segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Por que a morte é fundamental para que o mundo evolua

Por que a morte é fundamental para que o mundo evolua

Sentimos pela saudade que você sente dos tempos em que ouvia músicas no Walkman. A destruição criativa deve ter matado muitas coisas que você amava. Mas admita: você nem sente mais falta delas


Tudo começou com o fogo. Em um mundo pré-histórico, foi ele o responsável pelos primeiros passos do que chamamos de civilização. Depois, saudamos a roda, a eletricidade e tantas outras invenções que nos trouxeram ao mundo conforme conhecemos. No entanto, esses instrumentos de progresso nem sempre foram aceitos de imediato pela sociedade. Em diversas vezes o choque cultural foi tão intenso que fomos incapazes de perceber a revolução que ocorria diante dos nossos olhos, tanto a tecnológica quanto a de costumes.
As próprias empresas e o mercado foram responsáveis por promover a resistência em relação aos novos produtos que mudariam nossa forma de viver. Muitas vezes as companhias não queriam se reinventar. Por isso, promoviam ódio aos novos produtos, mais ou menos como vemos hoje nas guerras entre taxistas e Uber, companhias de telefonia e Whatsapp, emissoras de TV e Netflix.

Em meio às brigas, muitas vezes, o consumidor saiu como vencedor. O que alguns classificam como guerras entre mercados, o economista Joseph Schumpeter chamava de “destruição criativa”. Embora tenha morrido há mais de 50 anos, ele foi capaz de enxergar o empreendedorismo e a tecnologia como a pedra angular do próprio capitalismo. Para ele, a força vital da economia é a inovação. Por ser produto da Grande Depressão nos EUA e das instabilidades econômicas que tomaram conta da Europa após a Primeira Guerra Mundial, Schumpeter buscou as causas fundamentais para os ciclos de negócios. Para ele, a chegada de determinadas inovações foi responsável tanto pelo progresso quanto pelas instabilidades do capitalismo.

Essas instabilidades ele atribuiu ao princípio da "destruição criativa", um processo no qual novas tecnologias, novos tipos de produtos, novos métodos de produção e novos meios de distribuição fazem os antigos obsoletos, obrigando as empresas existentes a se adaptar rapidamente a um novo ambiente.
Acompanhamos esse fenômeno no momento com serviços como o Spotify, Netflix, Uber e outros atualmente. Mas já vimos acontecer no passado algumas vezes. Talvez você tenha até vivido alguns desses períodos. Confira abaixo:
Câmeras analógicas x digitais x smartphones
Desde que surgiram, ainda no século 19, o mercado e os hábitos de fotografia sofreram diversas mudanças, mas nada comparado ao processo que se iniciou nos anos 2000. Primeiro, tivemos a chegada das máquinas digitais que desestabilizaram e provocaram o encerramento da fabricação do filme Kodachrome, da Kodak. A preferência dos consumidores pelos novos aparelhos era óbvia: eles dispensavam o uso de filmes, permitiam que as pessoas tirassem inúmeras fotos e ainda vissem as imagens na hora. Esse leque de opções levou mesmo a Polaroid a parar de produzir filmes e a máquina de revelação instantânea - decisão revertida anos depois, movida por outro fenômeno muito forte do novo capitalismo, que é a cultura retrô, da qual já falamos aqui.



Para se ter ideia, durante o século 20, na época de ouro das analógicas, o mundo chegou a ter 85 bilhões de fotos físicas. Em 2000, já tínhamos a marca de 2,5 mil fotos sendo feitas por segundo.

A febre das máquinas digitais durou menos de uma década e a bola da vez já passou para os smartphones. Hoje, 92% dos usuários de celulares utilizam o dispositivo para fotografar. Segundo dados da Comtech, os compradores consideram a qualidade da câmera um dos critérios mais relevantes na hora de comprar um aparelho. Além disso, dizem que a câmera é o recurso mais utilizado nos smartphones. Com o predomínio desses gadgets, as marcas tradicionais de fotografia tentam encontrar uma maneira de sobreviver.

Quanto às analógica, elas permanecem vivas como itens “retrô”. Empresas como a Lomographic resgata as câmeras da marca russa Lomo PLC, criada em 1914. Vendidas em pequena escala, elas se tornaram objetos de desejo e navegam com maestria pela onda da nostalgia ao lado dos vinis, por exemplo.

E-books x livros impressos
Oito anos após a chegada do Amazon Kindle e cinco anos após o primeiro iPad da Apple, os livros de papel parecem ter superado a guerra da coexistência. Os dois finalmente entenderam que podem sobreviver e que há mercado para todos. Mas nem sempre foi assim. Em 2014, o mercado “de papel” caiu 10,3% nas vendas, durante o período em que o outro formato ganhava força. Por causa disso, iniciou-se uma guerra pela sobrevivência que agora, parece ter pelo menos dado uma trégua.

De acordo com uma pesquisa da Nielsen BookScan, que avalia a compra de livros, a venda das obras em papel aumentou 2.4%, incluindo na Amazon e outras livrarias. A Publishers Week afirmou que em 2014 os impressos tiveram seu melhor ano de vendas desde a explosão dos e-books em 2010, puxado pelos livros infantis, não-ficção e didáticos - 57% dos estudantes afirmam que preferem os formatos tradicionais.

Outro fator que contribui para que os livros de papel continuem vivos é que as pessoas que buscam esse formato gostam de estar livres das distrações oferecidas pelos tablets na hora da leitura. Além de poderem usar ferramentas não intuitivas, como um marca texto e uma caneta por exemplo.

Mas o futuro de tudo isso é incerto. Paulo Coelho, por exemplo, o escritor mais lido do Brasil no mundo, afirma que não lê mais livros de papel e faz forte campanha pela completa migração para o digital.

Enciclopédias x Internet

Antes de ser palco de embates como Uber x Táxis ou CDs x downloads de música, a internet promoveu o fim de um tradicional modelo de negócios: a enciclopédia. Os livros que ajudavam os estudantes já agonizavam quando veio o golpe final. Vendida desde 1768, há três anos a Encyclopedia Britannica deixou de ser impressa. Isso por que a tradição precisou ceder às pressões da internet. Já não valia mais a pena para o consumidor comprar as coleções da empresa se podia encontrar qualquer informação na rede, mais precisamente na Wikipedia, uma plataforma colaborativa de verbetes.
É importante destacar que esse foi um caso singular.



Embora a Encyclopedia Britannica tenha deixado de lado suas famosas coleções, a empresa detentora da marca seguiu rentável por ter se envolvido com negócios em aprendizado digital de ensino médio e fundamente. Na época em que a publicação da tradicional enciclopédia foi encerrada, esse produto representava apenas 1% do faturamento da companhia.

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CD-ROM X Pen Drive X Cloud
Quando a computação surgiu, a indústria discutia frequentemente modelos de armazenamento. Fomos de disquetes para o CD-ROM depressa, mas nada tão rápido como quando pulamos do disco para o cartão de memória, o pen-drive e, finalmente, chegamos à computação em nuvem.
A história começa para valer em 1981, quando a Sony lançou um disquete de 1,4 MB no mercado, produto que hoje é item de colecionador (os últimos exemplares foram produzidos em 2010). O dispositivo se popularizou na década de 1990 podendo guardar até 1,44Mb de conteúdo (isso era muito para a época, pode acreditar!).



O disquete começou a sentir a concorrência do CD-ROM, que tinha a capacidade de 500 disquetes. No meio disso tudo, ainda existia o ZipDrive, que possuía o tamanho de um disquete de 3,5 polegadas e podia armazenar 100 Mb. Apesar de ser uma tecnologia considerável para os padrões da época, o ZipDrive não sobreviveu a ações judiciais contra a marca lideradas por fabricantes de CDs e DVDs. Nos anos 2000, pouco se ouvia falar sobre o produto.

Embora inovador, o ZipDrive não causou metade do impacto dos cartões de memória, Pen Drive e hoje, da computação em nuvem. Depois de tantas mudanças, chegamos no momento em que não precisamos mais de dispositivos físicos para transportar nossos documentos. Hoje, pen drives e nuvem coexistem pacificamente.


Walkman x Discman x MP3 x iPods

Akio Morita, fundador da Sony, queria escutar ópera no trabalho sem incomodar ou ser incomodado. E a partir disso, surgiu a ideia para o Walkman, o primeiro aparelho de reprodução de som portátil e individual. Foi início de uma revolução no mundo da música. Em 1979, a empresa passou a produzir o produto em série e ao contrário do que imaginavam os diretores, foi um sucesso absoluto. Nos dois primeiros anos, foram 1,5 milhão de aparelhos vendidos atraindo a concorrência. Em pouco tempo a Panasonic, Toshiba e AIWA também lançaram aparelhos similares.

Não perdendo o rumo para inovação, em 1984, a Sony reinventou seu próprio produto. Se antes o Walkman permitia que as pessoas escutassem suas cassetes e rádio AM/FM, agora era a vez do Walkman CD ou Discman. Apesar da boa qualidade e de ser moderno, o Discman não superou o Walkman tradicional por dois motivos: era muito caro e consumia muitas pilhas. Isso levou a uma produção de pilhas recarregáveis, impulsionando dois tipos de produtos.

A gigante de tecnologia não parou aí. Disposta a continuar líder em inovação, colocou no mercado o MD Player e que em 2002, virou o NetMD que permitia conexão computadores via USB e os usuários podiam transferir músicas no formato MP3. Este equipamento era alimentado por uma bateria de lítio capaz de suportar até 24h de reprodução ininterrupta e ainda permitia conversão de músicas do CD para MP3 e a transferência de arquivos entre computador e aparelho. Tinha tudo para dominar o mercado, se não fosse um outro produto que estava ganhando o mundo, o iPod.

“Mil músicas no seu bolso”, assim foi apresentado por Steve Jobs o iPod, ainda em 2001.



Embora não tenha sido o primeiro reprodutor de MP3 no mundo, a Apple promoveu o aparelho como se fosse. Hoje as várias gerações do iPod somam os modelos: iPod Classic, iPod Mini, iPod Shuffle, iPod Nano e iPod Touch, que ganharam ao longo de suas gerações diferentes funcionalidades e mais capacidade de armazenamento.

Com o iPod a sociedade abandonou os CDs, as fitas e as pilhas. A indústria fonográfica precisou se reinventar. Comprar músicas agora significava ir no iTunes. Hoje, acompanhamos uma nova fase com o surgimento de streamings como Spotify e também da ascensão dos próprios smartphones como reprodutores de música. É mais um capítulo que se abre na indústria da música que pode levar aparelhos como o iPod ao desuso, mas aí só o tempo poderá dizer.

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