A Questão Palestina
A questão palestina é um termo utilizado em referência à luta dos povos palestinos após a perda de seus territórios, o que ocorreu em função dos desdobramentos ligados à criação do Estado de Israel em 1948. Atualmente, os territórios palestinos reduzem-se a restritas áreas na Cisjordânia e também na Faixa de Gaza (ver mapa no final do texto), onde são comuns conflitos entre judeus e árabes.
Os povos palestinos são constituídos por uma etnia do
mediterrâneo composta por uma miscigenação entre filisteus, árabes e
cananeus; são maciçamente muçulmanos e utilizam o idioma árabe. Já a
Palestina (de Filistina – “terra dos Filisteus”) é uma região
considerada histórica tanto pelos próprios palestinos quanto pelos
judeus. Esses últimos ocuparam essa região há mais de quatro mil anos,
que é considerada por eles como uma área sagrada: a Terra Prometida.
Os judeus, no entanto, foram expulsos dessa área,
primeiramente pela Babilônia e, posteriormente, pelo Império Romano, o
que constituiu um episódio histórico conhecido como a diáspora judaica.
Com isso, após vários outros desdobramentos históricos, os árabes e,
mais precisamente, os palestinos mantiveram a ocupação da região por
quase dois mil anos. Apesar disso, o domínio local foi exercido por
muito tempo pelo Império Turco-Otomano.
Ao final do século XIX, foi criado pelo escritor austríaco judeu, Theodor Herzl, o movimento sionista,
que representava a busca pela retomada da Terra Prometida, também
chamada de “Sião”. Também foi fundada a Organização Sionista Mundial
(OSM), que tinha sede na Suíça. Dessa forma, iniciou-se um gradativo
processo migratório de judeus para a região da Palestina, que foi, ao
menos inicialmente, marcado pela ausência de qualquer conflito.
Após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
e a recorrente derrota dos turcos, a região ficou sob a administração
da Inglaterra, que cogitou então a criação de um Estado judeu, causando
uma série de instabilidades locais entre as diferentes populações. Após a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fluxo migratório judeu
intensificou-se e esse povo ganhou uma maior influência diplomática,
principalmente pelos episódios protagonizados pela Alemanha nazista e
pelo Holocausto.
Após a realização de acordos entre Estados Unidos,
Reino Unido e União Soviética, a Organização das Nações Unidas (ONU)
realizou a partilha da Palestina em 1947. Os judeus
ficaram com 57% do território, e os árabes, que eram maioria na região,
com 43%. A capital Jerusalém (sagrada para as religiões judaica e
islâmica) pertenceria a ambos e ficaria sob a administração da própria
ONU. No ano seguinte, foi fundado, então, o Estado de Israel.
Mapa da partilha da Palestina pela ONU em 1947
Essa configuração, no entanto, não agradou os povos
árabes do Oriente Médio, que iniciaram uma ofensiva contra o Estado de
Israel no mesmo ano de sua criação. Esse ataque – chamado de Primeira Guerra Árabe-Israelense
e liderado por Egito, Transjordânia (hoje, Jordânia), Líbano e Síria –
foi combatido pelos judeus, que tinham nos Estados Unidos um grande
aliado diplomático e militar.
Após o estabelecimento de um armistício na
região, Israel ocupou novas áreas pertencentes aos palestinos, que
ficaram então sem território, pois suas áreas foram novamente divididas.
Os judeus ficaram com a Galileia e outras áreas, ao passo em que a
Jordânia incorporou a Cisjordânia e o Egito dominou a Faixa de Gaza.
Esses acontecimentos tornaram mundialmente conhecida a questão palestina: o caso de uma nação que ficou sem o seu território.
Mapa da região da Palestina após a Primeira Guerra Árabe-israelense
Enquanto os palestinos foram se enfraquecendo e,
consequentemente, dispersando parte de sua população para outros
territórios (como o Líbano, a Síria e o Egito), Israel intensificou a
sua força e tornou-se militar e politicamente preponderante na região do
Oriente Médio, principalmente após as vitórias nas guerras do Suez
(1956), dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973).
Essa configuração favoreceu a criação, por parte dos
palestinos, de vários grupos extremistas que passaram a lutar não só
pela criação de um Estado Palestino, mas também pela total destruição de
Israel e expulsão dos judeus da região.
Nesse intuito, foi fundada a Organização para a Libertação Palestina (OLP) em 1964, liderada pelo grupo Al Fatah, que realizava atos extremistas desde 1959 e era comandado por Yasser Arafat. Mais tarde, em 1987, foi fundado outro grupo extremista, o Hamas,
que hoje é formado por três frentes: um partido político, um braço
armado e uma organização filantrópica pró-palestina. Esse grupo é
considerado por muitos países como uma organização terrorista (incluindo
Israel e EUA), mas para outros países ele não é visto como tal
(incluindo Turquia e até o Brasil).
Também no ano de 1987, a OLP, sob liderança do Fatah
de Yasser Arafat, passou a não mais utilizar métodos de violência para
alcançar seus objetivos e também atuou no sentido de reconhecer a
existência do Estado de Israel, reivindicando, no entanto, a criação do
Estado da Palestina e uma convivência harmônica entre os dois povos,
diferentemente do Hamas, que não aceita a existência dos israelenses.
Por causa dessa configuração, a OLP passou a ser reconhecida pelo
Ocidente e pela ONU como a única representante da frente árabe na
Palestina.
Em 1993, os Estados Unidos fizeram a intermediação
diplomática entre Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak
Rabin, nos chamados Acordos de Oslo, na Noruega, local
onde as negociações ocorreram. A assinatura oficial dos termos foi
realizada em Washington, capital dos EUA (foto abaixo). Esses acordos
fizeram com que os palestinos tivessem posse novamente de um território –
mesmo que sem um Estado constituído –, ao mesmo tempo em que a OLP foi
reconfigurada pela criação da Autoridade Palestina (AP).
Essa instituição ficou sob o comando de Arafat e ergueu a sua sede na
Cisjordânia, que foi devolvida pelos israelenses juntamente à Faixa de
Gaza.
O Presidente dos EUA, Bill Clinton, mediou o acordo entre Israel e a Autoridade Palestina em frente à Casa Branca
No entanto, as relações de paz estiveram longe de se
estabelecerem, de modo que as tensões aumentavam sempre que um
primeiro-ministro do Partido Likud vencia as eleições em Israel, pois
esse grupo é inimigo ferrenho dos palestinos, enquanto o Partido
Trabalhista costuma fazer mais concessões. Em 2000, com a chegada de
Ariel Sharon, do Likud, ao poder em Israel, as relações estremeceram-se
completamente, pois Sharon sempre foi um grande opositor a qualquer
acordo com os árabes. Por essa razão, os atentados terroristas
intensificaram-se na região. Em 2004, morreu Yasser Arafat.
Em 2002, iniciaram-se as construções do Muro de Israel ou Muro da Cisjordânia para
a separação dos territórios controlados pelos palestinos do restante do
território de Israel. No entanto, essa construção vem sendo bastante
criticada, em razão das acusações de que Israel estaria ocupando,
durante o erguimento da muralha, áreas que deveriam ser de controle
palestino.
Em 2006, para tornar o cenário ainda mais tenso
politicamente, o Hamas venceu as eleições no território palestino,
derrotando pela primeira vez o Fatah, o que gerou uma recusa por parte
de Israel e das potências internacionais de reconhecerem a Palestina,
isolando a Autoridade Palestina politicamente. Além disso, o governo de
Israel – atualmente na figura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu –
vem incentivando a instalação de colônias de judeus em áreas sob a posse
de palestinos, incluindo a Faixa de Gaza, uma das áreas em que há mais
atentados terroristas e conflitos armados no mundo.
Em 2012, após uma série de debates e resoluções no
contexto da ONU, o Estado Palestino passou a ser reconhecido como um
membro observador das Nações Unidas, o que representa um reconhecimento
implícito por parte da comunidade internacional da existência da
Palestina sob comando árabe. Os EUA e Israel agiram como ferrenhos
opositores à proposta, porém foram derrotados pela Assembleia Geral da
entidade.
Mapa dos territórios palestinos na atualidade, com a Faixa de Gaza e a Cisjordânia *
Atualmente, muitas questões dificultam a
concretização da criação do Estado da Palestina, incluindo aí a questão
dos colonos judeus incentivados por Israel. Além disso, os israelenses
detêm controle sobre recursos naturais e até sobre a água e não parecem
estar dispostos a ceder essa posse aos árabes. E isso sem falar na
cidade de Jerusalém, considerada sagrada para os muçulmanos e
reivindicada pelos palestinos e que também não será cedida, sob nenhuma
hipótese, pelo Estado de Israel.
Consequentemente, os atentados terroristas e os
confrontos continuam ocorrendo, incluindo a forma como Israel
contra-ataca as ações do Hamas, muitas vezes com um uso desproporcional
de força e poderio miliar. Recentemente, o Brasil criticou publicamente a
forma de agir de Israel em termos de violência em Gaza. O Porta-Voz das
Relações Exteriores do país, Yigal Palmor, respondeu chamando o governo
brasileiro de “anão diplomático”, o que gerou um grande mal-estar na
diplomacia internacional. Posteriormente, o governo de Israel
desculpou-se pela declaração.
* Mapa adaptado de: Oncenawhile / Wikimedia Commons
Por Me. Rodolfo Alves Pena
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