes de sua descarga no sistema de tratamento ou outro local onde ficou
depositada.
Nas áreas
urbanas a água de reúso é utilizada para irrigar jardins, campos de
golfe e quadras esportivas, canteiros ao longo das ruas e estradas,
torres de resfriamento, parques e cemitérios. Ela também pode ser usada
para descarga em banheiros, na lavagem de veículos, no combate a
incêndios, em lagos e lagoas para recreação, na limpeza de tubulações e
sistemas decorativos e em muitas atividades da construção civil, como a
compactação do solo, controle da poeira, lavagem de equipamentos e na
produção de argamassa e concreto.
A água de
reúso não deve ser utilizada para se beber e nem deve ser tocada, pois
pode conter coliformes fecais. Dependendo do tipo de uso que se quer dar
à água, o tratamento deve ser mais ou menos rigoroso.
A água de
reúso não deve ser utilizada para consumo humano porque não se conhece
os riscos que pode trazer à saúde nem quais doenças pode transmitir. Mas
o reúso indireto, quando o esgoto é lançado em um rio ou lago e depois
esta água poluída é tratada, já é utilizado em muitas estações de
tratamento da Sabesp, em São Paulo. A represa de Guarapiranga, na Grande
São Paulo, é um dos exemplos de reúso para fins potáveis, pois a água
poluída da represa é tratada nas estações de tratamento e depois
distribuída à população já como água potável.
Curiosidades
Uma pessoa sobrevive apenas uma semana sem água;
-
9.400 litros de água são necessários para produzir 4 pneus de carro;
-
Todos os anos, 10 milhões de pessoas morrem no mundo todo, metade com menos de 18 anos, com doenças que não existiriam se a água fosse tratada.
Mais sobre tratamento de água:
- Animação do site da Sabesp: http://site.sabesp.com.br/uploads/file/flash/tratamento_agua.swf.- No seu site, a Sabesp também disponibiliza material didático para uso do professor em sala de aula.
Texto: Mari Menda
Ass. de Comunicação e Marketing CRQ-IV
crq4.comunica3@totalwork.com.br
Especialista consultada: Francismeire Ana dos Santos Costa
Engenheira Química, Pós-Graduada em Engenharia Sanitária Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Supervisão: Prof. Antonio Carlos Massabni
Unesp-Araraquara
Imagens sxc.hu
(Fonte: CRQ/IV)
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