Parceiros
Edson Vidigal
Os parceiros atuam como se o plural que são se resumisse ao singular em que resultam.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Muito se tem cantado, e mais ainda se cantará, louvando a amizade, a parceria afetiva e de sonhos entre irmãos ou camaradas.
Esta palavra –
camarada – tanto serve para designar companheiros de armas, infantaria,
(por exemplo, avante, camaradas...) quanto para definir aquele ou aquela
com quem se divide a cama.
Muitas parcerias
têm rendido bons resultados quando somam talento com sentimento,
inspiração romântica e paixão amorosa com canção.
Os parceiros atuam como se o plural que são se resumisse ao singular em que resultam.
Nas canções mais que nos discursos, há perfeita sintonia entre sons e palavras, melodia e poesia.
Qual parceria não
sendo a de Tom e Vinicius faria "Chega de Saudade"? "Pra Dizer Adeus"
de Torquato não teria sido de bom acabamento se o Edu não a completasse
com os versos da segunda parte e os acordes gerais.
Há casos de autor
parceiro de si mesmo – Chico Buarque não seria por um bom tempo o
Julinho da Adelaide driblando a censura do regime militar se depois de
algumas provocações não tivessem os espiões do regime descoberto que o
neguinho filho da preta Adelaide era também, ao mesmo tempo, o filho de
D. Maria Amélia e do Professor Sergio Buarque.
("Acorda amor/
Não é mais pesadelo nada / Tem gente já no vão de escada /Fazendo
confusão, que aflição / São os homens / E eu aqui parado de pijama / Eu
não gosto de passar vexame / Chame, chame, chame /Chame o ladrão, chame o
ladrão / (...)"
Niemayer morreu
como sinônimo de Brasília, mas foi a sua parceria com Lúcio Costa que
lhe ensejou os espaços arquitetônicos que soube preencher com inspiração
e talento.
Perón, na
Argentina, teria chegado aonde se mantém até hoje sem a parceria
destemida de Evita? E Fidel sem Che até onde teria ido? Chitãzinho sem
Chororó? Obama sem a Michelle?
Na política por estas paragens, as parcerias têm sido mais deletérias que saudáveis.
A parceria de
Vitorino com todos os Presidentes da Republica, civis ou militares,
fazendo moeda de troca com os votos dos Deputados e Senadores que
encabrestava no Congresso lhe rendeu poder e os desmandos de uma
oligarquia que de uma só vez atrasou o Maranhão em exatos 20 anos. Minha
geração indignada achava que 20 anos era muita coisa.
O coronelismo
daqueles tempos deitou raízes rios adentro e terras afora. Todo aprendiz
de coronel da política começa seu curso com gargarejos de intolerância,
exercícios de egocentrismo e atitudes de arrogância.
Os falsos profetas
parecem não gostar de parcerias entre si. Eles preferem a ação solitária
no estelionato, a camaradagem de si para si mesmo na pilhagem, a
parceria com a mentira, - ela, a mentira, argamassa do caos.
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.
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