sábado, 23 de maio de 2015

A lenda urbana do impossível

A lenda urbana do impossível

Se até então você não tinha se dado essa permissão de não aceitar o impossível, quem sabe não seja esse o momento?



Bruno Perin,
Eu tinha um chefe muito louco, daqueles caras cativantes, cheio de energia e ideias. Mas um dia foi marcante para mim, pois foi de onde tirei uma daquelas grandes lições que encontramos em coisas muito simples. Era 5 de outubro de 2011, aquela loucura de final de ano em São Paulo, um tempo gostoso daqueles que não é muito quente, nem frio e as pessoas apenas se cumprimentam falando – “Bom tempo né?”. Praticamente já faz tudo começar bem.

Porém, esse era o dia que viria falecer a lenda – Steve Jobs. Isso mesmo, um dos caras mais audaciosos da história encerrou suas atividades por aqui. Eu não sou um grande fã do temperamento dele ou da forma como conduziu a Apple internamente, mas ninguém pode negar a ousadia, a coragem e a genialidade de sua percepção. De qualquer forma, ele era o cara.

Foi um tsunami de notícias, documentários, homenagens e tributos a Steve. Porém algo estava em alta naquelas primeiras horas também e, por sinal, era a grande questão do momento: "Quem será o próximo Jobs?”.

Mais para o fim da manhã, o meu ex-chefe chegou na empresa com um olhar astuto depois das suas reuniões. Ele abriu a porta e falou pro pessoal: "Vocês viram o que aconteceu?”. Um meio tímido respondeu: "O Steve Jobs morreu" (naquela dúvida de “será que tá certo?"). O meu ex-chefe retrucou rapidamente, sem respirar”: "Isso é o fato…”. E, aumentando o tom de voz, subiu em cima da mesa, sem tirar o que tinha em cima, e gritou: "Venham todos aqui!”.

Quando chegamos na sala, ele olhou e comentou: "Que o Steve faleceu, essa grande figura e nome do mercado, vocês já estão sabendo, mas o que aconteceu também é que agora todo mundo quer saber quem será a próxima empresa que vai desafiar o mercado e lançar as tendências como a Apple. Seria ela mesma? Ou algum outro personagem vai aparecer, com uma nova organização visionária?”.

Todo mundo ficou atônico, era aquela apreensão de final de novela para saber quem matou quem, e o pensamento coletivo: “Será que já comunicaram isso? O que não captamos?”.

Foi então que ele disparou, com uma convicção impermeável: “Nós seremos ela”.

Acredito que a galera não soltou a gargalhada porque era o chefe e ficou com medo de uma demissão por justa causa (não se pode se engasgar de rir da cara do seu patrão), mas ele rapidamente percebendo, ou até prevendo isso, falou uma das frases mais importantes que guiaria a minha vida: “Quem pode provar que não?”.

Eu não lembro tão bem como foi o resto do discurso, talvez porque aquela frase fez tanto sentido para mim quanto, quando crianças, aprendemos a caminhar e pensamos “aha, então é assim” ou usar a peniquinho. Seja lá o que for, algo estupendo aconteceu.

Eu sempre fui uma pessoa que desafiou limites. Até uma frase que sempre usava era: “O céu é o limite apenas para quem não conhece o espaço”. A ousadia fazia parte de mim, mas eu tinha um pouco de medo das coisas tão grandiosas, do que os outros pensariam, se era possível... Mas foi aquela frase, naquele momento, que fez o “plim” na minha cabeça e começou a martelar: "eu não posso provar que ele não vai conseguir, se ele tomar as atitudes, dedicar-se e fizer coisas incríveis, ele pode mesmo. Depende mais dele do que da minha opinião". Na verdade não depende da opinião de ninguém aqui, não podemos provar que ele está errado.

Esse foi o insight: o impossível não existia, a opinião dos outros como barreira não faz diferença alguma a partir daquilo que você realmente acredita. Milhões de pessoas até aquele dia na face da Terra tinham esquecido de pensar em limitações e regras para dar um impulso na humanidade. Eu fico pensando no Santos Dumont falando “Ops, foi mal galera, esqueci que era impossível voar” ou o Willis Carrier (inventor do ar-condicionado – um herói para nossa realidade hoje) dizendo: "Ah, que saco, foi mal, eu não sabia que não dava para criar algo que deixasse o ambiente gelado e gostoso".

O Walt Disney já dizia que ele gostava do impossível porque lá a concorrência era menor. Isso é uma grande verdade. Porém, cheguei a uma conclusão ainda mais intrigante. Talvez essa história do impossível seja apenas uma lenda para manter grande parte das pessoas fazendo o comum e apenas alguns “loucos” alcançarem o extraordinário.

Se até então você não tinha se dado essa permissão de não aceitar o impossível, quem sabe não seja esse o momento?

Deixo você com uma frase que tem norteado meus dias e crenças e talvez lhe seja útil nesse novo momento de pensar: "Quem pode provar que não?”.

“Somos todos reféns do acaso, mas senhores das nossas decisões”. Eu acredito que o impossível seja uma lenda urbana e você?

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