O universo em um clique
Como um experimento nazista desvendou o mistério do estranho veneno que matou Chris McCandless
Por Cesar Grossmann em
17.09.2013
as 11:20
Chris McCandless era um rapaz de 24 anos que costumava perambular pelo interior do Alasca (EUA) vivendo da sua terra. Ele morreu de fome em 1992, em circunstâncias misteriosas: seu corpo foi encontrado em um ônibus velho, a poucos quilômetros de uma estrada, onde poderia obter ajuda.
Jon Krakauer, autor do livro “Into the Wild”, passou as duas últimas décadas tentando elucidar a morte de McCandless. A ideia de que ele era um mochileiro despreparado, como alguns afirmavam, não batia com a personalidade de McCandless, que estudava assiduamente livros sobre a vida selvagem local, e era capaz de caçar e coletar alimentos.
Krakauer já estava desistindo da hipótese de intoxicação quando viu um trabalho do cientista amador Ronald Hamilton, que fez a conexão entre a morte de McCandless e uma experiência nazista em um campo de concentração. Em seu trabalho, Hamilton conta que, em 1942, os prisioneiros judeus de Vapniarca começaram a receber pão feito de chíchara, Lathyrus sativus, um legume que é conhecido desde os tempos de Hipócrates como sendo tóxico.
Em pouco tempo, os prisioneiros jovens do sexo masculino começaram a mancar, e se apoiar varas para se mover no campo. Em alguns casos, eles rapidamente chegavam ao estágio de se arrastar sobre as costas para se deslocar pelo campo. Uma vez que a quantia suficiente de sementes foi ingerida, era um caminho sem volta: quanto mais eles comiam, piores eram as consequências. Já haviam adquirido a doença: neurolatirismo, ou simplesmente latirismo.
Robert Hamilton suspeitava que as sementes de batata selvagem haviam causado latirismo em McCandless, paralisando-o antes que ele pudesse conseguir ajuda, e deixando-o incapacitado para obter alimentos. Armado deste novo conhecimento, Krakauer enviou novamente as sementes para teste, desta vez procurando o mesmo composto tóxico encontrado nas sementes da ervilha, uma neurotoxina chamada ácido beta-N-oxalil-L-alfa-beta diaminopropriônico, ou ODAP.
O resultado foi positivo para a toxina, que é mais perigosa para jovens do sexo masculino com idade entre 15 e 25 anos que são fisicamente ativos, mas não estão ingerindo calorias o suficiente. A quantidade encontrada nas sementes foi de 0,394% de beta-ODAP por peso, uma concentração suficiente para causar latirismo em humanos.
A ingestão ocasional de alimentos contendo ODAP, junto com uma dieta equilibrada, não traz risco de intoxicação. Indivíduos sofrendo de má-nutrição, estresse e fome aguda são especialmente sensíveis à ODAP. Krakauer agora tem uma evidência bastante forte de que McCandless morreu de paralisia induzida pela toxina, e os mochileiros têm mais uma informação importante sobre o que não comer quando estiverem em trilhas: sementes de batata silvestre. [io9]
Nenhum comentário:
Postar um comentário