Hiroshima
Hiroshima
Após anos da catástrofe, a história das primeiras bombas atômicas, as razões do lançamento e os horrores causados
À espera de “Litte Boy”
Hiroshima, 6 de agosto de 1945.
Iníco de mais um dia de incerteza na cidade cortada pelo rio Ota.
Programas de evacuação já haviam reduzido o número de habitantes da
cidade de 380 mil para cerca de 245 mil.
Em
poucas horas, o local será cenário da tragédia que marcará para sempre a
História. O bombardeiro americano Enola Gay está voando para lá
carregando “Little Boy” (Garotinho), primeira bomba
atômica a ser despejada sobre seres humanos.
Embora a
Segunda Guerra estivesse terminada para a Alemanha e para a Itália
desde o início de maio, o Japão ainda resistia como representante das
forças do Eixo. Cerca de 30 milhões de pessoas
já haviam morrido na Europa, a maioria delas em campos de concentração
nazistas.
O apocalipse
Às 8h15, (horário japonês), “Little
Boy” cai sobre Hiroshima. A bomba atômica de urânio, de 3,2m de
comprimento, 74 cm de diâmetro e 4,3 toneladas explode 576 metros acima
do Hospital Cirúrgico de Shima. A detonação equivale
a 12,5 mil toneladas de TNT. No raio de um quilômetro, todo ser humano
que se encontrava em local aberto morreu instantaneamente ou dentro de
poucos minutos. O calor chegou a tal violência que a quinhentos metros
do centro da explosão os rostos foram atingidos
a ponto de ficarem irreconhecíveis.
Em segundos, 70 mil mortos
Somente nos 20 primeiros segundos
morreram 70 mil pessoas, número que chegaria a 210 mil nas semanas
seguintes. Quem foi salvo atribui o fato ao acaso – um passo dado a
tempo, uma decisão de entrar em casa. Os sobreviventes
não sabiam sequer o que havia atingido a cidade. E por muito tempo não
saberiam.
Na
época com 10 anos, Takashi Yamamoto viveu o drama de perder tudo o que
tinha: “Havia uma enorme nuvem de cogumelo no ar. Eu não esquecerei o
que aconteceu hoje. Perdi minha casa, meus amigos,
meu pai e meu irmão. Perdi minha cidade”.
Sem socorro
Aterrorizadas com a explosão, as
pessoas correram para os hospitais semidestruídos onde o único
tratamento possível era tentar fazer parar o sangramento. A explosão
acabou com 18 hospitais e 32 postos de pronto-socorro. Entre
os médicos, 90% foram mortos ou gravemente feridos, assim como a
maioria das enfermeiras.
Na memória e na pele
Raios de calor entre 3 mil a 4 mil
graus Celsius provocaram queimaduras e ferimentos internos nas pessoas,
fora incêndios que se espalharam por quilômetros. As queimaduras fizeram
a pele cair em tiras deixando à vista a carne
sangrenta. Muitos tiveram vontade de pular no Rio Ota, que cruza a
cidade, para aliviar o calor, como Futaba Kitayama, com 33 anos na
época. Ela estava a 1,7 quilômetro do centro da explosão:
–
Centenas de pessoas estavam se contorcendo na correnteza. Elas
levantavam as mãos para o alto enquanto corriam para o rio. Eu senti a
mesma necessidade porque sentia dor em todo o meu corpo,
exposto a uma onda de calor que queimou minhas calças. Estava para
pular na água quando lembrei que não sabia nadar.
Os raios térmicos emitidos pela
bomba reproduziram nas costas desta mulher o desenho do quimono que ela
usava na hora da explosão.
Herança maldita
Nêutrons e raios gamas lançados pela
reação química que a explosão liberou destruíram células humanas.
Partículas também atingiram o solo e a água Uma chuva preta, oleosa e
pesada caiu ao longo do dia. Ela continha grande
quantidade de poeira radioativa, contaminando áreas mais distantes do
centro da explosão
Exposta
a tantos fatores de risco, a maioria dos sobreviventes sofreu seqüelas
para sempre. Além de deformações físicas permanentes (foto acima),
moléstias de longo prazo, como o câncer, assolaram
os moradores de Hiroshima e provocaram perda de cabelo (foto abaixo).
Até
hoje, os sobreviventes sofrem com os males da bomba. Atualmente com 82
anos, Masakazu Saito estava a 1,6 quilômetro do centro da explosão.
Apesar de ter visto cerca de 200 amigos, parentes
e conhecidos morrerem de câncer, ele não foi vítima da doença.
No
entanto, ainda sente dores. “Ainda tenho pedaços de vidro incrustados no
meu corpo. Quando o tempo muda, fico ruim. Tenho náusea, dor de cabeça e
fadiga”, queixa-se. Ele mora hoje nos Estados
Unidos.
Como tudo começou
A tragédia nuclear de Hiroshima
começou a se desenhar antes mesmo da Segunda Guerra. Em 1938, com a
descoberta pelo cientista alemão Otto Hahn da fissão nuclear, método de
liberação de energia atômica, os nazistas saíram
na frente na corrida armamentista. O medo de que a primeira arma de
destruição em massa ficasse nas mãos deles provocou reações no meio
acadêmico de diversos países.
Então
os cientistas húngaros Leo Szilard, Eugene Wigner e Edward Teller
convenceram o físico Albert Einstein (na foto com Szilard), erradicado
nos Estados Unidos desde 1930, a assinar uma carta
que tinham escrito para o presidente Franklin Roosevelt. No documento,
Einstein pede para que os Estados Unidos apressem o desenvolvimento da
pesquisa nuclear.
Roosevelt dá o ok
A iniciativa de Einstein foi
bem-sucedida. Em 10 de dezembro de 1939, Roosevelt (acima) autorizou o
governo a custear a pesquisa atômica através do Comitê Consultivo do
Urânio. Uma equipe da Universidade de Columbia ficou
a cargo de desenvolver o programa nuclear americano. Depois, as
experiências foram transferidas para a Universidade de Chicago.
Nasce o Projeto Manhattan
O ataque japonês à base americana de
Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, deixou 2.403 mortos e
precipitou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Na
época, a produção de uma bomba de urânio era
discutida havia pelo menos seis meses, com a intensificação dos rumores
de que os alemães estavam desenvolvendo a arma.
Embora
muitos cientistas considerassem o assunto mera ficção, o assessor
científico do presidente americano, Vannevar Bush, recomendou a criação
do Projeto Manhattan, versão militar das experiências
na Universidade de Chicago. O programa nasceu em outubro de 1941, mas
só ganhou impulso a partir do ataque a Pearl Harbor.
Para o bem, para o mal
Sob o comando do físico italiano
Enrico Fermi, que havia emigrado para os Estados Unidos, uma equipe de
cerca de 15 cientistas da Universidade de Chicago produziu a primeira
reação nuclear em cadeia controlada em 2 de dezembro
de 1942. Com fins civis, a pesquisa abriu caminho para avanços na
geração elétrica e na medicina, mas também foi aproveitada pelo Projeto
Manhattan na produção das bombas atômicas.
Acima, a bateria atômica onde a equipe de Fermi conduziu as experiências.
O físico e o general
No início de 1943, surgiu em Los
Alamos, deserto do estado americano do Novo México, a primeira
comunidade de cientistas dedicada a estudar a construção da bomba
nuclear. Liderado pelo físico Robert Oppenheimer (direita),
filho de imigrantes alemães, e pelo general Leslie Groves (esquerda), o
Projeto Manhattan nasceu com o desafio de ser sigiloso e, ao mesmo
tempo, capaz de produzir a arma o mais rápido possível.
Nem o Congresso soube
Vista aérea do complexo de Los
Alamos. O Projeto Manhattan era, de fato, muito amplo. Ao lado de várias
centenas de cientistas, mais de meio milhão de pessoas trabalhou de uma
ou de outra maneira para o projeto até 1945.
No auge dos trabalhos, em julho de 1944, 160 mil pessoas estavam
diretamente envolvidas com o projeto. A maioria, sem saber o que estava
fazendo. Os cientistas só podiam telefonar para fora com autorização.
O que
ali se tramava foi mantido em segredo. Ninguém fez ligação direta entre
as instalações de produção, distantes umas das outras. Nem o Congresso
soube do projeto. Por meio de truques no orçamento,
as verbas foram ampliadas. Os gastos, inicialmente estimados em US$ 133
milhões, chegaram a US$ 1,8 bilhão no final da guerra, o que dá pelo
menos US$ 20 bilhões em valores de hoje.
Enquanto isso…
O navio USS Pennsylvania,
acompanhado de três cruzadores e um navio de batalha, chega a Luzon,
litoral das Filipinas, em janeiro de 1945. Mesmo sem a bomba, a luta
contra os japoneses começa a se inverter a favor dos aliados.
Depois de vencer as batalhas navais de Midway e Guadalcanal, em 1942,
as forças norte-americanas partem para a reconquista da Ásia.
No
Pacífico central, conquistam as ilhas Aleutas, Gilbert, Marshall e
Marianas entre maio de 1943 e março de 1944, e as Filipinas entre
outubro de 1944 e fevereiro de 1945. O império nipônico,
que chegou a ocupar quase todo o sudeste asiático em 1942, aos poucos
fica confinados às próprias ilhas japonesas, alvos de pesados
bombardeios.
Caro demais
Em 19 de fevereiro de 1945, ocorre o
primeiro desembarque norte-americano em território japonês, na Ilha de
Iwojima. A ilha é conquistada no final de março com saldo de 6.891
americanos e 20 mil japoneses mortos. Mesmo com
menos baixas, os americanos consideram a operação dispendiosa.
Fortalece-se a idéia de quebrar a resistência japonesa com a bomba
atômica
Sob Tóquio, 334 aviões
Pilotos americanos recebem
instruções antes de bombardear alvos japoneses. Numa tentativa de
pressionar a rendição dos japoneses, a Força Aérea Americana ataca as
maiores cidades do Japão. Em 9 de março de 1945, 334 aviões
B-29 bombardeiam Tóquio, matando 100 mil pessoas em uma única noite. A
ofensiva continua por dez dias e estende-se a Nagóia, Osaka e Kobe. Na
ótica dos americanos, o lançamento da bomba atômica seria uma operação
menos dispendiosa e apressaria o fim da guerra.
Sem sentido
Com a morte de Roosevelt, em 12 de
abril de 1945, o vice Harry Truman (foto) assume a Presidência dos
Estados Unidos enfrentando o desânimo dos cientistas do Projeto
Manhattan, que sabiam das intenções do governo americano
de atacar o Japão.
A
preocupação deles, ou de uma parte deles, só fez aumentar depois da
rendição dos alemães em 8 de maio. Com a morte de Hitler, os cientistas
achavam que a construção da bomba perdera o sentido.
Em 11
de junho de 1945, um grupo de cientistas firmou um abaixo-assinado,
conhecido como Frank Report, pedindo que a bomba fosse testada na
presença de observadores internacionais. O governo rejeitou
a idéia e manteve o sigilo do programa.
Mais brilhante que o Sol
Na madrugada chuvosa de 16 de julho
de 1945, a noite virou dia no deserto do estado americano do Novo
México. Ali, numa área de testes de bombardeios do exército americano
chamada Trinity, ocorreu a primeira explosão nuclear
da História.
Com
carga equivalente a 18 mil toneladas de dinamite, a bomba produziu uma
luz vinte vezes mais brilhante que a do Sol. A luz chegou a ser vista em
cinco estados vizinhos.
Ouvida a
mais de 300 quilômetros de distância, a explosão abriu uma cratera de
400 metros de diâmetro em um milionésimo de segundo. Dentro dela, surgiu
um material verde e transparente, resultante
da fundição dos minerais. A substância foi chamada trinitita, em
referência ao ponto do deserto onde ocorreu a explosão.
A encarnação da morte
Horas depois da explosão, o
cientista Robert Oppenheimer (à esquerda), um dos chefes do Projeto
Manhattan, inspecionou o local e exclamou: “Tornei-me a Morte, a
Destruidora dos Mundos.”
Depois
da guerra, Oppenheimer continuou a desenvolver o projeto nuclear
americano, mas foi excluído dele em 1954 por ter manifestado “restrições
morais” às pesquisas da bomba de hidrogênio.
Só em
1962 foi reabilitado pelo então presidente John Kennedy. O cientista
morreu em 1967, aos 62 anos, reconhecido pelo seu engajamento no
programa atômico.
Stalin não entendeu
No dia do teste no Novo México, o
presidente americano, Harry Truman, participava da Conferência de
Potsdam (na Alemanha), que dividiu a Europa em dois blocos de países –
um capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o
outro socialista, liderado pela União Soviética. No verso de uma foto
do encontro, ele confirma que se vangloriou da bomba atômica em conversa
com Stalin, o ditador russo. Na anotação, escrita a mão pelo próprio
Truman, lê-se: “Este é o lugar onde eu contei
a Stalin sobre a bomba atômica que explodiu em 16 de julho de 1945. Ele
não entendeu o que eu estava falando”.
Stalin
só entendeu quando as bombas arrasaram Hiroshima e Nagazaki, inaugurando
a era nuclear e estimulando a competição armamentista entre os Estados
Unidos e a União Soviética.
Nem MacArthur sabia
Em 29 de julho de 1945, o Japão
recusou a última proposta de rendição incondicional por parte dos
americanos e recebeu um duro recado: “A alternativa é a imediata e total
destruição”. Em seguida, o general Douglas MacArthur
(foto), comandante das forças americanas na Ásia, começou a reunir as
tropas para a invasão que acarretaria a conquista final no Pacífico.
MacArthur,
que possuía 250 mil homens nas Filipinas, planejava mobilizar outros
500 mil nas Ilhas Ryukyu, ao sul do Japão. O plano era invadir o Japão
em 1º de novembro e ocupá-lo com o auxílio
de tropas britânicas, australianas e canadenses até março. MacArthur
nem sabia, mas o fim da guerra estava mais próximo do que ele supunha.
Com destino a Tinian
Enquanto a bomba ainda era testada
no Novo México, os artefatos que cairiam sobre Hiroshima (esquerda) e
Nagasaki (direita) eram secretamente despachados de navio. Carregada de
urânio, a bomba lançada em Hiroshima foi apelidada
de “Little Boy” (Garotinho). A usada em Nagasaki, feita de plutônio,
ganhou o nome de “Fat Man” (Homem Gordo), em homenagem ao então primeiro
ministro britânico Winston Churchill.
O
destino do navio com as duas bombas era a pequena e inóspita ilha de
Tinian, no Arquipélago das Marianas (meio do Pacífico). Lá, o 509º
Grupamento Aéreo dos Estados Unidos, desde o final de
abril, aguardava a ordem para bombardear o Japão. Estava tudo pronto
para a missão que poria fim a seis anos de guerra.
Em homenagem à mãe
Experiente piloto com missões de
bombardeio sobre a Alemanha, o coronel Paul Tibbets Jr, então com 30
anos, foi o escolhido para lançar a bomba sobre Hiroshima. Comandante do
509º Grupamento Aéreo dos Estados Unidos, desde
fevereiro de 1945 preparava-se para a missão.
Para
realizá-la, Tibbets escolheu pessoalmente um gigantesco quadrimotor B-29
que ganhou o nome de Enola Gay, em homenagem à mãe dele. Desde o final
de abril, o comandante aguardava, na pequena
ilha de Tinian, no Arquipélago das Marianas (meio do Pacífico), a ordem
para bombardear o Japão.
Dos 1,5
mil membros do esquadrão, Tibbets era o único a saber para que estava
sendo treinado. Os demais membros da tripulação que acompanhou o piloto
apenas tinham recebido instruções vagas sobre
o que fariam. Vivo até hoje, com 90 anos, Tibbets acredita ter feito o
necessário para acabar com a guerra e não se arrepende de ter matado 119
mil pessoas no ataque.
O dia D (da destruição)
Dia 6 de agosto de 1945. À 1h45 da
madrugada (horário japonês), o Enola Gay decola rumo a Hiroshima com 11
tripulantes e a primeira bomba nuclear a ser lançada sobre uma população
civil. Havia na cidade basicamente homens
velhos, mulheres e crianças. Homens com idade e capacidade para lutar
estavam engajados na guerra fora de Hiroshima.
A rota do Enola Gay
Na frente do Enola Gay, três aviões
avaliavam as condições meteorológicas para o ataque. Atrás, mais dois
transportavam cientistas e observadores. A duração do vôo variou
conforme o avião, mas o Enola Gay demorou sete horas
para chegar ao seu destino.
O juízo final
Depois da explosão, cerca de 92% dos
edifícios e das casas de Hiroshima jaziam destruídos num raio de quatro
quilômetros. Uma bola de fogo, cuja temperatura no núcleo é de pelo
menos 200 mil °C, cria uma sucessão de ondas
de abalos. Ventos de até 965 km/h sugam a poeira para cima e criam uma
nuvem em forma de cogumelo, que cai sob a forma de chuva radioativa nos
arredores da cidade.
Para que jamais se esqueça
Construção mais próxima do centro da
explosão a ficar de pé depois do bombardeio, o antigo palácio de
exposições da prefeitura de Hiroshima foi conservado até hoje no mesmo
estado de destruição para lembrar os horrores da
tragédia nuclear. Rebatizado de “Cúpula da Bomba Atômica”, o prédio é
considerado pela Unesco como patrimônio cultural mundial e um monumento
pela paz.
“O maior evento da História”
De volta da Conferência de Potsdam, o
presidente americano, Harry Truman (à direita) recebe a notícia do
bombardeio de Hiroshima em 7 de agosto no navio USS Augusta. Dois dias
antes, do próprio navio, ele havia ordenado o
ataque. O secretário de Estado, James Byrnes (à esquerda), foi um dos
principais defensores do uso da bomba para apressar o fim da guerra.
“É o
maior evento de toda a História”, disse Truman ao saber do bombardeio.
No entanto, também lhe atribuíram a seguinte frase, nunca confirmada
pela Casa Branca: “Rapazes, nós lhe atiramos
no côco um tijolo equivalente a 20 mil toneladas de TNT”.
A segunda bomba
Como o Japão não se rendeu depois do
ataque a Hiroshima, os Estados Unidos decidiram usar a outra bomba de
que dispunham. A decisão foi tomada no dia 7 de agosto, na base
americana de Guam. Para passar a impressão de que
o país tinha grande suplemento de bombas, o ataque tinha de ser
imediato.
Originalmente
programada para 11 de agosto, a missão foi antecipada em dois dias por
causa das condições do tempo. O tenente Charles Sweeney (de pé, o
primeiro à direita) partiu para o Japão às
2h49 (horário japonês) do dia 9 de agosto no avião Bockscar. Morto em
julho do ano passado, aos 85 anos, Sweeney dizia que a operação havia
sido necessária, mas esperava que a bomba nunca mais fosse usada.
Novamente o juízo final
Às 11h02 de 9 de agosto (horário
japonês), o cogumelo incandescente expandiu-se nos céus de Nagasaki. O
plano era lançar o artefato de plutônio, apelidado de “Fat Man”, na
cidade de Kokura, ao norte. No entanto, problemas
na bomba de combustível do Bockscar e a atividade japonesa antiaérea
pesada fizeram os americanos optar pelo alvo secundário, Nagasaki.
Com
carga equivalente a 22 mil toneladas de TNT, a bomba, de 3,25 m de
comprimento, 1,25 m de diâmetro e 4,5 toneladas, foi detonada a 503
metros do chão. Às 12h, o avião pouou na ilha de Okinawa
(ao sul do Japão) com um dos motores sem funcionar por falta de
combustível.
Na hora, 70 mil mortos
Na paisagem de Nagasaki, apenas uma
parede da Catedral de Urakami resistiu ao bombardeio. Apesar de a
segunda bomba ser mais poderosa que a primeira, a topografia da cidade,
encravada numa baía cercada de montanhas, impediu
que a destruição fosse maior. Apenas 6,7 quilômetros quadrados foram
reduzidos a cinzas contra 13 quilômetros em Hiroshima. Na hora da
explosão, morreram 70 mil pessoas, número que dobrou nas semanas
seguintes.
Em cena, o Exército vermelho
Na véspera de Nagasaki ser
bombardeada, a União Soviética, cumprindo acordo com os americanos,
declarou guerra ao Japão. A superioridade do Exército Vermelho era
brutal: 1,2 milhão de soldados, 3,9 mil aeronaves e 5,5 mil
tanques contra 780 mil soldados, mil aeronaves e 1.155 tanques do
exército japonês.
Em
poucas semanas, os soviéticos retomaram a Manchúria (região ao norte da
China, foto) e parte da Coréia, que depois se transformaria na Coréia do
Norte. O Japão também perdeu para os russos
as ilhas Kurilas, cuja posse até hoje reivindica.
Para deter o extermínio
Japoneses detidos na base militar
americana de Guam, no Pacífico, se curvam ao saber da rendição
incondicional do país anunciada em 14 de agosto. Justificando a derrota,
o imperador Hiroíto afirmou:
– O
inimigo começou a lançar uma nova e aterrorizante bomba, capaz de matar
muitas pessoas inocentes e cujo poder de destruição é inestimável. Se
continuássemos a lutar, isto significaria não
apenas o fim da Nação japonesa, mas também levaria ao extermínio
completo da civilização humana.
O dia da rendição
Em 2 de setembro de 1945, ocorreu a
cerimônia oficial de rendição. A bordo do encouraçado USS Missouri,
atracado na Baía de Tóquio, o ministro japonês dos Negócios
Estrangeiros, Mamoru Shigemitsu (foto acima, sentado) e o
comandante das forças americanas no Pacífico, general Douglas MacArthur
(foto abaixo), assinam os papéis da capitulação.
Primeiro
estrangeiro a controlar o Japão em mil anos, MacArthur mantém o
Imperador Hiroíto no poder e adota a monarquia constitucional, com
sistema parlamentarista semelhante ao britânico.
As maiores vítimas
Depois de 2.195 dias, duas tragédias
nucleares puseram fim à maior guerra que o mundo testemunhou. Em meio
aos sobreviventes, crianças como a da foto, que chora a perda dos pais
logo após o bombardeio em Hiroshima, foram
as maiores vítimas. Só em Hiroshima morreram cerca de 40 mil.
Estima-se que de 2 mil a 6 mil
crianças tenham ficado órfãs em Hiroshima. Com 7 anos no dia 6 de agosto
de 1945, Sueko Hada (foto acima) morava a 800 metros do local da
explosão da bomba. Ela vagou pelos destroços da cidade
durante dias até descobrir, por meio de um professor da escola onde
estudava, que tinha perdido os pais e as quatro irmãs mais velhas.
Criada por parentes, Sueko casou-se adolescente e, durante muitos anos, ocultou o seu drama pessoal por causa do preconceito:
– Não
era respeitável ser órfã. Muitos japoneses acreditavam que as pessoas
expostas à radiação atômica tinham uma doença contagiosa. Conheço muitos
outros sobreviventes que esconderam o passado
dos vizinhos e dos amigos.
(Fonte>mail.google.com - Ago/17)
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