- A
coalhada de soja embolorada parece ter sido o primeiro antibiótico
natural, utilizado pelos chineses por volta de 500 a.C. para tratar
furúnculos e outras infecções semelhantes. Quase tão antigo, e presente
em várias civilizações, é o uso de pão embolorado e teias de aranha em
ferimento infeccionados.
- Embora os médicos tenham procurado nos 2 mil anos seguintes uma
espécie de medicamento que combatesse a infecção por bactérias, nenhum
pesquisador pensou em investigar cientificamente o folclore medicinal em
relação aos bolores.
- O primeiro antibiótico moderno, a penicilina, foi uma descoberta casual do bacteriologista escocês Alexander Fleming, em 1928. Fleming havia sido um oficial médico nos hospitais militares da Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial.
- Notando
a séria necessidade de um agente bactericida para tratar dos ferimentos
infeccionados, após a guerra retornou ao St. Mary’s Hospital, em
Londres, para pesquisar sobre o problema.
- Em
1928, enquanto estudava o Staphylococcus aureus, uma bactéria
responsável pelos abscessos e várias outras infecções, Fleming entrou de
férias por alguns dias, deixando seus recipientes de vidro com cultura
sem supervisão. Ao retornar, notou que a tampa de um dos recipientes
havia escorregado e que a cultura havia sido contaminada com o mofo da
atmosfera.
- Fleming estava a
ponto de jogar fora a cultura quando a curiosidade o fez examiná-la. Na
área onde o bolor estava crescendo, as células do Staphylococcus haviam
morrido. Ele imediatamente percebeu o significado dessa descoberta e
verificou que o bolor, uma espécie do fungo Penicillium, estava
secretando uma substância que destruía as bactérias. Embora ele não
tenha conseguido isolar a substância - o que foi feito dez anos depois
por Ernst B. Chain e Howard W. Florey, na Inglaterra -, ele a chamou de
penicilina.
- Muitos cientistas
estavam céticos quanto ao potencial do bolor que havia aparecido por
acaso na lâmina de Fleming. Não se mostravam dispostos a experimentar em
seus pacientes um bolor comum. Outros problemas resultaram da
fragilidade do bolor: ele era fraco, impuro e facilmente destrutível
pelas mudanças climáticas e acídicas. Eram necessárias grandes
quantidades para obter uma concentração de penicilina suficiente para um
único paciente, e Fleming não tinha verba suficiente.
- Com
a Segunda Guerra Mundial houve uma necessidade de antissépticos para
combater as infecções das tropas feridas. O dr. Howard Walter Florey,
professor de patologia em Oxford, tinha ouvido falar sobre o bolor de
Fleming e levou a pesquisa adiante.
- Com
uma equipe de 20 cientistas e técnicos, Florey cultivou novamente o
bolor de Fleming. Durante meses, a equipe manteve enormes tonéis de um
caldo embolorado e malcheiroso, tentando extrair o ingrediente
principal. O dr. Ernst Boris Chain conseguiu extrair da solução um pó
marrom, que destruiu instantaneamente algumas bactérias; na verdade, o
extrato continha apenas cerca de 5% de penicilina em sua forma química
pura.
- Os cientistas testaram a substância em 80 diferentes micróbios; descobriram que os fluidos do sangue não eram hostis à substância e que os glóbulos brancos não eram danificados nem se tornavam inativos. Prepararam um sal de penicilina (contendo sais de sódio e cálcio), que era
mais estável do que o bolor, e foram bem-sucedidos na cura de ratos que
receberam injeções de doses fatais de Staphylococcus aureus,
Streptococcus pyogenes, e outras bactérias. Suas descobertas formaram a
base para o tratamento com penicilina que se pratica até nossos dias.
- Em
1940, a penicilina foi utilizada, na Inglaterra, no primeiro paciente
humano, um policial com um quadro avançado de infecção sangüínea. Por
cinco dias os médicos administraram a droga a cada duas ou três horas (a
penicilina sai rapidamente do corpo pela urina e, por isso, deve ser
reposta em intervalos freqüentes e regulares). O policial havia se
recuperado significativamente quando o suprimento de penicilina se
esgotou e as injeções foram suspensas.
- A
infecção alastrou-se e acabou por vencê-lo. Os cientistas britânicos
ainda não tinham conseguido produzir penicilina em quantidade suficiente
para salvar uma vida. Num segundo caso, no entanto, um jovem, que
também sofria com uma infecção sangüínea, recebeu penicilina suficiente
para se recuperar.
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