Onde estão os fracassados?
Os fracassos são varridos, jogados fora, esquecidos. Muitas empresas dão errado sem causar impacto suficiente para serem estudadas ou para seus donos serem sequer encontrados
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“Quero fazer o seguinte”, disse eu, inocentemente ao meu orientador de Mestrado: “vamos pegar um grupo de empresas que deram certo em um setor e comparar com um grupo parecido de empresas que não deram certo. Então identificamos as diferenças”, continuei, do alto dos meus vinte e poucos anos. Meu orientador (que depois virou um grande amigo com o qual escrevi um livro) sorriu e respondeu: “tudo bem, mas onde você vai achar os perdedores?”
Sem saber, eu tinha acertado em cheio em um dos grandes problemas da Administração (e por que não, da vida em geral?). Pegamos os bons exemplos, vemos e estudamos o que fizeram certo, deciframos suas características, na esperança de fazer o mesmo e chegar a um nível de sucesso parecido.
Entre em qualquer livraria -- Quer saber? Nem as publicações científicas escapam disso -- e o que você vai ver são exemplos e mais exemplos de sucesso. Da última dieta da moda ao fulano que promete milhões na bolsa, de livros didáticos a biografias de presidentes e empreendedores famosos, a maioria esmagadora dos textos e estudos será sobre o sucesso.
Os fracassos são varridos, jogados fora, esquecidos. Muitas empresas dão errado sem causar impacto suficiente para serem estudadas ou para seus donos serem sequer encontrados. Mesmo em grande empresas decadentes, a coleta de dados é difícil, praticamente impossível. Como já disseram, a vitória tem muitos pais, o fracasso, nenhum.
Para saber se uma dieta funciona, não basta mostrar apenas os casos que deram certo. É preciso estudar as pessoas que desistiram dela, incluindo possivelmente as que tiveram efeito diferente do esperado. No mundo das empresas isso é ainda mais complicado: pegue dois restaurantes extremamente parecidos, coloque um ao lado do outro. Em alguns anos um pode estar fazendo sucesso enquanto o dono do outro está em casa coçando a cabeça e tentando entender o que aconteceu. Há variáveis demais para se apontar dedos a esse ou aquele fator. Dizer que algo funciona de modo geral é mais difícil do que parece.
O que fazer então? Desistir de estudar técnicas promissoras? Jogar as mãos para o alto e parar de tentar?
Pelo contrário. A única opção é aceitar que somos incapazes de compreender a totalidade do mundo que nos cerca. Que o universo em que vivemos é tão complexo que a hora que aprendemos uma “técnica garantida”, a situação pode mudar e levar todo mundo para o buraco. Aceitar que não se pode prever o futuro. Podemos fazer estudos, desenhar cenários, estabelecer rotas, mas o que acontecerá amanhã, por definição, só ficará claro quando o sol nascer de novo.
Em minha experiência, é uma conclusão difícil de aceitar. Gostamos de respostas certas, de receitas, de métodos infalíveis para o sucesso em administração, saúde, relacionamentos, (insira aqui o que quer que seja). Infelizmente, não existe tal coisa.
Ou melhor, felizmente. Se todos os livros, receitas mágicas e conselhos estivessem certos. Que graça o mundo teria? O que podemos fazer é estudar, nos esforçar, aprender o máximo possível. E essa é a graça da coisa. Pensando bem, o que seria do amanhã sem as surpresas, os casos estranhos, aquelas coisas que nos pegam de repente, e nos deixam sem saber o que fazer?
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