Estresse aumenta o risco de infertilidade em mulheres
A inter-relação entre estresse e fertilidade em
mulheres vem sendo sugerida por dados da literatura científica há algum
tempo. Entretanto, ainda não está clara a direção desta associação,
permanecendo o papel do estresse nessa relação ainda controverso.
Esta semana foi publicada uma pesquisa na revista médica Human Reproduction
que encaminha uma resposta para esta questão que relaciona estresse com
infertilidade. O objetivo do estudo foi avaliar esta possível
associação utilizando um marcador de estresse em mulheres. O biomarcador
utilizado foi a enzima alfa-amilase, coletada da saliva de mulheres que
estavam tentando engravidar. O fato desta enzima aumentar nas situações
de estresse, e poder ser detectada na saliva, torna-a ideal para uso em
estudos de base populacional. Além disso, trabalhos recentes sugerem
que os estresses psicológicos produzem um aumento mais pronunciado na
alfa-amilase salivar, quando comparado com os estresses físicos.
Foram coletados dados de mais de 400 casais,
entre 2005 e 2009, que interromperam a anticoncepção com o fim de
engravidar. Para fins de avaliação do estresse, as mulheres coletaram
saliva para a dosagem do biomarcador por duas vezes. A primeira, quando o
estudo iniciou e a segunda, no primeiro ciclo menstrual do período do
estudo. A capacidade de engravidar foi medida pelo tempo despendido para
engravidar. Os casais foram acompanhados por 12 meses para observar se
houve concepção. Os dados foram ajustados para evitar que fatores como
idade, raça, padrão econômico, consumo de álcool, tabaco e cafeína
interferissem na análise.
Da totalidade de casais que completaram o
protocolo, 87% das mulheres engravidaram e 13 % não engravidaram. Os
pesquisadores encontraram, pela análise dos resultados, que, as mulheres
com a maior concentração da alfa-amilase na saliva (o marcador do
estresse), tiveram uma probabilidade 29% menor de engravidar, quando
comparadas com as mulheres com a menor concentração da enzima. Esta
redução de fecundidade, representa um risco 2 vezes maior de
infertilidade entre essas mulheres.
Uma das explicações para estes resultados
poderia ser a de que o estresse levaria a uma menor frequência de
intercursos sexuais. Entretanto, pelos dados coletados, ficou claro aos
pesquisadores que não foi uma redução do número de intercursos sexuais o
responsável pela redução da fecundidade, desde que este número não foi
estatisticamente diferente entre os grupos de maior fecundidade e os de
menor fecundidade. O mecanismo exato pelo qual o estresse afetaria a
fecundidade não ficou esclarecido pelo trabalho.
Apesar desta pesquisa apresentar algumas
limitações metodológicas, seus resultados contribuem para reforçar a
ideia de uma associação entre estresse (particularmente neste estudo, o
estresse psicológico) e infertilidade em mulheres.
Autor: Equipe ABC da Saúde
Referência Bibliográfica
- -Human Reprouction.- Advance Access March 23, 2014 - doi:10.1093/humrep/deu032
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