quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Como Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, pretende mudar a educação no país

Como Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, pretende mudar a educação no país
Notícia disponibilizada no Portal www.cmconsultoria.com.br às 10:17 hs.
13/01/2015 - Costurar a criação da Ambev, adquirir o Burger King e a Heinz foram bons treinos. O desafio que Lemann se impôs agora é consertar o ensino público brasileiro






Jorge Paulo Lemann: urgência nos últimos três anos para deixar um legado educacional para o Brasil (Foto: Hélvio Romero/AE)

Esta matéria foi originalmente publicada na edição de agosto de 2014 de Época NEGÓCIOS
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Falar sobre a educação brasileira é repetir as mesmas reclamações feitas há décadas: limitado orçamento, professores mal pagos, conteúdos defasados, instalações públicas aos cacos e falta de interesse dos alunos, entre tantos outros. Paradas no tempo, as escolas não conseguem acompanhar a evolução pedagógica e tecnológica dos colégios privados de elite. Mesmo no universo de colégios particulares como um todo, o número de alunos ainda é restrito – são 8,6 milhões, pelas contas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A maior parte dos alunos brasileiros, mais de 41,4 milhões, frequenta cursos do ensino fundamental à universidade em instituições públicas. O número já foi maior – ao fim da década de 90, eram mais de 45 milhões. O gap de qualidade vem desengatilhando uma migração em direção ao ensino privado. De 2010 a 2013, o número de matriculados em escolas privadas subiu 14%. Não à toa, o mercado educacional privado vive um momento dourado, nos últimos anos, com a consolidação de diversas empresas menores em grandes players com ambições globais.
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[O melhor exemplo é a Kroton. Ao se fundir com a Anhanguera, em 2013, a empresa se tornou o maior grupo de educação do mundo em valor de mercado, próximo dos US$ 8 bilhões. É mais de 1,5 milhão de alunos no ensino superior, e com tanto potencial para crescer mais que suas ações são as que mais se valorizaram na bolsa de valores nos últimos dois anos e meio. Parece um contras-senso: a educação brasileira está mais rica, mas o ensino público está encolhendo.]
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Lemann não é o primeiro empresário a se preocupar com a educação. Há exemplos como a Fundação Bradesco, que atende mais de 100 mil alunos por ano em colégios próprios (só para funcionários), ou a Fundação Roberto Marinho (parte do Grupo Globo, que edita NEGÓCIOS), com conteúdo educacional pela TV que já atingiu mais de 6 milhões de alunos. Há instituições que contam com o apoio de empresários para criar modelos pedagógicos a serem disseminados pelo Brasil, como é o caso do Instituto Ayrton Senna, cujas metodologias atingem 2 milhões de alunos por ano.
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[O Bradesco calcula ter gasto R$ 4 bilhões desde o início da fundação, em 1956]
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O projeto de Lemann, porém, tem um escopo muito maior, na esteira do seu mantra de que “sonhar grande custa o mesmo que sonhar pequeno”. E o ritmo do sonho aumentou nos últimos anos. Todos os entrevistados próximos a Lemann citam a pressa do empresário para levar uma qualidade de ensino melhor ao maior número de brasileiros. Fala-se em 50 milhões de pessoas impactadas, sendo um bom naco disto de estudantes. São números audaciosos, não apenas porque a atual estatística é muito abaixo disto, mas por se tratar de um quarto de toda a população brasileira, algo que nem fundações com décadas de estrada conseguiram fazer. Os métodos são os mais diversos: plataformas de ensino adaptado, algoritmos para vestibular, aulas em vídeo, bolsas de pesquisa para educadores, formações para professores e até inserções em novelas. Além disso, Lemann tem dinheiro, tecnologia, profissionais gabaritados na área e, talvez o mais importante, a admiração de todos os setores para conseguir costurar acordos entre esferas e entidades tão distintas.

O investimento em educação é feito por diferentes institutos que conversam entre si, numa malha encabeçada por Lemann que envolve empreendedores, estudantes, executivos, professores, algumas das universidades mais respeitadas do mundo e outras fundações que tentam melhorar a educação no Brasil. São quatro os pilares com funções mais ou menos definidas: a Fundação Estudar custeia bolsas de estudo para graduação e pós-graduação e oferece treinamentos; a Fundação Lemann testa tecnologias para melhorar em massa a qualidade da educação e também distribui bolsas, mas apenas para pós-graduação; o gestor Gera Venture investe em startups e compra operações educacionais que não têm dinheiro para crescer; e o centro de estudos Lemann Center, em Stanford, na Califórnia, incentiva pesquisas sobre alguns dos principais problemas do setor no Brasil. As ações abarcam ensino básico, fundamental, vestibular, graduação, pós-graduação, concursos públicos e novos métodos de ensino. Também não é preciso estar dentro da sala de aula: tecnologias para melhorar a gestão dos colégios e formar diretores ou secretários de educação fazem parte do pacote.

Cada um dos quatro pilares segue à risca a mesma filosofia agressiva criada por Lemann para transformar empresas em apuros em queridinhas da bolsa de valores. Não é porque trabalham com algo intangível e tantas vezes subjetivo como educação que os executivos da Fundação Lemann, por exemplo, não têm metas agressivas, prazos que soam irreais – e bônus polpudos caso o trabalho seja benfeito. Nos próximos cinco anos, todas as iniciativas educacionais do projeto devem atingir mais de 30 milhões de brasileiros. Mais da metade disto será de alunos do ensino básico.

O assunto se tornou tão relevante para Lemann que ocupa parte considerável da sua atual rotina de trabalho. Sua presença é constante, mesmo que passe a maior parte do ano em sua casa na Suíça. Ele participa de reuniões de conselho das fundações, faz visitas ocasionais a startups investidas, dá palestras para bolsistas das suas duas fundações, organiza e participa de viagens para centros de excelência em educação e conecta figuras que, no seu entender, podem contribuir de alguma maneira com o projeto. “Uma coisa que ele diz muito é: ‘olha, tem um cara que se formou com algum tipo de apoio, então fala com ele’”, diz Paulo Blikstein, diretor do centro de pesquisa em educação Lemann Center, na prestigiosa Universidade Stanford, na Califórnia. Tal qual suas apostas em áreas onde não tinha tanta familiaridade no Banco Garantia (a primeira de suas investidas no mundo dos negócios), Lemann se cerca de técnicos que entendem de educação. É para eles que o empresário explica suas ideias e como enxerga a evolução da educação no país. “A grande inteligência do Jorge Paulo é que ele sabe que não é educador, mas se cerca das pessoas que mais entendem disso”, diz Blikstein.

Todas as ações da iniciativa educacional do empresário podem ser divididas em quatro grupos: a base da pirâmide; as bolsas de estudo; a pesquisa; e os investimentos.
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Para comemorar seus 75 anos, em agosto, Lemann convidou amigos como Bill Gates e Warren Buffett para um seminário de dois dias em Harvard, no qual discutiu negócios
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Denis Mizne
diretor da fundação Lemann

O advogado Mizne ajudou a fundar o Instituto Sou da Paz , em 1997. Por sugestão de uma amiga, marcou uma reunião com Lemann na esperança de conseguir dinheiro para seu projeto. Saiu de lá como novo líder da fundação (Foto: Arthur Nobre)


A base da pirâmide
A espinha dorsal é a Fundação Lemann, que se aventura pelos quatro grupos, embora gaste “90% do seu tempo” na sua missão de melhorar a qualidade da educação básica no Brasil, como afirma o diretor-geral da fundação, Denis Mizne. Em 2002, Jorge Paulo já era um executivo reconhecido e rico, ainda que estivesse longe das principais tacadas da sua carreira. A cultura de meritocracia gerida no banco Garantia já tinha virado um modelo de gestão. A fundação, então, nasce do desejo do empresário de promover uma mudança aos moldes da deixada na história da administração privada, mas na educação brasileira. “Se a educação é a melhor maneira de uma pessoa atingir seu potencial individual, para o Brasil atingir seu potencial como país a educação pública precisa funcionar”, diz Mizne. Nos primeiros anos, a fundação tinha como foco ajudar a formar diretores e traduzir livros com conceitos pedagógicos interessantes. Era uma abordagem limitada. Ao fim da primeira década, Mizne se sentou para conversar com um Lemann decidido a mudar o escopo da sua fundação.

Até então, o advogado Mizne não tinha planos de trabalhar com educação. Sua especialidade era a violência. Em 1997, fundou o Instituto Sou da Paz, responsável por uma campanha popular na década de 90 contra a violência, que usava celebridades posando com os polegares unidos em frente ao rosto de forma que as mãos imitassem uma pomba de asas abertas. Ao voltar ao Brasil, em 2010, após estudar nas universidades de Yale e Columbia, Mizne buscava investidores para viabilizar novos projetos dentro do instituto. Uma amiga lhe contou que Jorge Paulo Lemann buscava alguém para liderar a fundação que levava seu nome. “Fui lá conversar achando que ia tomar um dinheiro para o Sou da Paz”, diz ele.

Mizne é um executivo cordial e astuto, capaz de conduzir uma conversa sem perder por um minuto a atenção do interlocutor. Fisicamente, parece uma versão menos histriônica de Steve Ballmer, o ex-executivo da Microsoft conhecido pelos arroubos emocionais. Assumiu o posto cheio de ideias e recebeu um conselho inesperado de Lemann: “Arrume a casa. Deixe a gestão perfeita para crescer, mude de escritório e organize o jurídico. Nos primeiros seis meses não quero saber de ideia”. Elas viriam com o tempo, defendia Lemann. Para ter inspirações de como deveria ser seu trabalho, Mizne apelou para outra das estratégias conhecidas do empresário. Quando o Garantia comprou a Lojas Americanas, em 1982, os donos do banco, sem saber patavina sobre varejo, escreveram para um sujeito que conhecia muito o setor: Sam Walton, o mítico fundador do Walmart. Walton não só respondeu à carta como aceitou receber Sicupira e Lemann na sede da empresa, em Bentonville, nos EUA. Mizne também fez seus contatos pelo mundo. Foi visitar países como Cingapura e Coreia, ter reuniões com ministros da educação, conhecer escolas com propostas modernas e fundações de bilionários que, tal qual Lemann, vinham apostando em educação, como a Bill & Melinda Gates Foundation e a Open Society, do megainvestidor George Soros.

De volta ao Brasil, Mizne começou sua gestão com uma pegada mais Vale do Silício do que Oxford. Lemann tinha lhe deixado claro que o objetivo do impacto em larga escala só seria alcançado com a introdução da tecnologia na educação. Em vez de construir escolas ou criar métodos de ensino próprio, um software online de qualidade pode ser traduzido para o português e distribuído para milhares de escolas em segundos. Mizne mapeou e entrou em contato com diversas startups e fundações responsáveis por plataformas digitais de educação. Quando fazia sentido (o que significa dizer que tem qualidade e consegue ter escala rápido), a Fundação Lemann traduzia para o português e ajudava a disseminar. Hoje, o principal exemplo é a Khan Academy, plataforma de educação digital nascida das aulas de matemática que o americano Salman Khan dava à prima pelo YouTube. Após atrair a atenção (e milhões de dólares em doações) de gente como Bill Gates e Carlos Slim, Khan montou uma tecnologia que ensina matemática, ciências e economia, entre outras áreas, com aulas gravadas e exercícios na tela do computador. Conforme o aluno vai acertando ou errando, a tecnologia identifica as áreas que ele domina e o que ele precisa estudar mais. A dificuldade dos exercícios é determinada pelo conhecimento do aluno, e não pelo ritmo de aprendizado da classe. Por isso, mesmo dentro de uma mesma sala de aula, a Kahn Academy mostra diferentes exercícios para diferentes alunos. Para professores, a tecnologia compila um relatório com as notas e o desempenho de cada aluno.

Em 2012, a Fundação Lemann fechou acordo com a Khan Academy para traduzir e aplicar a tecnologia em escolas públicas pelo Brasil. Há dois anos, eram 210 alunos na periferia de São Paulo com aulas apenas de matemática. Hoje, são mais de 70 mil, nos estados de São Paulo, Paraná, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os colégios que aderiram contam com carrinhos com laptops que percorrem as salas onde a Khan será usada em aula. Quem compra o hardware é a escola. A fundação banca a plataforma, a formação do professor e o acompanhamento. “Hoje tem fila de escola” esperando para participar, diz Mizne. Aberta para o público em geral no começo do ano, a Khan Academy em português já atraiu mais de 700 mil usuários. Após a Khan, a Fundação Lemann foi atrás de outros projetos com escala. Em agosto de 2013, traduziu para o português dois cursos da plataforma Coursera, que agrega material de universidades como Stanford e Princeton. Com tradutores voluntários, mais 26 cursos estarão em português em setembro. Também em setembro, deve lançar o Programaê!, plataforma para ensino de programação a jovens usando conteúdos do site americano Codeacademy, da própria Khan Academy e do projeto Scratch, criado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) para crianças. Em novembro, fechou acordo com o Google para produzir um canal de conteúdo educacional para o ensino médio no YouTube chamado YouTube Edu.
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[Fica claro que a Fundação Lemann, em vez de ter uma fórmula clara, vai tateando para tentar encontrar o melhor jeito de aplicar essas tecnologias ao atual currículo escolar, com a anuência de professores e sem apelar para a falha estratégica de achar que colocar um laptop em sala de aula já resolve todo o problema.]
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Só aulas de matemática usam a Khan Academy, por exemplo. Como fazer com que a tecnologia impacte também aulas de geografia, história e português sem atrapalhar o processo de ensino? É um dos principais desafios de Mizne.



Em 278 escolas, notebooks são usados para testar como a Khan Academy se encaixa nas aulas (Foto: Arthur Nobre)
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Para fazer o meio de campo
Até pelo interesse na área, a Fundação Lemann se tornou um ponto de contato entre startups que misturam tecnologia e educação. Em algumas, a fundação investiu, como é o caso da Geekie, dona de uma tecnologia de aprendizado adaptativo. Em outras, financiou os testes da ferramenta de gestão educacional criada pela startup WPensar em escolas públicas de Niterói, como parte do concurso Start-Ed. Para outras, a fundação encomenda projetos, como é o caso da plataforma de cursos Veduca. Na primeira semana de setembro, Mizne estará à frente de uma excursão para o Vale do Silício com dez empreendedores, como Carlos Souza, da Veduca, e Claudio Sassaki, da Geekie. Na pauta, reuniões com investidores, escolas e startups semelhantes. Não é a primeira: há dois anos, Mizne liderou outra viagem para Califórnia e Nova York, desta vez com gente de outras fundações e do governo.

Em alguns casos, este apoio é decisivo na formação da empresa. Foi o que aconteceu com Thiago Feijão. No dormitório do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde estudava, Feijão criou uma plataforma para professores acompanharem o desenvolvimento dos alunos em sala de aula, chamada QMágico. Sem nenhuma experiência em educação, Feijão bateu na porta da Fundação Lemann, que financiou o teste da tecnologia em quatro escolas públicas em São José dos Campos, em 2012, com profissionais próprios destacados para acompanhá-los. A equipe ainda ajudou Feijão a definir o foco da startup e como montar a equipe. Sem este empurrão, não haveria startup, diz Feijão. Pode parecer uma estratégia para “guardar lugar” na hora de investir. Não foi o caso: quando abriu para investidores, a QMágico não captou dinheiro nem da Fundação Lemann nem do Gera.

Os exemplos mostram outra faceta da Fundação Lemann, além da de financiadora que investe em diferentes plataformas: a de agregadora. Converse com qualquer fundador de startup ou executivo de ONG do setor e todos, em algum momento, vão mencionar que já se sentaram para conversar com Mizne. No papel de articulador (facilitado pela rica agenda de telefones de Lemann), a fundação se aproxima dos reguladores por trás de políticas públicas que poderiam ajudar a resolver problemas vistos de perto nas escolas apoiadas pela fundação. Por exemplo: no papel, 84% das escolas brasileiras têm internet. Na realidade, a conexão serve, em muitos casos, apenas a funções burocráticas. “Estamos pensando no que precisamos para conseguir, em cinco anos, que todos os alunos e professores do Brasil tenham internet de altíssima velocidade”, diz. É uma meta privada, com impacto e exigência de envolvimento públicos, o que obriga a fundação a se aventurar no nem sempre amigável ambiente do governo. Como “desatadora de nós”, ela se junta à discussão e, nas palavras de Mizne, cria condições (como levantar dados e conectar profissionais de diferentes perfis) para agilizar a tomada de decisão. Outra discussão é a envolvendo a Base Nacional Comum de Educação, currículo nacional a ser cobrado dos alunos no ensino fundamental. São casos onde a tríade prazo/meta/bônus, mágica no ambiente privado, pode não ser tão eficiente.
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As viagens para os EUA organizadas pela Fundação Lemann incluem também outras ONGs de educação bancadas por empresas, como a Inspirare, da família Gradin
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Fabio Tran
codiretor da Fundação Estudar

Quando assumiu a Fundação Estudar com Rodrigo Teles, em 2013, Tran tinha o desafio de encontrar novas fontes de renda e torná-la sustentável financeiramente. “Com mais de 20 anos, a fundação virou uma startup”, diz ele (Foto: Arthur Nobre)


As bolsas de estudos
A investida educacional mais popular de Jorge Paulo Lemann são as bolsas distribuídas pela Fundação Estudar. Historicamente, a primeira vez que o empresário pagou para que um jovem no qual via potencial estudasse fora foi na década de 80, quando um sujeito chamado Carlos Brito bateu à porta do banco Garantia pedindo dinheiro para um MBA em Stanford. Tudo era feito informalmente até 1991, quando o empresário oficializou a prática ao fundar a Fundação Estudar, com Telles e Sicupira. Nos primeiros anos, a fundação ocupava uma mesa e, quando as entrevistas precisavam ser feitas, salas de reunião dentro do Garantia. Em 23 anos, a Fundação Estudar pagou pelos estudos de mais de 570 estudantes, dentro e fora do Brasil. Trata-se de um clubinho de entrada limitada. Em 2013, mais de 31 mil inscritos enfrentaram seis etapas de seleção, de provas à temida entrevista final com o conselho, até que fossem definidos os 28 bolsistas.

O hábito de pagar bolsas de estudos surgiu da dificuldade de Lemann de encontrar gente qualificada o suficiente para tocar alguns dos negócios nos quais o Garantia e o 3G se aventuravam. A ideia era custear os estudos dos executivos e aproveitá-los assim que voltassem, algo copiado até hoje por consultorias. “Naquele momento, para um brasileiro ir para o exterior era superdifícil”, diz Lemann, em vídeo, para comemorar os 20 anos do grupo. Como um banco de investimento vive de fazer negócios no Brasil, melhorar a formação de executivos era bom para o mercado e, consequentemente, para o Garantia. Não há obrigação de que os beneficiados trabalhem em algumas das empresas de Lemann. Ainda assim, ali é o destino de muitos. Basta olhar o topo do organograma de Heinz, Ambev e AB InBev: Bernardo Hees, João Castro Neves e Brito, o precursor, foram bolsistas da Estudar.
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Em 20 anos, a Fundação Estudar já deu 500 bolsas. Para Lemann, “é um número pequeno”. Há um ano, o grupo está ampliando seu alcance com cursos de preparação
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Há uma obrigação (mais moral que formal) do estudante pagar as bolsas em até oito anos. Houve calotes, mas foram poucos. A devolução do dinheiro, em parcelas, é parte de um movimento maior que implica no reembolso por parte dos bolsistas. Não à toa, duas das etapas de seleção para a Estudar envolvem os ex-bolsistas. Na primeira, eles entrevistam os candidatos. Logo depois, se reúnem para trocar impressões sobre eles e eliminar os que não acham aptos. Aí está outro dos mantras de Lemann em ação: gente boa atrai gente boa. O contato entre quem procura e quem já ganhou uma bolsa também forma uma rede de contatos que extrapola áreas de estudo, profissões e idade. Bolsistas, ex-bolsistas, empresários e membros do conselho da Fundação Estudar se encontram anualmente. Nos primeiros anos, uma sala de reuniões do Garantia era suficiente. No início do mês passado, 350 pessoas se reuniram no hotel Unique, na Zona Sul de São Paulo. Ali, conhecidos se reveem, novas relações profissionais são formadas, quem ganhou bolsa se apresenta e quem já pagou a sua diz o que tem feito d

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