terça-feira, 2 de julho de 2013

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Médicos pedem revisão de critérios para transplante hepático

Pesquisa indica que estão sendo operados no país doentes com estado de saúde tão grave que não seriam mais elegíveis ao tratamento

Karina Toledo, da
Getty Images
Médicos e paciente em uma sala de operação
Sala de operações: em 2007, no caso do fígado, o país adotou um sistema de prioridade conhecido como Meld - fórmula matemática que permite estimar o risco de morte
São Paulo - Com base em um estudo publicado em junho na revista Liver Transplantation, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) propõem alterações nas diretrizes nacionais para transplante de fígado.
De acordo com Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, diretor da Divisão de Transplantes de Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e um dos autores do artigo, os resultados da pesquisa indicam que estão sendo operados no país doentes com estado de saúde tão grave que não seriam mais elegíveis ao tratamento em razão do alto risco de óbito ou de complicações. Por outro lado, candidatos com chance de um desfecho positivo acabam morrendo na fila de espera.
Até 2006, explicou Carneiro, a legislação brasileira adotava o critério cronológico para a distribuição de órgãos, ou seja, os mais antigos tinham prioridade na fila. Em 2007, no caso do fígado, o país adotou um sistema usado em praticamente todo o mundo conhecido como Meld (modelo para doença hepática em fase terminal, na sigla em inglês) – fórmula matemática que, levando em conta resultados de exames e outros indicativos do paciente, permite estimar o risco de morte caso o transplante não ocorra nos três meses seguintes. Quanto maior a nota, maior a prioridade.
“Nos países escandinavos, por exemplo, são transplantados em média pacientes com Meld de 20 a 22. Nos Estados Unidos, dependendo do estado, a média varia entre 20 e 28. Quando passa de 36, eles consideram que já é tarde demais para operar”, contou Carneiro.
Mas o escore médio dos operados no HC – principal centro transplantador do país– é de 34. Segundo Carneiro, há frequentemente casos de paciente operados no Brasil com Meld acima de 40.
“Isso tem impacto negativo na utilização dos órgãos, pois temos um índice alto de retransplante e de mortalidade. Perdemos cerca de 20 a 25% dos doentes após um ano, enquanto esse índice na Escandinávia é de apenas 8%. O sistema de saúde como um todo lá funciona melhor, então os pacientes chegam ao centro transplantador em melhor estado”, explicou Carneiro.
Para avaliar o impacto da adoção do Meld nos índices de sobrevida e de infecção do sítio cirúrgico (SSI, na sigla em inglês) no Brasil, os pesquisadores analisaram dados de 543 pacientes operados no HC entre 2002 e 2011 – totalizando 597 cirurgias em razão dos casos de retransplante.

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