Os segredos do veneno dos escorpiões
Por Natasha Romanzoti em
28.09.2010
as 20:01
Muitos animais – aranhas, cobras, abelhas, arraias, centopéias, anêmonas, formigas e caracóis, para citar alguns – produzem veneno. Comparado com o veneno dos outros animais, o veneno de escorpião é um dos tipos mais simples de se estudar.
Simples, mas assustador. Porém, os cientistas não estão se deixando levar pelo medo que criaturas como escorpiões despertam. Na segurança de seus laboratórios, pesquisadores estão trabalhando com escorpiões e outras criaturas que picam. Dissecando e decodificando os seus segredos, os cientistas são capazes de fazer versões químicas próprias dos seus venenos.
Inspirados nesse animal, os cientistas estão desenvolvendo pesticidas, tratamentos de câncer, analgésicos e muito mais.
Segundo os pesquisadores, basta olhar o mundo do ponto de vista do escorpião. Você não queria ser a presa dessa criatura. Quando ele ataca, a vítima raramente tem tempo de revidar. Ele agarra e prende seu alvo e, usando o ferrão de sua extremidade traseira, retira a carne da vítima de uma só vez. Então, o sofrimento começa.
Depois de um choque inicial de dor intensa, a presa começa a sentir queimação e formigamento, seguido de agitação e tremores, e paralisia. Se a vítima não morre do veneno do escorpião, ele provavelmente irá comê-la viva. Algumas pessoas podem até morrer da picada venenosa de alguns escorpiões.
Ou seja, o escorpião quer toxinas que possam matar os insetos que ele come. Ele também quer toxinas para se defender, no caso de algo grande e desagradável o ameaçar. Há uma grande quantidade de produtos químicos diferentes em seu corpo. Estudar esses produtos químicos tem um enorme potencial.
O veneno do escorpião parece uma sopa grossa leitosa, e é feito de uma variedade de moléculas, incluindo centenas de pequenas proteínas chamadas peptídeos. Muitos desses peptídeos são tóxicos – eles têm o poder de danificar as células das vítimas. Podem causar paralisia, ou matá-las, etc.
As toxinas do veneno têm que adentrar as células para causar danos. Na pele do ser humano, por exemplo, são inofensivas. Dentro das células, o veneno trabalha de formas diferentes para destruí-las ou alterá-las.
Um esguicho de veneno típico tem entre 5 e 50 microlitros. Um microlitro é um milionésimo de um litro. 50 microlitros é o tamanho de uma gota muito pequena. Nessa quantidade quase irrisória, há um monte de peptídeos tóxicos.
Uma vez que os pesquisadores conseguem extrair esse veneno, eles usam técnicas básicas para separar os peptídeos dentro das gotas coletadas. Em seguida, eles estudam os peptídeos e os testam em animais. O objetivo é compreender como eles diferem uns dos outros e o que eles fazem.
Esse tipo de pesquisa envolve muitos desafios. Existem 1.300 espécies de escorpiões no mundo, e cerca de 300 peptídeos no veneno de cada um. Os pesquisadores estimam que há provavelmente mais de 100.000 diferentes peptídeos. Até agora, eles identificaram cerca de 500 deles. Isso é apenas meio por cento do total que existe.
Porém, algumas abordagens do estudo podem ser muito úteis. Uma das mais promissoras é usar as toxinas do veneno como pesticidas para proteger as culturas agrícolas de insetos.
Alguns peptídeos tóxicos vêm atingindo um determinado tipo de inseto há milhões de anos. Por exemplo, alguns escorpiões da África produzem um composto tóxico chamado AAIT. Essa toxina paralisa alguns tipos de besouros, mas não faz nada para outros e não tem efeito em seres humanos. Outros tipos de toxinas funcionam apenas em grilos ou gafanhotos.
Esse tipo de ataque focado é muito útil. Os pesticidas tradicionais são feitos de produtos químicos fortes que tendem a prejudicar todos os animais da mesma forma. Assim, insetos polinizadores úteis, e animais inocentes, como vacas e pessoas, também são atingidos. O pesticida de veneno de escorpião também seria mais seguro e ecológico, porque se decompõe.
O maior desafio é como atingir os insetos com o pesticida. Pulverizá-lo sobre as plantas não ajuda, pois os insetos podem engolir o veneno sem danos. Em vez disso, os pesquisadores estão testando bactérias e fungos que podem levar as toxinas aos corpos dos insetos, como as picadas de escorpião fazem.
Outro benefício das toxinas do veneno de escorpião é que elas podem ajudar a curar as pessoas. Algumas delas afetam apenas células de mamíferos. Estes compostos provavelmente fornecem ao escorpião defesa contra predadores, como coiotes e esquilos. Mas eles também funcionam em seres humanos.
Compostos tóxicos que matam células, por exemplo, podem ser injetados em tumores para combater o câncer. Compostos que paralisam células poderiam combater a dor.
Os pesquisadores disseram que ainda têm muito o que aprender com a natureza, e muito o que tirar proveito do veneno dos escorpiões. Muitas vidas podem ser salvas daquilo que, para eles, representa a morte. [ScienceNews]
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