domingo, 7 de julho de 2013

Irrigação do Café


07/07/2013 08h30 - Atualizado em 07/07/2013 08h30

Uso de técnica de irrigação ajuda a aumentar a produtividade do café

Tecnologia também reduz custos e garante economia de água na fazenda.
Técnica é desenvolvida em uma propriedade no oeste da Bahia.

Do Globo Rural

Com planícies imensas e fazendas modernas, o oeste da Bahia se consolidou como um dos principais polos agrícolas do Nordeste brasileiro. A região de cerrado, na divisa com Goiás e Tocantins, abriga rios de água limpa, cachoeiras bonitas e dois milhões de hectares de lavouras, com destaque para fazendas de soja, campos de milho e sorgo, algodão, frutas e café.
Os cafezais se espalham por pouco mais de 15 mil hectares no oeste da Bahia. São 37 fazendas que colhem 470 mil sacas por ano. Todos os cultivos são de café arábica. As lavouras, muito produtivas, são mantidas com irrigação.
A Fazenda Primavera, no município de Luís Eduardo Magalhães, mantém 300 hectares de café irrigado. A água é distribuída por uma de 600 metros de comprimento. O pivô de irrigação funciona como um ponteiro de relógio que gira sobre um eixo central.
O agrônomo Marcos Pimenta, responsável técnico da fazenda, explica a irrigação é fundamental em uma região com pouca chuva e solo arenoso. “A água pra gente é de grande importância. Sem irrigação, nós não cultivamos café”, diz.
Os pivôs da lavoura são acionados o ano todo, de dois em dois dias, e para apenas em períodos de chuva. A água é bombeada do rio que corta a propriedade. A captação com vazão controlada pode ser feita apenas com autorização ambiental.
Além de exigir muita água, o uso dos pivôs gera gastos elevados com energia elétrica e manutenção dos equipamentos. Por isso, um bom manejo é fundamental tanto para garantir renda para o agricultor quanto para evitar o desperdício desse bem tão precioso da natureza.
A Fazenda Lagoa do Oeste, situada no município de Barreiras, que cometeu muitos erros com irrigação, nos últimos tempos se tornou referência no assunto. A propriedade, que abriga 1632 hectares de cafezais irrigados, pertence a dois grupos agroindustriais.
A irrigação exagerada, feita todos os dias durante o ano todo, também causava problemas para a qualidade do café. Ao receber água continuamente, a planta acabava emitindo diversas floradas entre agosto e dezembro. Com flores desiguais, os frutos não se formavam ao mesmo tempo. A irregularidade dos frutos era a regra nas lavouras da fazenda, o que prejudicava o sabor do café, derrubando o valor de mercado do grão. Mas o objetivo da fazenda era fazer exatamente o oposto.
Em 2005, a equipe da fazenda foi buscar ajuda de especialistas da Embrapa Cerrados para enfrentar todos esses problemas. A unidade, com sede em Brasília, pesquisava novas tecnologias para a produção de café irrigado.
“Nós começamos a trabalhar dentro da Embrapa. Ficamos quatro anos trabalhando na pesquisa básica para para buscar os resultados que a gente queria. Em 2005, nós tivemos a oportunidade de mostrar para os produtores os resultados. Esses produtores se interessaram. Então, nós viemos no sentido de transformar aqueles conhecimentos da pesquisa em inovação no campo”, diz o agrônomo Antônio Guerra, um dos líderes do projeto.
A Fazenda Lagoa do Oeste foi a primeira a adotar o pacote tecnológico da Embrapa, que envolve uma série de cuidados. O ponto chave é um novo jeito de manejar a irrigação: uma técnica simples, conhecida como estresse hídrico ou stress hídrico.
O agrônomo explica que a parada na irrigação deve ocorrer por 70 dias entre o final de junho e o início setembro, que é justamente o período mais seco do ano pela região. Segundo Antônio Guerra, a técnica tem várias vantagens. O principal objetivo é induzir a planta a produzir frutos mais homogêneos, que amadurecem ao mesmo tempo. Isso só ocorre porque a planta iguala o desenvolvimento das gemas no período que fica sem água. Alguns pontinhos que ficam nos ramos e geram as flores do café. Com o tempo, cada florzinha gera um fruto que ficará maduro entre abril e maio do ano seguinte.
Na média, a fazenda consegue obter atualmente entre 60% e 70% de frutos tipo cereja. Depois de seco, torrado e moído, o grão rende uma bebida de qualidade e pode ser vendido por preço até 20% mais alto.
Essa excelência é confirmada por quem entende do assunto. Paulo da Silva trabalha na classificação e no controle de qualidade do café da fazenda. “É um café limpo. Apresenta doçura na bebida, corpo balanceado e acidez balanceada. Os nossos clientes procuram muito devido a isso”, diz.
O mercado internacional compra 70% do café produzido na fazenda. Os principais consumidores são Estados Unidos, Japão e países da Europa. O novo manejo da água, também gerou aumento de 15% na produtividade das lavouras. Com frutos mais uniformes, houve redução do percentual daquele café preto, conhecido como boia, um fruto que acaba secando na planta por ter amadurecido muito cedo.
Nesta safra, a fazenda deve produzir 45 sacas de café por hectare, quase o dobro da média dos cafezais do Sudeste. A colheita ocorre entre os meses de abril e maio. O trabalho é rápido e totalmente mecanizado. São necessários apenas 45 dias para retirar os frutos de 1.632 hectares. Conforme avança, a máquina chacoalha os pés de café. Os frutos se soltam e vão correndo por esteiras. No final, são despejados na carreta.
O aumento do café tipo cereja fez a operação ficar mais rápida e barata na fazenda porque os frutos maduros se desprendem com mais facilidade da planta. A principal redução de custos para fazenda vem dos pivôs, que ficam desligados durante 70 dias. Há menos consumo de energia e menos gastos com manutenção.
A Embrapa também recomenda uma série de outros cuidados para a produção de café irrigado, como adubação cuidadosa da lavoura, cobertura nas entrelinhas, muito rigor no controle de pragas e doenças e o uso mais racional da irrigação ao longo do ano todo, mas não apenas no período de estresse hídrico. O novo manejo aumentou a rentabilidade dos cafezais em cerca de 25%. Para isso, contribuem o crescimento da produção, a melhoria da qualidade do café e, principalmente, a redução de gastos.
Graças aos bons resultados desse tipo de fazenda, ao longo dos últimos anos, a tecnologia do estresse hídrico se espalhou por um terço das fazendas de café do oeste baiano. Além dos ganhos econômicos, esse manejo também traz benefícios importantes para a natureza e para a humanidade em geral.
Mas esse tipo de manejo só é recomendado para regiões que têm estação seca bem definida. A tecnologia da Embrapa já foi adotada também por produtores de café de Goiás e de Minas Gerais.

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