Carta de Einstein sobre Deus
Por Guilherme de Souza em 27.10.2012 as 11:00
Um ano antes de morrer, o célebre físico Albert Einstein escreveu, em 3 de janeiro de 1954, uma carta ao filósofo judeu Eric B. Gutkind, expressando sua visão sobre o povo judeu, as religiões e a existência de Deus. O documento foi leiloado no eBay de 8 a 18 de outubro, e foi vendida por US$ 3 milhões (mais de R$ 6 milhões).
“Estamos excitados por oferecer a uma pessoa ou organização a oportunidade de possuir um dos documentos mais intrigantes do século 20″, disse Eric Gazin, presidente da Auction House (agência que está cuidando da venda), em entrevista ao LiveScience. “Esta carta pessoal de Einstein representa um nexo entre ciência, teologia, razão e cultura”.
A carta só recebeu dois lances. O comprador permaneceu anônimo.
Gazin tinha dito que o preço da carta poderia triplicar com a venda. O antigo dono do documento, também não identificado, adquiriu a “carta sobre Deus” em 2008, num leilão em Londres (Inglaterra), por 404 mil dólares (cerca de R$ 808 mil), valor 25 vezes maior do que o inicial estimado.
O documento ficou guardado em um ambiente com luz, umidade e temperatura controlados para garantir sua integridade. Sua legitimidade não é questionada, e a carta foi vendida ainda em seu envelope original, com um carimbo e um selo de Princeton, Nova Jersey (EUA).
Einstein x Deus e as religiões
A carta era uma resposta do físico ao livro de Gutkind “Choose Life: The Biblical Call to Revolt” (“Escolha a Vida: A Chamada Bíblica à Revolta”), no qual o filósofo sustentava a ideia de que os judeus eram um povo de “alma incorruptível”. “A alma do povo judeu nunca foi uma alma de massas. A alma de Israel não poderia ser hipnotizada; nunca sucumbiu a ataques hipnóticos (…). A alma de Israel é incorruptível”, escreveu.
Einstein não concordava: “Para mim, a religião judaica é, da mesma forma que todas as outras, uma incarnação das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual eu pertenço com boa vontade, e que tem uma mentalidade com a qual tenho uma afinidade profunda, não tem, para mim, uma qualidade que o difere de qualquer outro povo. Até onde minha experiência vai, ele também não é melhor que outros grupos humanos, embora esteja protegido dos piores cânceres por falta de poder. Fora isso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre ele”.
No final de sua vida, Einstein se mostrou contrário às religiões. Mas ele acreditava em Deus? Não exatamente, como se lê em uma carta escrita em 24 de março daquele mesmo ano: “Foi, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que foi repetida de forma sistemática. Eu não acredito em um Deus pessoal, nunca neguei isso, mas expressei de forma clara. Se algo em mim pode ser chamado de religioso, é minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo que nossa ciência é capaz de revelar”.
Na carta a Gutkind, Einstein disse que a palavra “Deus” nada mais era do que “a expressão e produto da fraqueza humana, e a Bíblia, uma coleção de honoráveis, porém primitivas lendas que eram no entanto bastante infantis”.
Os souvenirs de Einstein
Em março deste ano, uma grande coleção de documentos pessoais e científicos do físico foi disponibilizada online, graças a um esforço conjunto da Albert Einstein Archives (da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel) e do Einstein Papers Project (do Instituto de Tecnologia da Califórnia, EUA). Entre os arquivos, está um dos três manuscritos originais contendo a famosa equação E = mc².[LiveScience] [eBay, G1]
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