Talidomida
Amaldiçoada no passado, droga vem sendo usada, com sucesso, em outras aplicações clínicas
A talidomida é uma
substância que pode ser preparada em laboratório a partir do ácido
glutâmico. Não é, portanto, um produto que existe disponível na
natureza. Essa droga foi obtida pela primeira vez em 1954 pela indústria
alemã Chemie Grünenthal. Dois anos mais tarde a talidomida já era
indicada como sedativo na Alemanha. Logo em seguida, essa droga passou a
ser usada em toda Europa, América do Sul e em países como Nova
Zelândia, Canadá e Austrália, mas não foi aprovada para uso nos Estados
Unidos.
No início de 1960 já
havia notícias de que a talidomida poderia causar neuropatias (doenças
do sistema nervoso) e defeitos genéticos em fetos. Essa deformação
genética é chamada de teratogênese. A talidomida foi, então, retirada do
mercado mundial em 1961. Ocorre que essa droga já havia sido ingerida
por milhares de mulheres grávidas no mundo todo, inclusive no Brasil,
para tratamento de mal-estar, náuseas e vômitos que ocorriam na
gravidez, principalmente no período matinal.
Como conseqüência do uso
da talidomida, começaram a nascer bebês com defeitos congênitos, com
má-formação de braços, pernas, mãos, dedos, orelhas, ouvido, nervos
faciais e rins. Mais de 12 mil bebês nasceram com esses problemas no
mundo todo, dos quais somente dois terços sobreviveram. No Brasil, mesmo
com a proibição, a droga só foi retirada do mercado em 1965, o que
provocou a ocorrência de uma 2ª geração de vítimas em nosso país.
O período crítico para a
ocorrência da teratogênese em mulheres grávidas correspondia ao
intervalo 20-36 dias após a fertilização. Outras anomalias foram
descobertas mais recentemente, entre as quais o autismo e o retardamento
mental.
Em 1965, mesmo retirada
do mercado internacional, o médico israelita Jacob Sheskin usou a
talidomida, com sucesso, como sedativo em pacientes do sexo masculino
com eritema nodoso leproso, que é uma complicação inflamatória da doença
de Hansen, também conhecida como hanseníase ou lepra. Com o uso da
talidomida, os sinais e os sintomas da hanseníase eram atenuados num
prazo de 48 horas. Apenas em 1998, a FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos aprovou o uso da talidomida para tratamento do eritema nodoso da hanseníase.
Depois dessa
impressionante descoberta, ficou confirmado que a talidomida era
eficiente para o tratamento de pacientes leprosos. Ela foi então
liberada para o tratamento de eritrema nodoso da hanseníase. Em 1970, já
havia hospitais públicos norte-americanos usando essa droga para o
tratamento da hanseníase.
As primeiras explicações
dos mecanismos de ação da talidomida nos seres humanos, no entanto, só
surgiram em 1976, junto com propostas de utilização de novas drogas
derivadas da talidomida, que deveriam ser eficientes contra a hanseníase
e não provocassem defeitos em fetos. Assim, ocorreu um renovado
interesse por essa droga que havia sido tão amaldiçoada no passado.
Em 1990 havia uma grande
procura pela talidomida nos Estados Unidos para o tratamento de
pacientes com AIDS e a droga, por ser não ser autorizada para este fim,
passou a ser importada ilegalmente pelo público. Nessa época, já se
percebeu que a talidomida apresentava propriedades imunomoduladoras e
anti-inflamatórias. Os imunomoduladores são substâncias naturais ou
sintéticas que ajudam a regular ou normalizar o sistema imunológico. Os
mecanismos pelos quais a talidomida atenua os problemas dermatológicos
não são ainda bem conhecidos, mas o controle da modulação da reação
imune parece desempenhar um papel importante na sua ação.
A talidomida foi usada
com muito sucesso de 1988 a 1992 como imunossupressora para evitar
rejeição no tratamento de pacientes submetidos a transplante de medula
ou de rim. A partir de 1993, também passou a ser empregada no tratamento
da artrite reumatóide, de eritematoses cutâneas do lupus, da
tuberculose crônica e das doenças de Becet e de Crohn. A droga se
mostrou eficiente no tratamento de úlceras aftosas e do estado de
depressão profunda que ocorrem nos aidéticos.
No Brasil, a talidomida foi fortemente retirada de circulação somente em 1964. Em 1994, foi publicada a portaria nº 63, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, proibindo o uso da talidomida por mulheres em idade fértil. Em 1997, foi publicada a portaria nº 354, do Ministério da Saúde, que regulamenta o registro, a produção, a fabricação, a comercialização, a prescrição e a dispensação de produtos à base de talidomida, aplicados no tratamento de complicações de doenças como Aids, lúpus, mieloma múltiplo e hanseníase. Também nestes casos, o uso de tais produtos é proibido para mulheres em idade fértil.
No Brasil, a talidomida foi fortemente retirada de circulação somente em 1964. Em 1994, foi publicada a portaria nº 63, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, proibindo o uso da talidomida por mulheres em idade fértil. Em 1997, foi publicada a portaria nº 354, do Ministério da Saúde, que regulamenta o registro, a produção, a fabricação, a comercialização, a prescrição e a dispensação de produtos à base de talidomida, aplicados no tratamento de complicações de doenças como Aids, lúpus, mieloma múltiplo e hanseníase. Também nestes casos, o uso de tais produtos é proibido para mulheres em idade fértil.
O interesse por essa
droga se intensificou nos últimos anos. As investigações clínicas se
voltaram para pacientes com vários tipos de doenças, incluindo-se os
problemas relacionados às infecções causadas pelo vírus da AIDS. Essa
droga foi usada no tratamento do sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer de
pele frequente em pacientes com AIDS.Verificou-se, ainda, que ela inibe
a replicação do vírus do tipo HIV-1, in vitro, e é eficiente no
tratamento de infecção primária provocada pelo vírus HIV. São recentes
também os estudos para o uso da talidomida como agente que impede o
aparecimento de tumores, aproveitando-se a propriedade teratogênica da
droga. Há trabalhos da literatura que demonstram a eficiência da
talidomida em pacientes com mieloma e outros tipos de câncer e no
tratamento da meningite bacteriana.
Assim, a talidomida que
foi uma droga acusada de causar monstruosidades no passado, tem agora
funções imunomoduladoras e anti-inflamatórias que estão sendo empregadas
no tratamento de AIDS e de câncer.
A molécula da talidomida
|
|
|
|
Fórmula estrutural simplificada
|
|
Nome comercial: talidomida
Nome oficial: 2-(2,6-dioxo-3-piperidinil)-1H-isoindol-1,3(2H)-diona
ou 2-ftalimidogluterimida
Fórmula empírica: C13H10N2O4
Massa molecular: 258,2 g/mol
Isomeria óptica: a molécula possui 2 isômeros ópticos (enantiômeros) porque contém um carbono assimétrico (carbono ligado ao nitrogênio, ligação C-N que une os anéis).
Nome oficial: 2-(2,6-dioxo-3-piperidinil)-1H-isoindol-1,3(2H)-diona
ou 2-ftalimidogluterimida
Fórmula empírica: C13H10N2O4
Massa molecular: 258,2 g/mol
Isomeria óptica: a molécula possui 2 isômeros ópticos (enantiômeros) porque contém um carbono assimétrico (carbono ligado ao nitrogênio, ligação C-N que une os anéis).
Em
abril de 2010, cientistas japoneses anunciaram terem desvendado como a
talidomida interfere no desenvolvimento de fetos e provoca malformação. O
estudo mostrou como a talidomida liga-se a uma enzima chamada cereblon,
muito importante nos dois primeiros meses do feto para o
desenvolvimento dos membros. A ligação torna inativa a enzima, o que
provoca a malformação.
Segundo
os pesquisadores, a descoberta possibilitará o desenvolvimento de
alternativas seguras ao medicamento que mantenham eficácia terapêutica,
mas sem efeitos adversos.
. |
|
|
Antonio Carlos Massabni
Prof. Titular Aposentado - Instituto de Química/Unesp e-mail: amassabni@uol.com.br
(Fonte:CRQ/IV)
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário