sábado, 27 de dezembro de 2014

Cinco barões brasileiros da carne se tornam bilionários com ajuda do BNDES

Cinco barões brasileiros da carne se tornam bilionários com ajuda do BNDES

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© Foto: AP Com receita de R$ 110 bilhões nos últimos 12 meses, a JBS se tornou a maior empresa do Brasil depois da Petrobras. E também transformou cinco dos seis filhos do fundador da JBS em bilionários.
Quando tentou comprar a National Beef Packing Co. e a Smithfield Beef Group Inc., ambas com sede nos EUA, em 2008, a produtora brasileira de carne bovina JBS SA foi recebida por uma onda opositora.
Procuradores-gerais de 13 estados americanos entraram com ações contra a empresa, que tem sede em São Paulo, alegando que a aquisição da National Beef, quarta maior embaladora dos EUA, ameaçaria a precificação competitiva ao criar um oligopólio liderado pela JBS, pela Tyson Foods Inc. e pela Cargill Inc.
Em campanha, Hillary Clinton disse ao Rapid City Journal, de Dakota do Sul, que seria contrária à compra da Smithfield e que iria “combater a consolidação”.
A família Batista, que controla a JBS, não desanimou. Desistiu da aquisição da National Beef, concluiu a compra da Smithfield e transformou a JBS em um império alimentar global -- tudo com a ajuda de um banco estatal.
Com uma receita de R$ 110 bilhões (US$ 45 bilhões) nos últimos 12 meses, a JBS ofuscou a Vale SA neste ano e se tornou a maior empresa do Brasil depois da Petrobras. E também transformou cinco dos seis filhos do fundador da JBS, José Batista Sobrinho, em bilionários em dólares.
“Eles administram um negócio apertado”, disse Revisson Bonfim, chefe de análise de mercados emergentes da Sterne Agee Leach em Nova York. “Eles entram onde há muitos desperdícios e sabem como remover o desperdício. As aquisições sempre estiveram no DNA deles, mas foi depois que eles mudaram para os EUA que a coisa decolou”.
Após realizar mais de US$ 17 bilhões em aquisições, a JBS agora tem operações em cinco continentes e em 21 estados brasileiros. Os Batista, que não têm parentesco com o outrora bilionário brasileiro das commodities Eike Batista, estão sendo impulsionados pela maior recuperação das ações do índice da Bovespa neste ano. A JBS deu um salto de 53 por cento nos últimos seis meses, empurrada pelo incremento dos preços da carne bovina e pelo fato de a Rússia ter cancelado a proibição para as fábricas de processamento de carne do Brasil.
Bilionários ocultos
Os cinco irmãos Batista -- Joesley, Wesley, Valere, Vanessa e Vivianne Batista -- têm uma participação equivalente na J&F Investimentos SA, a empresa holding por meio da qual eles e outros membros da família controlam a JBS e também investimentos em bancos, celulose, gado, produtos de limpeza e construção. Nenhum deles jamais apareceu individualmente em um ranking internacional de riqueza.
Um porta-voz da JBS disse que os irmãos preferiam não comentar essa reportagem e respondeu a outras perguntas sobre a empresa em um e-mail. Um sexto irmão, José Batista Júnior, vendeu sua parte no negócio e se comprometeu a investir R$ 100 milhões para concorrer ao cargo de governador de Goiás, mas depois deixou a disputa para abrir caminho para um companheiro membro do PMDB.
O pai, José Batista Sobrinho, iniciou o império familiar do setor alimentício nos anos 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek implementou o plano "cinquenta anos em cinco" para acelerar a construção de Brasília, a nova capital do Brasil. Batista, que começou abatendo cinco cabeças de gado por dia, ajudava a fornecer carne para os trabalhadores que construíam a cidade.
Aquisições
O BNDES aprovou R$ 287 milhões em empréstimos para a empresa de José Batista Sobrinho antes de a companhia comprar as operações da Swift Co. na Argentina, em 2005. Quando a JBS vendeu ações em uma oferta pública, em 2007, o braço de investimentos do banco aprovou uma participação de R$ 1,1 bilhão para ajudar a adquirir a Swift, na época a terceira maior empresa de carne bovina e suína dos EUA. De propriedade do Tesouro brasileiro, o BNDES anunciava a criação de uma “multinacional brasileira”.
Mais aquisições vieram na sequência, entre elas a da Pilgrim’s Pride, com sede em Pittsburgh, EUA, a da canadense XL Foods e a de quatro processadoras de carne brasileiras. A JBS adquiriu a empresa de lácteos Vigor em 2009 como parte da aquisição do Grupo Bertin SA. O banco converteu R$ 3,5 bilhões de títulos locais da JBS em ações em 2011. O BNDES aprovou R$ 6 bilhões em ações e R$ 2,4 bilhões em empréstimos em uma década.
“O setor de carne bovina estava desorganizado, dividido, informal”, disse um porta-voz do BNDES em um e-mail. O ambiente “não permitia que o Brasil tirasse vantagem das vantagens competitivas do setor, um relevante criador de empregos”.
Batista, 81, transformou seus filhos em membros do conselho da empresa em 2005. Os irmãos Joesley, 42, e Wesley, 44, ampliaram sua importância dentro da empresa ao longo da expansão, até assumirem o comando, que estava nas mãos do pai, como presidente do conselho e presidente executivo da JBS, respectivamente.
Rich Vesta, que chefiou as operações da JBS nos EUA até 2010, disse que o apoio do BNDES não deveria diminuir o trabalho dos irmãos na empresa.
Desordens mentais
Os irmãos Batista são especialistas em introduzir eficiências em matadouros recentemente adquiridos, que dependem de trabalho manual, disse Vesta. Os trabalhadores aumentam as margens de lucro sendo os mais rápidos para separar as carcaças penduradas em cortes comercializáveis. A JBS tem mais de 200.000 trabalhadores e capacidade para abater 100.000 vacas, 72.000 porcos e 13 milhões de aves por dia. A rotina nos frigoríficos pode ter um preço para os funcionários.
As ocorrências de desordens mentais e dos tecidos moles são três vezes maiores do que em outros setores, segundo procuradores do trabalho. Um trabalhador da JBS quase perdeu um braço tentando consertar um tanque de descarga congestionado em 2012, no estado do Mato Grosso. A polícia foi chamada para sua casa, em janeiro, depois que ele tentou serrar o membro paralisado como se fosse a cartilagem de uma carcaça bovina. A JBS disse que não teve culpa.
“É tenso”, disse Elias Vasconcelos da Costa, que recebia cerca de US$ 750 por mês em uma fábrica em Mato Grosso desossando até 50 carcaças por hora. “É preciso ser forte”.
‘Ritmo frenético’
Os tribunais brasileiros raramente decidem a favor dos empregadores nos processos trabalhistas, que podem se estender por anos. Em um caso recente, o Tribunal Superior do Trabalho ordenou que a Seara, uma unidade da JBS, pagasse R$ 10 milhões a trabalhadores que foram demitidos por exigir intervalos no estado de Santa Catarina.
O juiz Alexandre Agra citou um “ritmo frenético” a temperaturas próximas de zero grau e a falta de intervalos apropriados. A empresa não respondeu a um pedido para comentar sobre o caso.
A JBS também foi acusada de comportamento predatório. A senadora Kátia Abreu, ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), acusou a empresa de “formação de monopólio” e disse que o apoio do BNDES é prejudicial para a concorrência. Em um discurso no Congresso, ela acusou a JBS de enganar os consumidores com uma campanha publicitária que os encorajava a optar por sua marca Friboi por causa de seu selo de inspeção federal, quando mais de 200 outros matadouros também tinham sido aprovados em inspeções.
Influência política
Pelo menos um dos bilionários não gostou das declarações de Kátia Abreu. Em novembro, Joesley Batista se reuniu com o ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante, e fez lobby contra Kátia Abreu como potencial ministra da Agricultura por causa de suas críticas a respeito da empresa em discursos no Congresso, segundo um funcionário do governo com conhecimento do assunto, que pediu anonimato porque a reunião não foi pública. As preocupações de Batista não afetarão a escolha de Dilma, disse a fonte.
A JBS, que neste ano foi a maior doadora da campanha de reeleição de Dilma, assim como da campanha do candidato derrotado, Aécio Neves, negou que esteja usando influência política para fazer lobby contra Kátia Abreu. A empresa disse que a existência de concorrência é uma prova do livre mercado.
O BNDES, que possui ações em mais de 130 empresas, detém uma participação de 25 por cento nessa empresa em ascensão, ao mesmo tempo em que ela se torna a maior financiadora de campanhas políticas do país. Embora empresas estatais não tenham permissão para financiar campanhas, o BNDES diz que não existe proibição quando as firmas estatais são acionistas minoritárias.
“Existem mais de 1.500 abatedouros operando no país”, disse a JBS. “A empresa não concorda que a participação do banco em seu capital interfira na concorrência”. A Caixa Econômica Federal, outro banco estatal, também tem uma participação na JBS.
As empresas J&F, lideradas pela JBS, financiaram quase um terço dos parlamentares da Câmara dos Deputados e distribuíram recordes R$ 387 milhões em ações nas eleições de 2014, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
O alcance de seu financiamento de campanha, que visa a apoiar o “debate democrático”, reflete seu tamanho como a maior empresa do Brasil, disse a JBS.
“Todas as doações da empresa seguem rigorosamente as leis eleitorais do Brasil”, disse a JBS em uma resposta por e-mail.

Fonte: MSN Dinheiro / Bloomberg.

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