terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Infecção hospitalar: entenda o que é e suas principais causas no Brasil e no mundo


Infecção hospitalar: entenda o que é e suas principais causas no Brasil e no mundo

Infecção Hospitalar
Problema é o evento adverso que mais mata nos serviços de Saúde; no Brasil atinge 14% das internações

A infecção hospitalar (IH) é o evento adverso que mais mata nos serviços de Saúde em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo um risco enorme para a segurança do paciente. O combate ao problema envolve desde a adoção de novas tecnologias até mudanças simples de cultura, como o aumento de higienização.
A questão é especialmente crítica porque atinge as duas pontas do cuidado: “Para o paciente, a IH prolonga o tempo de hospitalização e o uso de outros antibióticos com mais efeitos colaterais. Para o hospital, há o custo do leito que fica ocupado, da compra de materiais e, às vezes, até da dedicação de um enfermeiro em um quarto de isolamento”, afirma Ana Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), referência mundial no assunto, identifica alguns tipos de IH:
- Pneumonia
- Outras infecções relacionadas ao trato respiratório
- De ossos ou articulações
- De trato urinário
- De sistema cardiovascular
- De sepse clínica
- Gastrointestinal
- Pós-cirúrgica
- De corrente sanguínea
- De olhos, orelhas, nariz, garganta ou boca
- De pele
- De sistema reprodutivo
De acordo com o instituto, entre 20% e 30% dos casos podem ser prevenidos com programas de controle e aumento da higiene. No continente europeu, a IH acomete cerca de 4 milhões de pacientes anualmente, matando diretamente ao menos 37 mil deles, e contribuindo indiretamente para outros 110 mil óbitos. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o departamento mais suscetível ao problema, uma vez que abriga os pacientes em condição mais sensível.
Outro estudo do ECDC, feito em hospitais europeus em 2012, verificou que 6% dos pacientes tinham pelo menos uma IH, sendo que em 23% dos casos ela estava presente no momento da admissão - e, em 54% das vezes, relacionada a uma passagem anterior no mesmo instituto de Saúde.

As principais causas
Apesar de a higienização incompleta das mãos ser apontada como o principal fator, as causas das IHs são diversas. “Há muitos fatores envolvidos. Existe a suscetibilidade do paciente, que pode ser obeso, diabético ou ter insuficiência renal, por exemplo, debilitando o sistema imunológico. Há também casos de o tratamento médico precisar ser invasivo, quebrando a barreira natural de proteção do paciente”, enumera Ana. “Por isso já seria impossível o índice zero de infecção”, completa.
Rogério Medeiros, professor da pós-graduação da Universidade São Camilo, aponta também o problema da movimentação de médicos e profissionais de Saúde que trabalham em mais de uma instituição, além de pacientes que são atendidos em diversos lugares, como uma das causas da proliferação de casos de IH. “Eles sempre carregam bactérias, que são transmitidas”, lembra.
Entre questões mais específicas do Brasil, Medeiros fala em uma tecnologia de higienização ainda deficiente. Já a infectologista aponta um sistema terciário sobrecarregado devido à ineficiência das etapas anteriores: “Se, no geral, o posto de Saúde funcionasse melhor, desafogaria as instituições de maior porte”, defende.

IH atinge 14% das internações no Brasil
No Brasil, o tema é monitorado nacionalmente pela Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que engloba no conceito de Infecção Associada à Assistência à Saúde (Iras). No âmbito estadual e municipal, são responsáveis as Coordenações de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH e CMCIH, respectivamente), criadas em 1993. A Lei nº 9431/1997, regulamentada no ano seguinte, tornou obrigatória nos hospitais, entre outros fatores, as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).
A medida foi atrelada à obrigatoriedade, a partir de 2013, da implantação do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) em serviços de Saúde. Na mesma data, a agência publicou seis protocolos básicos de segurança do paciente, incluindo a higiene das mãos.
Os dados referentes ao País ainda são incipientes - em seu último levantamento, em 2010, a OMS apontava que as IHs atingiam 14% das internações. “É difícil ter uma noção geral da situação no País porque ela varia e não temos um inquérito nacional de avaliação”, pontua Ana.
A Anvisa recolhe somente informações sobre Infecções Primárias de Corrente Sanguínea (IPCS), Cesarianas (ISC - PC) e mapeamento de resistência bacteriana. Os dados são notificados por meio de formulário eletrônico.
Em 2015, 2.036 hospitais notificaram 25.265 casos de IPCS que foram confirmadas laboratorialmente, a maior parte delas em UTIs adulto e pediátricas. No mesmo ano, 1.223 emitiram avisos de ISC - PC, resultando em 9.466 casos da infecção em um universo de 861.604 cesarianas (ou seja, aproximadamente 1,1%). As informações sobre a maioria dos Estados estão disponíveis individualmente.
A própria entidade registrou em seu Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde, de 2015, que os resultados devem ser vistos com ressalvas, “diante das possíveis limitações apresentadas como subnotificação, qualidade dos dados, aplicação inadequada dos critérios diagnósticos, falhas nos métodos de vigilância, ausência de vigilância pós-alta, dentre outras.
Essa limitação é vista como um problema para a infectologista. “Em alguns países, como os Estados Unidos, já há uma obrigação maior no sentido de informar os dados para a sociedade. Inclusive, há convênios que não remuneram hospitais com presença de IH”, pontua a infectologista.

Tecnologia como solução para segurança do paciente
A tecnologia entra como figura-chave na resposta ao problema, ao permitir um maior controle do ambiente hospitalar. “O uso de soluções de gestão sistematiza os processos, construindo indicadores e não deixando o hospital esquecer nenhum ponto estratégico no combate às IH, contribuindo para a segurança do paciente, exemplifica a infectologista.
Unidades de medida como taxa de infecção hospitalar e índice de infecção por corrente sanguínea, são essenciais para a instituição monitorar de forma inteligente e precisa a situação atual das ocorrências. E, com esses dados em mãos adquiridos de forma mais rápida pelo uso de sistema de gestão de saúde, é possível criar planos de ação: “Essas informações dão um parâmetro de qual área é mais importante focar, ajudando nas decisões estratégicas”, complementa Ana.
Fonte:mv.com.br

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