Aproveitando
que os últimos assuntos do blog é sobre Roma, gostaria de compartilhar
com vocês algumas curiosidades sobre a vida cotidiana da Antiguidade
Romana que descobri lendo o livro de um escritor paleontólogo italiano.
Tantas delas foram herdadas pelos povos conquistados pelos romanos e
existem até hoje.
1. Embelezamento:
os romanos eram vaidosos e primavam pela boa aparência. Os homens
criaram o hábito de se barbearem (com lâminas de ferro e a seco), uma
obrigação sobretudo se eram soldados. Mas não faziam sozinhos; se eram
ricos, possuiam um tonsor (barbeiro) particular que fazia o serviço em
casa. Os menos favorecidos iam em barbearias públicas - algumas até a
céu aberto - espalhadas pela cidade. As mulheres se embelezavam em casa
com ajuda de uma serva, se eram ricas. Herdaram das egípcias as técnicas
da maquiagem (usavam até fuligem para pintar os olhos) e dos banhos
aromáticos. O penteado variava segundo a moda ditada pelas esposas dos
imperadores e chegavam até ser muito elaborados, como o das tranças que
formavam um cone no alto da cabeça. Elas também tingiam os cabelos com
hena, faziam apliques com cabelos importados da Índia e até depilação.
2. Vestuário:
a toga, usada sobre a túnica, servia para distinguir a classe social de
quem a vestia através da cor, do volume e da forma e só podiam ser
usadas por quem tinha a cidadania romana. Os escravos, plebeus pobres e
soldados usavam só a túnica. As mulheres usavam, além da túnica e da
toga, uma faixa sobre os seios (mammilia) e uma espécie de calcinha
(subligaculum) como roupa interior e um manto que cobria a cabeça quando
saiam de casa. As crianças usavam a toga praetexta com uma faixa
púrpura e quando cresciam, mudavam para a toga uirilis (os meninos) e a
stola (as meninas que se casavam). As romanas também usavam um tipo de
biquíni para praticar esportes ou relaxarem nas termas.
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Toga e pallio, o manto comprido que cobre a cabeça. As mulheres o usavam quando saiam de casa e os homens quando viajavam |
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Toga romana masculina |
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Tunica romana, usada abaixo da toga ou sem nada por cima (no caso de plebeus pobres, escravos ou soldados) |
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Os
primeiros biquínis foram invenção dos romanos e não dos franceses. As
mulheres retratadas aqui faziam ginástica usando esse traje de duas
peças, mas também podiam ser usados para os banhos termais (mosaico de
um antigo palacete romano de Piazza Armerina, província de Enna,
Sicília) |
3. Hábitos higiênicos:
a higiene não era muito o forte naquela época, pelo menos do nosso
ponto de vista. As mulheres estavam mais acostumadas ao banho em casa,
enquanto que os homens preferiam as termas públicas. Os mais pobres
tinham que se virar e tomavam banho como podiam. Para escovar os dentes,
usavam uma mistura de bicarbonato de sódio, ervas aromáticas e até pó
de pedra-pomes. Papel higiênico nem pensar! Cada um tinha uma esponja
que era umedecida na água que corria em um pequeno canal localizado aos
pés de cada vaso sanitário.
4. Lavanderia:
os romanos lavavam as roupas de uma forma um tanto nojenta. Todo dia de
manhã, o servo recolhia a urina de toda a família de seus patrões e a
mandavam para a lavanderia, que seria usada para a limpeza das roupas. O
cheiro forte era eliminado com água e essências naturais.
5. A casa romana:
os patrícios e a plebe mais rica moravam nas domus, a residência urbana
da Antiguidade. Essas habitações possuíam um grande atrium (átrio)
cercado por colunas e ornado de jardins, pequenas hortas e de um
impluvium, uma pequena cisterna pluvial, além de ser a principal fonte
de luz solar da casa. O triclinium era o cômodo destinado aos jantares e
banquetes, o tablinium era onde o patrono tratava de negócios e as
cubicula (que eram mesmo cubículos) o local de repouso noturno, escuro e
sem muita decoração ou mobílias. Também havia cozinha e banheiro.
Apesar de todo o luxo e ricas decorações dessas domus, as janelas eram
escassas e sempre pequenas, quase inexistentes (por motivos de segurança
e privacidade). Os mais pobres moravam nas insulae, prédios
condominiais com vários andares que depois passou a ser também
residência dos mais abastados quando começou a crescer o índice
demográfico de Roma (era uma das cidades mais populosas da Antiguidade).
Nesse caso, os andares de baixo eram os mais caros e os mais altos os
mais baratos, ao contrário de hoje; quem morava mais embaixo podia fugir
com mais facilidade em caso de incêndio (que eram muito comuns naquela
época).
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Detalhe de uma domus
romana urbana (Sir Lawrence Alma-Tadema, 1901). A parte descoberta,
chamada de atrium, era o centro da casa e de onde entrava a luz do sol,
vista a escassez de janelas na residência |
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Restos
de uma insula, os nossos atuais apartamentos, em Ostia Antica, uma
antiga colônia romana, atual distrito do município de Roma |
6. Escola:
até os 7 anos, a criança era educada pelo próprio pai, que lhe ensinava
moral, noções rudimentares de escrita e história dos personagens
ilustres. Depois dos sete anos, a criança (de família rica) passava a
ser educada por um tutor, geralmente um escravo grego (a civilização
grega era muito mais progredida culturalmente que a romana) liberto, que
lhe dava noções de aritimética, escrita e leitura. Os menos favorecidos
e até alguns ricos mandavam seus filhos às escolas públicas (e a céu
aberto), onde também aprendiam a ler, a escrever e a fazer contas. Um
fato interessante é que a leitura naquela época era em voz alta; somente
na Idade Média, com os monges copistas, aprendemos a ler mentalmente.
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Auto-relevo de uma cena escolar |
7. Vida social:
as ruas de Roma eram muito movimentadas durante o dia. Era um vai e vem
de pessoas de todas as classes sociais que se misturavam ao caos do
comércio, quase uma Vinte e Cinco de Março (rua do centro de São Paulo
famosa por seu grande comércio) em época de Natal. À noite não era
aconselhado sair de casa pelo risco de assaltos e assassinatos, devido
ao policiamento praticamente inexistente. O ponto de encontro dos
romanos eram as termas, divididas entre masculinas e femininas, locais
de relax, prática de esportes e vida social. Em alternativa, havia os
bares, frequentados exclusivamente por homens, que também serviam de
restaurante e "outros fins". Um lugar bem insólito para a socialização
dos homens romanos era nos banheiros públicos; sentados em um banco
conjunto sem divisórias, discutiam sobre diversos assuntos enquanto
faziam o número 2.
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Ruínas das Termas de Caracalla |
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Um bar-restaurante da Antiguidade Romana |
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Toilettes
públicas da Antiguidade Romana. Como se pode ver, não havia privacidade
e os homens faziam suas necessidades conversando com outros homens
tranquilamente e sem pudor. Aos pés de cada sanitário havia um canal por
onde corria a água que servia para umedecer a esponja e se limpar
depois do "social" |
8. Engenharia civil:
os romanos eram hábeis engenheiros. Devemos a eles a construção de
pontes, aquedutos e estradas, que foram por muito tempo uma importante
via de comunicação com outras colônias do Império Romano (a mais famosa é
a Via Appia, que ligava Roma a Brindisi, no sul da Itália).
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Antiga Via Appia que ligava Roma a região da Puglia , no sudeste da Itália |
Há ainda várias outras curiosidades ligadas aos romanos como simbologias, técnicas militares, comportamento etc. que dariam assuntos
para um livro ou tratados de antropologia. Se alguém se lembrar de um
interessante, pode escrever como comentário que será bem-vindo.
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