quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Estafa mental

Quinta, 10 Janeiro 2013 13:52

Estafa mental



Estafa mental é o mal que tem atingido cada vez mais a vida de pessoas que trabalham ou estudam demais. Dentro desse grupo estão aqueles que se preparam para concursos públicos, os chamados 'concurseiros', que na maioria das vezes têm sido prejudicados a ponto de não conseguir a aprovação no certame. Isso acontece porque muitos candidatos, pressionados pela concorrência, estudam em excesso, extrapolando o seu limite mental. Como conseqüência, perdem grande parte de sua concentração, o que os atrapalha não só nos estudos como na realização da prova.
Psicólogo educacional de uma escola de Belém, Davi Medeiros, explica que a estafa mental está relacionada diretamente ao acúmulo de informações que acabam saturando a mente do indivíduo. Ele estima que 10% de todos os estudantes que se preparam para realizar uma prova seletiva possuem a doença. Segundo ele, fatores como excesso de estudo, poucas horas de sono, ambientes mal iluminados e alimentação inadequada favorecem o surgimento da doença.
'A estafa acontece quando uma pessoa está com a mente sobrecarregada de informações e já não dá conta de organizá-las. Isto acontece com cerca de 10% dos candidatos. Na instituição onde eu trabalho, cerca de 85 estudantes de cursinho sofrem deste mal. Geralmente isto ocorre quando o indivíduo estuda muitas horas seguidas, sem descansar, dorme pouco e se alimenta mal, o que acontece com muita frequência na vida daqueles que se preparam para fazer uma prova. Um ambiente de pouca luminosidade também aumenta o cansaço mental', garante o psicólogo.


DESREGRADO


Davi diz que estudantes de cursinhos estão mais propensos a adquirir a doença porque, obcecados em passar no concurso, levam uma vida, do ponto de vista médico, desregrada. Ele afirma que é muito comum detectar alguns sintomas de estafa entre os concurseiros. 'A correria do dia-a-dia, a pressão psicológica, a falta de horários, tanto para comer quanto para dormir, é uma realidade para a maioria dos candidatos. Por isso, aqueles que estudam para concurso público fazem parte de um grupo com maiores chances de desenvolver a estafa mental. É comum que eles apresentem sintomas como: ansiedade, medo, insegurança, choro e perda de memória. Vale lembrar que, nem sempre os sintomas se manifestam ao mesmo tempo, mas é preciso ficar atento a qualquer variação física e mental neste sentido', alerta.
O psicólogo esclarece que a estafa mental pode causar problemas de relacionamento, tanto famíliar quanto profissional, doenças psicossomáticas, além de afetar o poder de concentração e aprendizado do indivíduo, o que para os concurseiros, é primordial.
'Uma vez com a a estafa, o candidato perde grande parte da sua capacidade de concentração e memória, sendo prejudicado nos estudos e também na realização de uma prova. Além disso, ele pode vir a desenvolver outras doenças, como gastrite nervosa e alergias', afirma.

Estudante é obrigada a abrir mão de concurso

A universitária Luana Alcântara, 23, conta que foi prejudicada pela doença e que passou um bom tempo sem conseguir estudar. Ela afirma que vivia em crise sem saber o motivo e que só descobriu que estava com estafa quando sua mãe a levou ao médico.
'Eu vivia para estudos, tanto na faculdade quanto no cursinho preparatório para concurso. Para dar conta, tinha que estudar de manhã, de tarde, de noite e, às vezes, até de madrugada. Mal tinha tempo para comer. Comecei a perceber que não estava dando conta do recado e o desespero me dominou. Chorava dia e noite, com medo de reprovar na faculdade e de não passar no concurso. Não conseguia mais entender nada da matéria, nem uma fórmula mais eu conseguia gravar. Comecei a ter crises de gastrite cada vez mais fortes. Minha mãe, preocupada com meu comportamento agressivo e depressivo, me levou ao psicólogo. Foi aí que descobri que não conseguia aprender porque estava com estafa mental', diz.
Luana avalia que o tratamento foi um período muito difícil pois, além de precisar abrir mão do concurso para o qual estava se preparando, faltou pouco para não trancar a faculdade. 'O médico me disse que o primeiro passo para me curar seria parar. Foi um momento muito difícil. Tive que abandonar o cursinho e conseqüentemente, o concurso que ia fazer. Com relação à faculdade, tive que me esforçar muito para não perder o semestre. Também precisei reeducar o meu horário, mudar alimentação, estabeler horas de sono, que hoje são sagradas, tudo isso acampanhada por um psicólogo', declara.
Davi garante que, assim como Luana, muitos estudantes sofrem de estafa mental mas não sabem. Ele explica que a doença nem sempre se manifesta de forma tão agressiva, como foi o caso da universitária, mas que mesmo assim é prejudicial. O tratamento, segundo o psicólogo, é feito através de psicoterapia e, em alguns casos, utilizando medicações.
'O caso de Luana foi mais prejudicial porque ela demorou para descobrir que estava com a doença e consequentemente, para tratá-la. Mas nem sempre a estafa chega a este estágio. Tem estudante que possui a doença e não sabe, acha que o fato de não conseguir assimilar bem as informações é normal. Às vezes ele até consegue conviver com o problema por algum tempo, mas acaba prejudicando seu desempenho. Na maioria dos casos, a estafa é tratada somente com psicoterapia. Poucos casos necessitam do uso de medicamentos', diz o psicólogo Davi Medeiros. Para ele, determinar um tempo para o lazer, respeitar o horário de dormir e se alimentar de forma correta são formas de escapar da doença.
'É preciso que as pessoas deixem de ver o lazer e o repouso como perda de tempo na corrida por uma vaga no serviço público. Pelo contrário, o candidato que dorme regularmente, se alimenta nas horas certas e faz intervalos para descansar é o que tem maiores chances de ser aprovado nos certames', conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário