terça-feira, 5 de maio de 2015

A Questão Palestina


A Questão Palestina

A questão palestina é um termo utilizado em referência à luta dos povos palestinos após a perda de seus territórios, o que ocorreu em função dos desdobramentos ligados à criação do Estado de Israel em 1948. Atualmente, os territórios palestinos reduzem-se a restritas áreas na Cisjordânia e também na Faixa de Gaza (ver mapa no final do texto), onde são comuns conflitos entre judeus e árabes.
Os povos palestinos são constituídos por uma etnia do mediterrâneo composta por uma miscigenação entre filisteus, árabes e cananeus; são maciçamente muçulmanos e utilizam o idioma árabe. Já a Palestina (de Filistina – “terra dos Filisteus”) é uma região considerada histórica tanto pelos próprios palestinos quanto pelos judeus. Esses últimos ocuparam essa região há mais de quatro mil anos, que é considerada por eles como uma área sagrada: a Terra Prometida.
Os judeus, no entanto, foram expulsos dessa área, primeiramente pela Babilônia e, posteriormente, pelo Império Romano, o que constituiu um episódio histórico conhecido como a diáspora judaica. Com isso, após vários outros desdobramentos históricos, os árabes e, mais precisamente, os palestinos mantiveram a ocupação da região por quase dois mil anos. Apesar disso, o domínio local foi exercido por muito tempo pelo Império Turco-Otomano.
Ao final do século XIX, foi criado pelo escritor austríaco judeu, Theodor Herzl, o movimento sionista, que representava a busca pela retomada da Terra Prometida, também chamada de “Sião”. Também foi fundada a Organização Sionista Mundial (OSM), que tinha sede na Suíça. Dessa forma, iniciou-se um gradativo processo migratório de judeus para a região da Palestina, que foi, ao menos inicialmente, marcado pela ausência de qualquer conflito.
Após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a recorrente derrota dos turcos, a região ficou sob a administração da Inglaterra, que cogitou então a criação de um Estado judeu, causando uma série de instabilidades locais entre as diferentes populações. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fluxo migratório judeu intensificou-se e esse povo ganhou uma maior influência diplomática, principalmente pelos episódios protagonizados pela Alemanha nazista e pelo Holocausto.
Após a realização de acordos entre Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a partilha da Palestina em 1947. Os judeus ficaram com 57% do território, e os árabes, que eram maioria na região, com 43%. A capital Jerusalém (sagrada para as religiões judaica e islâmica) pertenceria a ambos e ficaria sob a administração da própria ONU. No ano seguinte, foi fundado, então, o Estado de Israel.
Mapa da partilha da Palestina pela ONU em 1947
Mapa da partilha da Palestina pela ONU em 1947
Essa configuração, no entanto, não agradou os povos árabes do Oriente Médio, que iniciaram uma ofensiva contra o Estado de Israel no mesmo ano de sua criação. Esse ataque – chamado de Primeira Guerra Árabe-Israelense e liderado por Egito, Transjordânia (hoje, Jordânia), Líbano e Síria – foi combatido pelos judeus, que tinham nos Estados Unidos um grande aliado diplomático e militar.
Após o estabelecimento de um armistício na região, Israel ocupou novas áreas pertencentes aos palestinos, que ficaram então sem território, pois suas áreas foram novamente divididas. Os judeus ficaram com a Galileia e outras áreas, ao passo em que a Jordânia incorporou a Cisjordânia e o Egito dominou a Faixa de Gaza. Esses acontecimentos tornaram mundialmente conhecida a questão palestina: o caso de uma nação que ficou sem o seu território.
Mapa da região da Palestina após a Primeira Guerra Árabe-israelense
Mapa da região da Palestina após a Primeira Guerra Árabe-israelense
Enquanto os palestinos foram se enfraquecendo e, consequentemente, dispersando parte de sua população para outros territórios (como o Líbano, a Síria e o Egito), Israel intensificou a sua força e tornou-se militar e politicamente preponderante na região do Oriente Médio, principalmente após as vitórias nas guerras do Suez (1956), dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973).
Essa configuração favoreceu a criação, por parte dos palestinos, de vários grupos extremistas que passaram a lutar não só pela criação de um Estado Palestino, mas também pela total destruição de Israel e expulsão dos judeus da região.
Nesse intuito, foi fundada a Organização para a Libertação Palestina (OLP) em 1964, liderada pelo grupo Al Fatah, que realizava atos extremistas desde 1959 e era comandado por Yasser Arafat. Mais tarde, em 1987, foi fundado outro grupo extremista, o Hamas, que hoje é formado por três frentes: um partido político, um braço armado e uma organização filantrópica pró-palestina. Esse grupo é considerado por muitos países como uma organização terrorista (incluindo Israel e EUA), mas para outros países ele não é visto como tal (incluindo Turquia e até o Brasil).
Também no ano de 1987, a OLP, sob liderança do Fatah de Yasser Arafat, passou a não mais utilizar métodos de violência para alcançar seus objetivos e também atuou no sentido de reconhecer a existência do Estado de Israel, reivindicando, no entanto, a criação do Estado da Palestina e uma convivência harmônica entre os dois povos, diferentemente do Hamas, que não aceita a existência dos israelenses. Por causa dessa configuração, a OLP passou a ser reconhecida pelo Ocidente e pela ONU como a única representante da frente árabe na Palestina.
Em 1993, os Estados Unidos fizeram a intermediação diplomática entre Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, nos chamados Acordos de Oslo, na Noruega, local onde as negociações ocorreram. A assinatura oficial dos termos foi realizada em Washington, capital dos EUA (foto abaixo). Esses acordos fizeram com que os palestinos tivessem posse novamente de um território – mesmo que sem um Estado constituído –, ao mesmo tempo em que a OLP foi reconfigurada pela criação da Autoridade Palestina (AP). Essa instituição ficou sob o comando de Arafat e ergueu a sua sede na Cisjordânia, que foi devolvida pelos israelenses juntamente à Faixa de Gaza.
O Presidente dos EUA, Bill Clinton, mediou o acordo entre Israel e a Autoridade Palestina em frente à Casa Branca
O Presidente dos EUA, Bill Clinton, mediou o acordo entre Israel e a Autoridade Palestina em frente à Casa Branca
No entanto, as relações de paz estiveram longe de se estabelecerem, de modo que as tensões aumentavam sempre que um primeiro-ministro do Partido Likud vencia as eleições em Israel, pois esse grupo é inimigo ferrenho dos palestinos, enquanto o Partido Trabalhista costuma fazer mais concessões. Em 2000, com a chegada de Ariel Sharon, do Likud, ao poder em Israel, as relações estremeceram-se completamente, pois Sharon sempre foi um grande opositor a qualquer acordo com os árabes. Por essa razão, os atentados terroristas intensificaram-se na região. Em 2004, morreu Yasser Arafat.
Em 2002, iniciaram-se as construções do Muro de Israel ou Muro da Cisjordânia para a separação dos territórios controlados pelos palestinos do restante do território de Israel. No entanto, essa construção vem sendo bastante criticada, em razão das acusações de que Israel estaria ocupando, durante o erguimento da muralha, áreas que deveriam ser de controle palestino.
Em 2006, para tornar o cenário ainda mais tenso politicamente, o Hamas venceu as eleições no território palestino, derrotando pela primeira vez o Fatah, o que gerou uma recusa por parte de Israel e das potências internacionais de reconhecerem a Palestina, isolando a Autoridade Palestina politicamente. Além disso, o governo de Israel – atualmente na figura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – vem incentivando a instalação de colônias de judeus em áreas sob a posse de palestinos, incluindo a Faixa de Gaza, uma das áreas em que há mais atentados terroristas e conflitos armados no mundo.
Em 2012, após uma série de debates e resoluções no contexto da ONU, o Estado Palestino passou a ser reconhecido como um membro observador das Nações Unidas, o que representa um reconhecimento implícito por parte da comunidade internacional da existência da Palestina sob comando árabe. Os EUA e Israel agiram como ferrenhos opositores à proposta, porém foram derrotados pela Assembleia Geral da entidade.
Mapa dos territórios palestinos na atualidade, com a Faixa de Gaza e a Cisjordânia *
Mapa dos territórios palestinos na atualidade, com a Faixa de Gaza e a Cisjordânia *
Atualmente, muitas questões dificultam a concretização da criação do Estado da Palestina, incluindo aí a questão dos colonos judeus incentivados por Israel. Além disso, os israelenses detêm controle sobre recursos naturais e até sobre a água e não parecem estar dispostos a ceder essa posse aos árabes. E isso sem falar na cidade de Jerusalém, considerada sagrada para os muçulmanos e reivindicada pelos palestinos e que também não será cedida, sob nenhuma hipótese, pelo Estado de Israel.
Consequentemente, os atentados terroristas e os confrontos continuam ocorrendo, incluindo a forma como Israel contra-ataca as ações do Hamas, muitas vezes com um uso desproporcional de força e poderio miliar. Recentemente, o Brasil criticou publicamente a forma de agir de Israel em termos de violência em Gaza. O Porta-Voz das Relações Exteriores do país, Yigal Palmor, respondeu chamando o governo brasileiro de “anão diplomático”, o que gerou um grande mal-estar na diplomacia internacional. Posteriormente, o governo de Israel desculpou-se pela declaração.
* Mapa adaptado de: Oncenawhile / Wikimedia Commons

Por Me. Rodolfo Alves Pena

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