Como a combustão espontânea realmente acontece
Por Bruno Calzavara em 14.07.2013 as 15:00
Parece filme de terror ou um episódio de magia negra típico da Idade Média, mas é pura ciência. Pilhas de feno, carvão, toras de madeira, algodão e até mesmo papel às vezes realmente pegam fogo espontaneamente. E essa combustão não acontece porque os materiais estão muito secos, mas justamente porque eles foram acomodados juntos quando estavam muito molhados.
A combustão espontânea, ou uma erupção súbita de fogo, soa muito mais misteriosa do que na verdade é. O fenômeno nos dá a impressão de ser um evento quase sobrenatural, que não pode ser antevisto nem previnido por nós, pobres seres humanos. Porém, esses episódios de incêndio espontâneo são tão comuns que muitas indústrias se esforçam para impedir que isso aconteça o tempo todo. Os lugares que correm mais riscos são celeiros, campos de feno e florestas.
E a grande culpada disso tudo é a água. A água faz com que os processos biológicos sejam possíveis. Por sua vez, os processos biológicos podem gerar uma grande quantidade de calor.
Tudo começa com a respiração. As células vegetais podem levar algum tempo para morrer, e se há uma grande quantidade de água dentro de uma planta – se ela for muito verde – a planta respira, colocando para fora calor e água. Em seguida, as bactérias e os fungos assumem o controle. Se eles estiverem em um ambiente quente e úmido, eles vão romper a matéria vegetal ao seu redor, gerando ainda mais calor, e se reproduzir. A água ainda desempenha um papel na difusão do calor, aquecendo a área em torno do centro da pilha do material prestes a pegar fogo espontaneamente.
Eventualmente, a temperatura atinge um ponto crítico e começa a arder, mas ainda sem chamas. O mais assustador é que o amontoado de material pode aquecer o quanto quiser, mas sem exposição ao oxigênio não pode efetivamente começar a queimar. Isso até que alguém exponha o material superaquecido ao ar. Em seguida, ele explode em chamas de dentro para fora.
Até mesmo um metal pode ajudar a água a transformar um monte de matéria vegetal em um inferno. Alguns metais, como o cobre, reduzem de forma eficaz a temperatura de combustão do material em torno deles. Eles agem como catalisadores, retêm o oxigênio do ar e o liberam para o material, facilitando sua combustão.
Já houve relato de uma pilha de madeira de duas toneladas explodindo sozinha. Isso ocorreu porque a água foi liberada de dentro das toras de madeira, que haviam sido cobertas por acetona antes de terem sido agrupadas. Sais de ferro do material se aqueceram o suficiente para acionar a acetona, e toda essa combinação resultou na combustão de toda a pilha.
Como se vê, às vezes a água é exatamente o que você precisa para começar um incêndio.
Humanos também podem queimar “do nada”?
A combustão espontânea em humanos é um suposto fenômeno bem mais complicado de ser explicado. Apesar de nunca ter sido testemunhado em toda a história da medicina, centenas de mortes já foram atribuídas à combustão humana espontânea.
Em todos os casos, coincide o relato de que objetos próximos da vítima como móveis e até mesmo a cama onde ela estava, por mais que fossem inflamáveis, não pegaram fogo. Assim como no caso da combustão de materiais, a humana parece começar de dentro para fora, uma vez que as vítimas que teriam falecido dessa forma muitas vezes apresentavam as extremidades praticamente intactas.
Em 2011, o investigador irlandês Kieram McLoughlin atribuiu a morte de um homem de 76 anos à combustão humana espontânea, no primeiro destes casos em seus 25 anos de experiência. É muito comum estes casos ocorrerem com idosos próximos de uma lareira ou cigarros que podem morrer de causas naturais e/ou ficarem incapacitados para combaterem uma chama nas próprias roupas.
No entanto, médicos e cientistas reafirmam que a possibilidade de que um corpo humano entre em combustão de forma espontânea é remota, uma vez que é formado principalmente de água. Apesar de conter metano e gordura em sua composição, um corpo é muito difícil de ser queimado – a cremação, por exemplo, requer temperaturas próximas aos 900°C. [Io9]
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