Misteriosa síndrome deixa usuários de maconha violentamente doentes preocupa pesquisadores
Os pesquisadores estão oficialmente preocupados com uma síndrome identificada há apenas alguns anos que atinge usuários frequentes de maconha.Descoberta em 2004, um novo estudo agora sugere que ela não é nada rara, e pode afetar muito mais pessoas do que pensávamos – na casa dos milhões.
Que doença é essa?
Uma mulher australiana, cuja experiência foi documentada anonimamente em um estudo de caso, foi a primeira a ser estudada com a síndrome.Ela experimentou episódios súbitos e graves de náusea por nove anos. A tontura era tanta que ela sentia como se a sala estivesse girando, seguida de vômitos violentos e dores de estômago severas.
A mulher contou a seus médicos que se acalmar com um banho quente era a única coisa que parecia aliviar seus sintomas. Assim que a água começava a esfriar, no entanto, a náusea voltava. Ela aprendeu a aquecer gradualmente a água, preferindo ficar no banho o maior tempo que pudesse.
Quando se queimou gravemente pela terceira vez, acabou no hospital e finalmente se deu conta de que tinha um problema.
Síndrome de hiperêmese de canabinoide (SHC)
A doença foi nomeada de “síndrome de hiperêmese de canabinoide”, ou SHC, e parece ocorrer em pessoas que usam maconha com frequência por anos. Os pacientes geralmente experimentam um estômago muito irritado em conexão com o uso pesado da droga.Além de abandonar o vício, não há tratamentos conhecidos. Banho quente só alivia temporariamente os sintomas.
O relatório de caso da australiana, juntamente com os de outras nove pessoas com sintomas semelhantes, foi publicado em 2004 na revista médica Gut, revista científica oficial da Sociedade Britânica de Gastroenterologia.
Até agora, os casos de SHC eram presumivelmente raros. Um novo estudo de médicos da Universidade de Nova York, no entanto, sugere que a síndrome pode afetar muito mais pessoas do que pensávamos inicialmente. A pior parte é que os pacientes não devem ter ideia de que é a cannabis que está causando seus sintomas, pois, paradoxalmente, a erva às vezes é usada para tratar náusea.
A nova pesquisa
Os cientistas por trás do último estudo, publicado na revista Basic and Clinical Pharmacology and Toxicology, examinaram a SHC através de uma grande amostra de adultos admitidos em prontos-socorros da cidade de Nova York.Milhares de pacientes foram questionados na tentativa de encontrar apenas aqueles que usavam maconha com frequência – pelo menos 20 dias por mês. Os pesquisadores acabaram com 155 pessoas que atendiam os critérios. Todos esses indivíduos fumavam quase todos os dias ou várias vezes ao dia, muitas vezes há cinco anos ou mais. Entre esses pacientes, aproximadamente um terço apresentava sintomas que os qualificavam para um diagnóstico de SHC. Esse número foi muito maior do que o esperado.
De acordo com Joseph Habboushe, professor da Universidade de Nova York e principal autor do artigo, a partir desse dado, é possível estimar que cerca de 2 milhões de adultos nos EUA sejam afetados pela síndrome – embora ainda seja cedo para tirarmos essa conclusão.
Limitações
Como é o caso de qualquer estudo, este tem algumas limitações. A principal é o fato de que as pessoas nem sempre são honestas sobre seu uso de maconha, de modo que os números podem não ser confiáveis.Outro fator importante a considerar é que não temos dados sobre a potência da maconha utilizada pelos pacientes. Provavelmente, uma cannabis mais forte pode estar contribuindo para o aumento de casos da síndrome, mas sem informações sobre o conteúdo de THC da maconha consumida, é impossível saber com certeza.
O estudo também não excluiu a possibilidade de que as pessoas usaram outras drogas além da maconha, que poderiam desempenhar um papel na síndrome.
Por fim, ainda não há como saber se um composto específico da cannabis – como THC ou CBD – é mais culpado do que outros pelos sintomas.
No futuro
Como já foi comentado, não há bons tratamentos para os sintomas da síndrome. A maioria dos medicamentos antináusea não funcionam. Apenas parar de fumar maconha cura a síndrome. O problema é que, uma vez que os sintomas vão embora, os pacientes voltam a fumar, e a síndrome retorna.Habboushe está atualmente trabalhando em outro estudo que visa identificar tratamentos potenciais.
“Vamos ver mais dessa doença. Isso não significa que a maconha é ruim ou boa, significa apenas que ela tem efeitos colaterais – efeitos que precisamos entender e aprender a evitar e tratar”, concluiu Habboushe. [BusinessInsider] - (Fonte:HScyence - Fev 18)
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