Ariano Suassuna
Literatura
Ariano Suassuna, fundador do Movimento Armorial, defendeu a cultura popular brasileira e a fusão dos elementos eruditos aos elementos populares nordestinos.
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
(Soneto “Lápide”, de Ariano Suassuna)
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
(Soneto “Lápide”, de Ariano Suassuna)
O soneto que você leu é de autoria de Ariano
Suassuna, escritor, dramaturgo e poeta que ficou mais conhecido por sua
produção em prosa, embora tenha se arriscado a escrever versos ao longo
de sua vida. Um dos expoentes literários da cultura nordestina, Ariano
rompeu fronteiras regionais e caiu nas graças do público brasileiro, que
se rendeu à simpatia de dois de seus maiores personagens, João Grilo e
Chicó, da peça teatral em forma de auto, Auto da Compadecida.
Ariano Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves,
hoje João Pessoa, na Paraíba, no dia 16 de junho de 1927. Filho de um
influente político, João Suassuna, cujo assassinato foi movido por
motivações políticas, Ariano viu sua vida marcada pelo trágico episódio
e, até o final de seus dias, defendeu a inocência do pai, acusado de ser
o mandante do homicídio contra João Pessoa, então governador da
Paraíba. Em 1942, ingressou na Faculdade de Direito e, enquanto estudava
as leis, escrevia suas primeiras peças para teatro, encenadas no Teatro
do Estudante Pernambucano, espaço criado por ele e pelo amigo Hermilio
Borba Filho. Pouco advogou e, em 1957, tornou-se professor dos
Departamentos de História e de Teoria da Arte e Expressão Artística da
Universidade Federal do Pernambuco, cargo no qual permaneceu durante 31
anos.
O Movimento Armorial
Lançado no dia 18 de outubro de 1970, o Movimento
Armorial, criado por Ariano Suassuna, foi um movimento artístico que
apresentou o sertão como um universo cultural e lúdico, espaço até então
colocado em segundo plano na cultura brasileira. A intenção era
construir uma arte essencialmente erudita através de elementos
autenticamente nacionais, fundindo a cultura popular com o intrincado
universo erudito. O Movimento Armorial tinha por objetivo também
subverter a estética regionalista dos anos 30, demasiadamente preocupada
com questões sociopolíticas.
Enquanto em “Os Sertões” - obra fundadora do
Movimento Armorial - Euclides da Cunha construiu uma imagem do sertanejo
completamente oposta à imagem do gaúcho, visto como homem bravo e
destemido, na obra de Ariano esse mesmo sertanejo foi transportado para
um universo mítico, retirado de sua vida comum e colocado no centro de
uma narrativa lúdica, resgatando assim o espírito mágico dos folhetos do
Romanceiro Popular do Nordeste. O Movimento Armorial, muito mais do que
uma estética literária, foi um movimento artístico que incluiu
diferentes tipos de arte, como música, dança, teatro e arquitetura.
Obra de Ariano Suassuna
Entre seus livros mais famosos estão Os homens de barro, Romance d' A pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta e Auto da Compadecida**
Ariano escreveu diversas peças, entre elas Uma mulher vestida de sol, Cantam as harpas de Sião, Os homens de barro, Auto de João da Cruz e Auto da Compadecida,
certamente a obra mais famosa de Ariano, considerada, pelo teórico e
crítico teatral Sábato Magaldi, como o texto mais popular do moderno
teatro brasileiro. Entre as obras de ficção estão Fernando e Isaura, Romance d' A pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta, As infâncias de Quaderna e História d' O rei degolado nas caatingas do sertão. Cronologicamente, Ariano Suassuna foi considerado como integrante do movimento modernista de 1945, embora em sua obra sejam encontradas referências ao Simbolismo e até mesmo ao Barroco.
Morte de Ariano Suassuna
Ariano Suassuna faleceu no dia 23 de julho de 2014,
aos 87 anos, na cidade de Recife, capital do Pernambuco, em decorrência
de um Acidente Vascular Cerebral. Ariano percorria o Brasil ministrando
suas “aulas-espetáculo” em teatros e universidades, defendendo
ardorosamente a cultura brasileira e a identidade nacional contra o lixo
cultural importado dos Estados Unidos. Em uma de suas mais célebres
frases, Ariano afirmava: “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem
me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”,
resumindo assim sua intensa e importante trajetória na Literatura
Brasileira.
* A imagem que ilustra o artigo é capa do periódico “Cadernos de Literatura Brasileira”, do Instituto Moreira Salles.
** A imagem que ilustra o miolo do artigo foi feita a partir de capas de livros do escritor Ariano Suassuna.
** A imagem que ilustra o miolo do artigo foi feita a partir de capas de livros do escritor Ariano Suassuna.
Por Luana Castro
Graduada em Letras
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