terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Como arroz, macarrão e outros alimentos guardados e consumidos depois de muito tempo podem nos matar

Como arroz, macarrão e outros alimentos guardados e consumidos depois de muito tempo podem nos matar

Por , em 4.02.2019 Guardar a comida que sobra de uma refeição de maneira correta é muito importante. Porém, nós costumamos ter mais cuidado com alguns tipos de alimentos que, teoricamente, estragam mais fácil. Carne, por exemplo. Todo mundo sabe que precisa ser guardada na geladeira, assim como laticínios. Mas e quanto ao arroz? E o macarrão? Nem sempre este tipo de alimento é guardado corretamente, e isso pode ser bastante perigoso para a saúde.
Isso é verdade por causa de uma bactéria chamada Bacillus cereus. Não sendo particularmente rara (seu habitat natural é bastante amplo – solo, comida ou nosso intestino), a B. ceres pode representar um risco enorme para a saúde humana. “Os habitats naturais conhecidos de B. cereus são extensos, incluindo solo, animais, insetos, poeira e plantas”, conta em matéria publicada no portal Science Alert Anukriti Mathur, pesquisadora de biotecnologia da Universidade Nacional Australiana.
Embora mortes sejam raras, elas continuam sendo registradas na literatura médica. Um estudante belga de 20 anos morreu após comer uma porção de espaguete com molho de tomate em 2008. Ele preparava suas refeições para a semana e cozinhara a massa cinco dias antes – a intenção era aquecê-la junto com o molho no dia da refeição. Naquele dia, ele acidentalmente deixou sua comida no balcão da cozinha por um período indeterminado de tempo.Depois de sofrer com diarreia, dor abdominal e vômito profuso, o jovem morreu mais tarde naquela noite.
Mathur explica que estas bactérias se reproduzem utilizando os nutrientes de produtos alimentícios que incluem arroz, laticínios, temperos, alimentos secos e vegetais. Algumas cepas dessa bactéria são úteis para os probióticos, mas outras podem causar intoxicação alimentar, às vezes mortal, se lhes for dada a capacidade de crescer e se proliferar – ou seja, quando armazenamos alimentos em condições erradas.
A B. cereus segrega toxinas perigosas nos alimentos. Algumas dessas toxinas são resistentes ao calor do microondas, por exemplo.Uma das toxinas que causa vômitos em humanos, chamada de toxina emética, pode suportar 121 ° C por 90 minutos – e essa não é a única toxina perigosa liberada pela bactéria. “Nosso sistema imunológico reconhece uma toxina [hemolisina BL] secretada por B. cereus, que leva a uma resposta inflamatória. Nosso estudo mostra que a toxina atinge e perfura buracos na célula, causando morte celular e inflamação”, explica Mathur, falando sobre um estudo publicado em 2018 sobre a bactéria, do qual ela foi co-autora.

Mortal

Embora raros, casos mortais ligados à B. cereus já foram registrados. Em 2005, um caso mortal causado pela B. cereus foi descrito no Journal of Clinical Microbiology: cinco crianças de uma família ficaram doentes por comerem salada de macarrão feita quatro dias antes. De acordo com o estudo de caso, a salada de macarrão foi preparada em uma sexta-feira, levada para um piquenique no sábado. Depois de voltar do piquenique, foi guardada na geladeira até a noite de segunda-feira, quando as crianças foram alimentadas com ela para o jantar.
Seu corpo pode estar interpretando o que você come da pior maneira possível.
Naquela noite, as crianças começaram a vomitar e foram levadas para o hospital. O filho mais novo morreu com insuficiência hepática, enquanto outro também teve insuficiência hepática, mas sobreviveu. Os outros dois apresentaram intoxicação alimentar menos grave e puderam ser tratados com líquidos. “B. cereus é uma causa bem conhecida de doenças transmitidas por alimentos, mas a infecção com este organismo não é comumente relatada por causa de seus sintomas geralmente leves”, explicam os pesquisadores no estudo. “Um caso fatal devido a insuficiência hepática após o consumo de salada de macarrão é descrito e demonstra a possível gravidade (da bactéria”, dizem em sua pesquisa.
Após o caso de 2011, mais dois foram registrados. Ambos com jovens que sofreram insuficiência hepática e morreram de B. cereus – um de 11 anos, que morreu depois de comer macarrão chinês, e um de 17 anos, que morreu depois de comer espaguete quatro dias depois da massa ser feita.
Estes são, é claro, casos extremos. A maioria das pessoas que fica doente por causa da B. cereus não acabam tendo insuficiência hepática. Normalmente, têm um caso bastante leve de intoxicação alimentar.

“É importante notar que B. cereus pode causar condições graves e mortais, como sepse, em pessoas imunocomprometidas, bebês, idosos e mulheres grávidas. A maioria dos indivíduos afetados melhora com o tempo, sem qualquer tratamento. Esses indivíduos não vão ao médico para receber um diagnóstico”, diz Mathur ao Science Alert.

O que fazer?

A pesquisas dizem que algumas medidas médicas podem ser tomadas para evitar o risco. Duas delas, em particular, podem ajudar o corpo a neutralizar o efeito da hemolisina BL, interrompendo o risco de morte causado pela B. cereus. Os métodos envolvem o bloqueio da atividade da toxina ou a redução da inflamação causada por ela.
Embora sua abordagem ainda esteja nos estágios iniciais da pesquisa, a equipe espera que essas técnicas possam ser usadas em outras bactérias produtoras de toxinas, como a E. coli.A medida mais importante, porém, é a mais simples: manter a comida na geladeira e ter uma boa higiene na cozinha. “É importante que as pessoas lavem as mãos adequadamente e preparem os alimentos de acordo com as diretrizes de segurança. Além disso, o aquecimento da sobra de comida destrói a maioria das bactérias e suas toxinas”, sugere Mathur.
“É importante lembrar que quando você cozinha, você precisa colocar a comida na geladeira, seja comida quente ou comida fria. Certifique-se de que esteja refrigerada, não a mantenha por muito tempo. E há certos alimentos que são uma armadilha: massas, arroz, sopas, molhos. Certifique-se de que, ao cozinhá-los, eles sejam refrigerados e não mantidos por muito tempo”, sentencia o médico Andrew Ordon, em matéria publicada no portal Inside Edition. [Science Alert, Inside Edition]
Fonte:HScyence -  Fev/18

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