quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Pesquisa mostra sofrimento de veterinários com decisões de donos de animais

Pesquisa mostra sofrimento de veterinários com decisões de donos de animais

Por , em 17.10.2018Animais de estimação vivem menos do que nós, humanos (pelo menos na maior parte dos casos). Muitas vezes, acompanhar nossos bichinhos por toda a vida deles e no fim ter que vê-los partir pode ser uma experiência bastante difícil. De acordo com uma nova pesquisa, este pode ser um momento duro também para os veterinários – principalmente quando eles não estão de acordo com as decisões dos donos dos animais.
Veterinários revelam o que os animais de estimação fazem logo antes da morte
De acordo com o estudo, publicado segunda-feira no Journal of Veterinary Internal Medicine e realizado com mais de 800 veterinários americanos, há um “sofrimento moral” comum entre eles. A pesquisa revelou que a maioria deles sente dúvidas éticas pelo menos algumas vezes em relação a coisas que os donos de animais de estimação lhes pedem para fazer, e isso está afetando a saúde mental destes profissionais.
“Estamos na posição nada invejável e realmente difícil de cuidar dos pacientes, talvez por toda a vida, desenvolvendo nossos próprios relacionamentos com esses animais – e depois sendo solicitados a matá-los”, diz a Dra. Lisa Moses, principal autora do estudo e veterinária da Sociedade Médica de Massachusetts para a Prevenção da Crueldade ao Animal – Angell Animal Medical Center e bioeticista na Escola de Medicina de Harvard, ao portal NPR – National Public Radio, dos EUA.
“Às vezes, os donos preferem que seus animais sejam sacrificados, porque não podem ou não querem pagar pelo tratamento. Ou o oposto, quando sabemos em nosso coração que não há esperança de salvar o animal, ou que o animal está sofrendo, e os donos têm um conjunto de crenças que os fazem querer continuar”, diz Virginia Sinnott-Stutzman, também veterinária do Angell Medical Center em entrevista ao portal NPR.
A pesquisa de Moses e seus colegas descobriu que este tipo de angústia é generalizada entre os veterinários: 69% dos participantes disseram que sentiram sofrimento moderado a grave por não poder dar aos animais o que eles achavam ser o tratamento correto. Quase dois terços se incomodaram com pedidos inapropriados de eutanásia.

Suicídio

Essa angústia entre os profissionais da área pode estar relacionada com outro problema ainda mais grave. Para J. Wesley Boyd, outro autor do estudo e psiquiatra da Cambridge Health Alliance e bioquímico de Harvard, há uma conexão entre as descobertas do estudo e estatísticas assustadoras sobre as taxas de suicídio dos veterinários: “Minha suposição é que as descobertas de nossa pesquisa são definitivamente parte, ou até mesmo a maioria, da razão pela qual os veterinários têm taxas de suicídio acima da média”, aponta.
“Uma pesquisa de mais de 10.000 veterinários dos EUA em 2014 determinou que mais de 1 em cada 6 veterinários pode ter experimentado ideias suicidas e quase 1 em cada 10 pode ter sérios distúrbios psicológicos”, escrevem os pesquisadores em seu estudo.
Segundo a matéria do NPR, Stutzman define sofrimento moral como o sentimento quando o veterinário determina um curso de tratamento ideal, mas é impedido de executá-lo – seja por causa do dinheiro, ou das crenças do proprietário, ou regras sobre “cães que mordem”.
10 animais de estimação que mataram seus donos sem querer
“O exemplo mais comovente é quando um cão jovem tem uma fratura – portanto, um problema totalmente solucionável, sem risco de vida, mas o dono não quer pagar por uma solução adequada nem ter um cachorro de três pernas, e opta pela eutanásia. Isso é uma coisa muito difícil de passar”, diz ela. A profissional também diz que é particularmente difícil quando os proprietários, envolvidos em sua dor, projetam sua raiva no veterinário. “Assim, neste exemplo”, ela explica, eles podem dizer: “‘Temos que matar nosso cachorro porque você só se importa com o dinheiro’, o que obviamente não é o caso.”
Stutzman endossa o apelo dos autores do estudo para um melhor treinamento para os veterinários em como lidar com o sofrimento moral. “Tudo o que aprendi sobre o enfrentamento veio de mentores e amigos fora da profissão veterinária, e é absolutamente necessário (que isso) faça parte de como ensinamos os veterinários”, alerta.
“Nós nos juntamos a outros pesquisadores da profissão veterinária ao pedir que as raízes do estresse e do pobre bem-estar na comunidade veterinária sejam totalmente exploradas e tratadas por sociedades profissionais”, concluem os pesquisadores no estudo.[NPR, Wiley Online Library]
(HScyence - Out/18)

Nenhum comentário:

Postar um comentário