quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
Estória - Existe em português?
Estória - Existe em português?
José Maria da Costa
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
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O leitor Luiz Gonzaga Lima Gonzaga envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:
"Na língua inglesa encontramos as palavras 'history' (história) e 'story' (estória?). É correto em nosso idioma o emprego da palavra 'estória'?"
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1) Um leitor envia a seguinte mensagem: "Na língua inglesa encontramos as palavras 'history' (história) e 'story' (estória?). É correto em nosso idioma o emprego da palavra 'estória'?".
2) Inicia-se esta resposta com a observação de que, entre nós, a Academia Brasileira de Letras é o órgão incumbido, por delegação legal, desde a lei 726/1900, de definir a existência, a grafia oficial, o gênero e as peculiaridades dos vocábulos de nosso idioma, e ela, para atender a essa autorização legal, o faz oficialmente pela edição, de tempos em tempos, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais modernamente, ela também tem disponibilizado em seu site, pela internet, o rol dessas palavras e expressões.
3) Com essa anotação como premissa, segue-se dizendo que uma consulta à referida obra mostra que nela se registra tanto história quanto estória.1 E isso significa, em última instância, que ambas as formas registradas no VOLP existem oficialmente em nosso idioma e são, por consequência, consideradas corretas.
4) Ocorre que Domingos Paschoal Cegalla recomenda se empregue apenas história em qualquer acepção, com o que sonega toda e qualquer utilidade ou eficácia ao vocábulo estória. E assim esclarece tal autor a origem dessa última: "Esta palavra foi proposta por estudiosos do folclore, em 1942, com o intuito de diferenciar história/folclore de história/ciência". E complementa: "Não nos parece necessário o neologismo".2
5) Nessa linha também se põe a seguinte observação do Dicionário Aurélio: "Recomenda-se apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica quanto no de narrativa de ficção, conto popular e demais acepções".3
6) Ante a autoridade da ABL e do VOLP que ela edita, entretanto, são inaceitáveis as posições de Cegalla e de Aurélio, assim como o é a repulsa que Napoleão Mendes de Almeida desfere contra o vocábulo estória, recusando aceitar seu emprego e chamando-o de "verdadeiro desatino gráfico".4
7) Em realidade, ante o registro expresso e sem ressalvas de ambas as formas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (com o que se lhes atesta a existência oficial), deve-se esclarecer que os estudiosos da língua e os dicionaristas, sem sombra de dúvida, prestam relevantes serviços ao vernáculo. Não são eles, porém, as autoridades para dizerem, com valor oficial, acerca da existência ou não de algum vocábulo em nosso idioma, bem como acerca de sua grafia e de suas peculiaridades, ou mesmo de sua correção no idioma. Essa atribuição cabe, com exclusividade, à Academia Brasileira de Letras, de modo que, na divergência entre os gramáticos, filólogos e dicionaristas de um lado, e o VOLP de outro, há de prevalecer, nesse campo, o que registra este último.
8) Importa ressalvar, por fim, quanto ao conteúdo semântico de ambos os vocábulos, que, por um lado, história tanto pode significar "o conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade"5, quanto "a narrativa de cunho popular e tradicional", ou, ainda, os relatos inventados6; por outro lado, entretanto, a palavra estória deve ser reservada com exclusividade apenas para o segundo conjunto de acepções, mas não para a ciência que estuda e refere o passado da humanidade.
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1 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 350 e 440.
2 CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999, p. 154.
3 FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 877.
4 ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. São Paulo: Editora Caminho Suave Ltda., 1981, p. 139.
5 HOUAISS. Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 1.543.
6 HOUAISS. Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 1.258.
Atualizado em: 30/12/2020 08:43 - Fonte: MIGALHAS
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