O câncer é a segunda maior causa de morte nos Estados Unidos, e espera-se
que no século 21 ele já seja a principal.
Aproximadamente 1,2 milhões
de novos casos de tumores invasivos são diagnosticados por ano, nos
Estados Unidos. Os motivos que levam ao crescimento da incidência do
câncer são o aumento da expectativa de vida da população em geral,
associada a maior exposição a fatores de risco. O tipo
de câncer que mais cresce é o de pulmão, principalmente devido à
propagação do hábito de fumar, há 40 anos atrás.
Vários
fatores podem causar ou contribuir diretamente para uma seqüência de
eventos que
levem a um meio do câncer se desenvolver. O caminho final comum dos
cânceres é alguma alteração genética, que converte uma célula bem
constituída, participante do corpo como um todo, numa outra, "renegada",
destrutiva, que não responde mais a comandos de uma
comunidade de células.
Promotores
(oncogenes) e supressores têm um papel central em muitos casos.
Substâncias
químicas como o benzeno, nitrosaminas, agentes físicos, como radiação
gama e ultravioleta, e agentes biológicos, como alguns tipos de vírus,
contribuem para a carcinogênese em algumas circunstâncias.
O
agente carcinogênico mais importante para a população em geral é o
tabaco, pois ele causa
ou contribui para o desenvolvimento de aproximadamente um terço de
todos os cânceres, principalmente em pulmão, esôfago, bexiga e cabeça e
pescoço.
O câncer relacionado ao tabaco é também importante devido a
sua óbvia, barata e 100 % eficaz prevenção, que é a abstenção.
Quando a prevenção do câncer não é possível, a detecção precoce é a melhor estratégia para
reduzir a mortalidade. Campanhas de esclarecimento da população, e também de profissionais de
saúde são feitas nesse sentido. Infelizmente, no Brasil são bastante
falhas.
A
oncologia, nos últimos anos, tornou-se uma complexa e interessante
disciplina que conta
com o auxílio de outras especialidades, como cirurgia, pediatria,
patologia, radiologia, psiquiatria e outras, que faz do sucesso um
mérito das ações multidisciplinares. Há três passos principais na
oncologia, para o bem do paciente.
O
primeiro objetivo trata de curar os pacientes, para devolvê-los a um
lugar na sociedade.
Deve ser tentado em todos os tipos de câncer, mesmo naqueles em que a
chance de cura é pequena. Requer uma atitude de esperança e determinação
para se derrotar dificuldades e perigos, e às vezes para se enfrentar
insucessos.
Se mesmo assim a cura não é possível, o médico deve apontar ao segundo objetivo, que seria
uma longa e satisfatória remissão da doença, deixando o paciente bem consigo mesmo pelo maior
tempo
possível, longe de efeitos de uma longa hospitalização. Quando
a chance de remissão é remota, o objetivo passa a ser controlar a
doença e seus sintomas pelo uso correto de terapêutica paliativa.
O
objetivo final visa apenas o conforto do paciente, e não apenas o
prolongamento de uma
vida sofrida. O médico deve ajudar o paciente a manter a sua dignidade,
entender sua fraqueza, e evitar sentimentos de frustração, animosidade
ou até excessiva amizade, para desenvolver o bom julgamento para o
interesse do paciente. O principal é sensibilidade
e bom senso.
RADIOTERAPIA:
é
o mais utilizado para tumores localizados que não podem ser ressecados
totalmente, ou
para tumores que costumam rescidivar localmente após a cirurgia. Tem
sérios efeitos colaterais, principalmente por lesão de tecidos normais
adjacentes ao tumor. A quantidade de radiação utilizada depende do tipo
de tumor, e é medida em
rads.
QUIMIOTERAPIA:
Foi
o primeiro tratamento sistêmico para o câncer. Na maioria da vezes
consiste em uma
associação de drogas, pouco eficazes se utilizadas sozinhas, pois nos
tumores há subpopulações de células com sensibilidade diferente às
drogas antineoplasicas. Os mecanismos de ação das drogas são diferentes,
mas sempre acabam em lesão de DNA celular. A toxicidade
contra células normais é a causa dos efeitos colaterais (náuseas,
vômitos, mielossupressão). Pode ser usada como tratamento principal
(leucemias, linfomas, câncer de testículo), mas normalmente é adjuvante,
após tratamento cirúrgico ou radioterápico.
TERAPIA BIOLÓGICA:
Usa-se
modificadores da resposta biológica do corpo frente ao câncer,
"ajudando-o" a combater
a doença (linfoquinas, anticorpos monoclonais). Usa-se também drogas
que melhoram a diferenciação das células tumorais, tornando-as de mais
fácil controle. Este tipo de tratamento, em estudo, é o mais promissor
para o futuro.
O
sucesso da terapia contra o câncer depende da escolha da combinação de
dois ou mais modalidades
de tratamento, necessitando muito a cooperação entre especialidades.
Suporte geral também é muito importante, incluindo controle de
distúrbios metabólicos, infecciosos, cardiopulmonares, freqüentes nos
pacientes submetidos a tratamentos agressivos.
O
câncer é fundamentalmente uma doença genética. Quando o processo
neoplásico se instala,
a célula-mãe transmite às células filhas a característica neoplásica.
Isso quer dizer que, no início de todo o processo está uma alteração no
DNA de uma célula.
Esta alteração no DNA pode ser causada por vários fatores, fenômenos químicos, físicos
ou biológicos. A esta alteração inicial damos o nome de estágio de iniciação
Temos
que ter em mente que uma só alteração no DNA não causa câncer. São
necessárias várias
mutações em seqüência, que ao mesmo tempo não sejam mortais para a
célula, e causem lesões estruturais suficientes para causarem uma
desregulação no mecanismo de crescimento e multiplicação.
O
estágio de promoção é o segundo estágio da carcinogênese. Nele, as
células geneticamente
alteradas, ou seja, "iniciadas", sofrem o efeito dos agentes
cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é
transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que
ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado
contato com o agente cancerígeno promotor.
Observamos
que o câncer ocorre mais freqüentemente em pessoas idosas. A partir dos
55 anos,
a incidência da doença cresce em nível exponencial. Isso quer dizer que
quanto mais tempo uma pessoa tem para expor seu material genético a um
fator qualquer que possa alterá-lo, maior será a chance disso acontecer.
As
células têm um mecanismo de reparo do DNA. Mutações genéticas mínimas
ocorrem muito
freqüentemente, em todas as pessoas. Só que não desenvolvemos câncer
rapidamente porque nossos mecanismos de reparo são em geral eficientes.
Só que quanto mais tempo se passar, maior será a chance de um "escape".
Se vivêssemos até 200 anos, todos provavelmente
teríamos algum tipo de câncer. Isso porque passou tempo suficiente para
que se acumulassem mutações genéticas em nossas células.
Se
o tempo é um fator importante para permitir ao organismo uma maior
exposição a elementos
potencialmente lesivos para o DNA celular, a exposição a uma maior
quantidade desses elementos lesivos também exerce grande importância no
desenvolvimento do câncer.
A esses elementos lesivos que acabam por acarretar um aumento na probabilidade de ocorrência
de lesões no DNA, e portanto, aumento da incidência de neoplasias, é dado o nome de carcinôgenos.
A
ocorrência de mutações, logicamente, ocorre no momento da divisão
celular. Isso porque
a célula deve estar duplicando o seu DNA, e a possibilidade de erros é
maior. Assim, substâncias que levam a um aumento na população de
determinadas células são também, indiretamente, agentes capazes de
aumentar a ocorrência de mutações genéticas.
A
radiação é um tipo de carcinôgeno que age lesando diretamente o DNA da
célula. A inflamação
crônica de algum órgão, como o intestino, por exemplo, causa aumento da
divisão celular, e aumenta a chance de alguma mutação. Dessa forma,
gorduras animais, que causam um tipo de inflamação na mucosa intestinal,
são carcinôgenos "indiretos".
É
por essa razão que se orienta uma dieta com fibras. Essa dieta aumenta o
volume do bolo
fecal, diminuindo o tempo de exposição de todas as substâncias à mucosa
intestinal, além de diminuir a concentração da gordura animal na massa
fecal total.
A ação de hormônios é semelhante. Eles aceleram a divisão celular de alguns tipos de células,
facilitando a ocorrência de mutações.
O
fumo desenvolve uma ação carcinogênica mista. Ele tanto é capaz de
lesar o DNA das células
do corpo inteiro, diretamente, quanto são irritantes da mucosa,
causando também uma inflamação crônica nas mucosas da boca, garganta,
brônquios e pulmões. É por isso que o fumo pode causar também câncer de
bexiga e pâncreas, por exemplo, não ficando limitado
às vias aéreas.
As
alterações específicas geradas no DNA que esses vírus causam ainda não
estão bem determinadas.
O que se sabe é que há uma completa integração do genoma do vírus no
genoma (DNA) da célula hospedeira, sendo que esta célula dará origem à
oncogênese.
As
neoplasias ditas hereditárias estão relacionadas com a perda de genes
supressores de
tumor. Isso explica a quase totalidade das doenças neoplásicas que
existem em crianças, geralmente produzidas por um aumento da
predisposição ao desenvolvimento de tumores já ao nascimento.
Outras
situações em que pode ocorrer lesão direta do DNA é quando ocorre
invasão celular
por vírus. Como exemplo mais evidente temos o vírus das hepatites B e
C, que a longo prazo podem causar câncer hepático. Também há a
associação do papilomavirus (HPV) com o câncer de colo de útero.
Estágio
de progressão é o terceiro e último estágio e se caracteriza pela
multiplicação
descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio o
câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras
manifestações clínicas da doença.
Não podemos encarar o câncer como um processo que tenha uma causa específica. A
neoplasia é o produto de um processo genético inicial,
invariavelmente seguido de um outro, e assim por diante, desencadeando
algo como uma cascata de derrubadas de dominó. Por carcinogênese se
entende, portanto, todo o processo que se inicia na primeira
mutação e termina nas alterações moleculares que resultam no câncer
clinicamente detectado.
Curiosidades
1- Câncer, é uma palavra derivada do grego "karkinos";
2- Câncer não é uma doença única, mas 200 doenças distintas cada uma delas com suas próprias
causas, história natural e tratamento;
3- O câncer compreende um grupo de doenças que aflige a raça humana e a animal;
4- O câncer é caracterizado por um crescimento autônomo, desordenado e incontrolado de
células que ao alcançarem uma certa massa, comprimem, invadem e destroem os tecidos normais vizinhos;
5- Não se conhecem a causa ou causas de 85-90% do câncer;
6- Câncer ambiental é aquele em que o meio ambiente tem papel direto ou indireto em sua
causa;
7-
Em 1802 na Inglaterra, o "Comitê da Sociedade para melhorar as
condições e conforto
dos pobres" colocou entre 13 perguntas a seguinte: "Há alguma
influência do clima ou das condições locais que facilitem qualquer tipo
de câncer em qualquer parte do corpo?";
8- Os estudos epidemiológicos indicam que os fatores ambientais são importantes na causa
da maioria dos cânceres;
9- De 80% a 90% dos cânceres resultam de fatores ambientais (Higginson and Doll);
10- Idade é o determinante mais importante para o risco de câncer;
11- Na maioria dos carcinomas (Ca epiteliais) as taxas de incidência aumentam constantemente
com a idade. Isto se explica pelo efeito cumulativo da exposição à diferentes tipos de carcinôgenos;
12- Para alguns tipos de tumores (leucemias, lla e tumor de testículo) a maior incidência
ocorre nos primeiros 4 anos de vida e entre os 20-24 anos, respectivamente;
13- Fumar dá câncer;
14- Exposição excessiva ao sol aumenta o risco de câncer da pele;
15- O câncer ocorre a qualquer idade, porem é mais frequente em pessoas de idade avançada;
16- A cura do câncer é definida como: ausência de tumor após o tratamento, por um período
de vida tão longo como o do aquele que não teve câncer;
17- O câncer NÃO é uma desgraça social, uma punição divina ou um estigma pessoal;
18- Os oncologistas, com as novas tecnologias e tratamentos, hoje oferecem maior índice
de cura respeitando a dignidade do ser humano, sua qualidade de vida e relacionamento familiar e social;
19- A cura do câncer depende de tratamento multidisciplinar;
20- Os fatores ambientais (macro e micro) são responsáveis por 80% dos tumores malignos,
e os fatores endógenos e genéticos responsáveis pelos outros 20%;
21- América Latina tem alta incidência de tumores associados com a pobreza (colo do útero
e estômago);
22- Os dados de mortalidade mostram que os tumores malígnos ocupam os primeiros lugares
em todos os paises, e a tendência é de aumentar na faixa etária de 45-65 anos;
23- A faixa de mortalidade por câncer é maior entre as mulheres do que nos homens em todos
os paises, numa faixa etária de 30-64 anos. Isto se explica pela alta incidência de colo de útero e mama;
24- Alguns tipos de câncer, se diagnosticados em tempo e tratados corretamente, tem cura;
25- As crianças respondem melhor ao tratamento oncológico.
Fonte: Dra.
Lucíola de Barros Pontes, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein
Nenhum comentário:
Postar um comentário