Comer demais pode ser um vício
Comer em excesso é uma das características do
estilo de vida das populações ocidentais. Alguns tipos de alimentos são
representativos desta situação. Quantos de nós já não sentiram a
sensação de sair de uma pizzaria achando que exagerou? Ou então
serviu-se de uma porção de sorvete na sobremesa e depois repetiu, e
repetiu, até chegar ao fundo do pote? Este desejo incontrolável de comer
e continuar comendo insaciavelmente, mesmo que isto depois provoque um
sentimento de culpa ou depressão, está agora sendo melhor entendido pela ciência.
De uns anos para cá um conjunto de evidências
científicas têm associado o desejo incontrolável por determinados
alimentos ao processo de adição e dependência, tal qual ocorre
com drogas ilegais. É uma adição ao alimento. A consequência é o aumento
da ingestão calórica com um adicional energético que leva à obesidade.
Resultados de uma pesquisa recentemente publicados na revista científica PLOS ONE indicam que componentes de alguns alimentos podem levar a um processo de adição alimentar em que a pessoa ficaria "viciada" no alimento.
O estudo refere resultados de outro trabalho demonstrando que alimentos
com alto teor de açúcar e gordura afetam o cérebro da mesma maneira que
drogas como heroína e morfina. Pessoas obesas com desejo incontrolável
por determinados alimentos e que tiveram seus cérebros analisados por
exames de imagens dinâmicos, apresentam um número menor de receptores de
um neurotransmissor chamado dopamina em uma área do cérebro responsável
pela sensação de recompensa. É o mesmo padrão encontrado nos viciados em drogas.
Biologicamente foi decisivo para os humanos
primitivos sofrerem um processo adaptativo-evolutivo em que, com a
dificuldade natural de obter alimentos e não dominando ainda a
agricultura, os alimentos com maior densidade calórica causassem uma
sensação maior de bem-estar, o que fazia que esta escolha fosse
repetida, com todos os seus benefícios energéticos para aquela época.
Pois nos adaptamos, a espécie humana é um
sucesso evolutivo absoluto e nosso cérebro continua o mesmo. No entanto,
o progresso e a tecnologia trouxeram uma maior oferta de alimentos,
principalmente de alimentos energeticamente densos e de absorção muito
rápida pelo organismo, altamente palatáveis (alimentos
processados/refinados com muito açúcar e gordura),
e que nós ingerimos em uma quantidade muito maior do que necessitamos.
Os receptores de dopamina não dão conta de toda esta satisfação
dopaminérgica e para ter a mesma sensação de bem estar é necessário
liberar mais dopamina, ou seja, precisamos de mais desses tipos de
alimentos. Exatamente como ocorre com as drogas. Cria-se a adição
(vício).
Este estudo apresenta evidências preliminares
que alguns tipos particulares de alimentos podem induzir um
comportamento de adição. Muitas vezes aquilo que parece ser uma falta de
força de vontade do indivíduo obeso para evitar comer demais
determinados alimentos é, na verdade, uma doença e deve ser abordada
como tal.
Autor: Equipe ABC da Saúde
Referência Bibliográfica
- -PLOS ONE | DOI:10.1371/journal.pone.0117959 February 18, 2015
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