Açúcar nos alimentos processados: como e por que reduzir?
04 Jul 2013 - Por
Ana Paula Bortoletto
O açúcar é um alimento presente na cultura alimentar do brasileiro.
São diversos tipos e maneiras de consumo, incluindo o açúcar
naturalmente presente em alimentos como nas frutas (frutose) e no leite
(lactose) e o açúcar que é adicionado a alimentos ou preparações
culinárias como o açúcar de mesa (sacarose) em diferentes formas de
apresentação (refinado, mascavo, demerara etc.) e utilizado em inúmeras
formulações de produtos alimentícios como biscoitos, bebidas lácteas.
O consumo elevado de açúcar está associado ao aparecimento de diversas
doenças, incluindo a cárie dental, o ganho excessivo de peso, doenças
cardiovasculares e diabetes. Por conta disso, a Organização Mundial de
Saúde recomenda que o consumo de açúcar adicionado não ultrapasse 10%
das calorias consumidas por pessoa por dia.
No Brasil, o consumo de açúcar está muito acima do limite máximo
recomendado. Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE
indicam que a participação do açúcar adicionado na dieta dos brasileiros
é de 16% das calorias. No período de 1987 a 2003 esse valor não se
alterou, porém, aconteceram mudanças em relação à fonte do açúcar
consumido. Observou-se a substituição do uso de açúcar refinado e outros
adoçantes calóricos (como mel) para adoçar bebidas ou em preparações
culinárias pelo açúcar adicionado pela indústria em refrigerantes,
doces, balas, chocolates, biscoitos etc.
Devido ao aumento da participação do açúcar adicionado na dieta
brasileira e as consequências negativas do consumo excessivo desse
nutriente para a saúde, o Ministério da Saúde iniciou nesse mês a
discussão sobre a redução do teor de açúcar em alimentos
industrializados. Foi realizado pela Coordenação Geral de Alimentação e
Nutrição do Ministério da Saúde o I Seminário Nacional sobre a Redução
do Consumo de Açúcar, que contou com a participação de representantes do
governo, indústria, academia, e entidades profissionais, científicas e
de defesa do consumidor, incluindo o IDEC (Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor).
Nesse evento, foram apresentadas as perspectivas e expectativas do
governo e do setor industrial em relação à redução do consumo de açúcar,
além do atual panorama de consumo alimentar e de tecnologia de
alimentos em relação ao açúcar. Entre os pontos destacados, foi
levantada a questão da substituição do açúcar por aditivos edulcorantes.
A princípio, essa seria uma alternativa para a indústria, que reduziria
a quantidade açúcar sem alterar o sabor doce. Porém, foi destacado pela
ANVISA que essa prática não é vista com bons olhos, pois o uso
excessivo de edulcorantes é prejudicial à saúde e, portanto esta não é
uma medida recomendada para ser aplicada para toda a população.
Outro ponto debatido foi que, além de adoçar, o açúcar possui outras
funções nos produtos alimentícios como textura, cor, conservação e até
fermentação. Por conta disso, será necessário estudar quais os tipos de
produtos que poderão ser reduzidos em açúcar (e em doçura), sem perder
outras características sensoriais importantes. Na Europa, por exemplo,
os sucos de fruta sem adição de açúcar precisam passar por processos que
alteram a cor do produto para garantir a conservação e esterilização
dos mesmos. A tecnologia para reduzir o açúcar nos produtos já existe e
é viável, basta haver um investimento por parte da indústria para
usá-la no Brasil, aliada ao trabalho de educação e sensibilização da
população para consumir alimentos com sabor um pouco menos doce. Para
isso, estudos de análise sensorial poderão ser realizados para que a
redução seja gradual e quase imperceptível para o consumidor.
Por fim, outro ponto importante debatido foi a ausência da quantidade
de açúcar adicionado na rotulagem nutricional dos alimentos no Brasil.
Os nutrientes incluídos na rotulagem são pactuados entre os países do
Mercosul, e atualmente, está em discussão a inclusão do açúcar total na
tabela de composição das embalagens. O problema dessa medida é que no
açúcar total também está incluído o açúcar naturalmente presente nos
alimentos, dificultando a identificação do teor de açúcar de fato
adicionado pela indústria nos produtos processados. Outras ideias para
melhorar o acesso à informação aos consumidores também foram levantadas,
como a proposta do semáforo nutricional, que inclui na parte frontal
das embalagens o valor de cada nutriente com cores vermelha, amarela ou
verde, indicando se a quantidade é alta, média ou baixa. Essa proposta
foi recentemente aprovada no Reino Unido e o IDEC avaliou em pesquisa
recente que o uso do semáforo nutricional pode facilitar o entendimento
dos consumidores em relação ao perfil de nutrientes dos alimentos.
Após esse processo de debates e proposições, o Ministério da Saúde
planeja assinar uma carta com os representantes da indústria para
redução voluntária da quantidade de açúcar dos alimentos processados,
assim como foi feito em relação ao sódio. Esta é apenas uma das medidas
para reduzir o consumo de açúcar na população brasileira e poderá ser
potencializada se estiver associada a outras medidas como a taxação de
alimentos com alto teor de açúcar e a regulamentação da publicidade
desses alimentos voltadas ao público infantil.
O Idec irá participar das discussões e opinar sobre o tema, na
esperança de que as metas a serem adotadas sejam capazes de contribuir
de fato para melhoria da saúde da população brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário