Os perigos da gordura na barriga
A obesidade e o sobrepeso estão associados a
uma série de doenças metabólicas e cardiovasculares e o crescimento de
seus índices na população nos últimos anos tem preocupado autoridades de
saúde em todo o mundo.
Pessoas obesas apresentam uma maior taxa de
mortalidade por qualquer causa e também por doenças cardiovasculares.
Tanto a obesidade quanto o sobrepeso são determinados pela avaliação do
índice de massa corporal (IMC). Qualquer pessoa que saiba seu peso e
altura pode calcular facilmente o seu IMC em centenas de sites na
internet. Muita gente já sabe que um IMC desejável não deve passar de
25. As pessoas que estão na faixa de IMC de 25 a 30 são consideradas
como tendo sobrepeso e as que têm um IMC acima de 30 são obesas.
Resultados de estudos epidemiológicos realizados na década de 90, e
utilizando dados de um grande número de indivíduos, demonstraram que o
risco de doenças e o risco relativo de morte vão aumentando
proporcionalmente a partir do IMC em torno de 25. Existem várias
relações fisiopatológicas que explicam como o aumento do depósito de
gordura pode produzir uma diversidade de doenças.
A noção de que, além do IMC, a distribuição da
gordura corporal é um importante fator de risco para diversas doenças
também está bem estabelecida. Pessoas obesas com excesso de gordura
abdominal (na cintura) têm maior risco para diabete, hipertensão,
dislipidemia e doenças do coração, do que os obesos que tem a gordura
localizada predominantemente na parte inferior do corpo (quadril). O que
ainda não estava claro é se pessoas com IMC normal, abaixo de 25
(portanto sem sobrepeso ou obesidade), mas com uma "barriguinha"
saliente (chamada de obesidade central), têm um maior risco para doença
cardiovascular ou morte.
A resposta para esta questão veio no início de novembro com a publicação online, na revista científica Annals of Internal Medicine,
de uma pesquisa que estudou por um período de 14 anos mais de 15 mil
pessoas com idade de 18 a 90 anos. Os parâmetros investigados foram o
IMC e a presença de obesidade central, que é obtida pelo resultado da
divisão entre a circunferência abdominal e a circunferência do quadril.
A análise dos resultados da pesquisa revelou
que pessoas com um IMC normal, abaixo de 25, porém com obesidade central
(índice maior que 0,90 para homens e maior que 0,85 para mulheres), têm
um maior risco de mortalidade total que as pessoas com IMC normal e sem
obesidade central. Mais do que isso, este grupo de "magros
barrigudinhos" têm um risco maior do que as pessoas com sobrepeso e
obesas (IMC acima de 25 e 30, respectivamente) que, no entanto,
apresentam a razão cintura quadril normal (menor que 0.90 para homens e
0,85 para mulheres).
Para exemplificar, os pesquisadores colocaram a
situação de um homem com IMC de 22 kg/m2 e obesidade central (índice
cintura/quadril acima de 0,90). Este indivíduo tem um maior risco de
mortalidade que um homem com mesmo IMC sem obesidade central, e maior
também que um indivíduo com sobrepeso ou obeso, porém, com índices
cintura/quadril menores que 0,90.
Algumas pessoas têm propensão a fazer um
depósito de gordura no abdômen, mesmo não sendo obesas. A gordura
abdominal secreta substâncias pró-inflamatórias no organismo que
predispõe à formação de uma série de situações potencialmente nocivas,
principalmente ao sistema cardiovascular.
As implicações deste estudo são importantes,
pois muitas vezes a pessoa magra se acha protegida contra doenças
metabólicas e cardiovasculares, o que pode não ocorrer se ela apresenta
obesidade central.
A medida da relação cintura/quadril passa a ser
um fator indispensável, talvez mais importante até que o próprio IMC,
na avaliação de risco para determinadas doenças.
Autor: Equipe ABC da Saúde
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