terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A natureza é o remédio

A natureza é o remédio

Texto: Thais Szegö, de São Paulo |10 de dezembro de 2012
A ciência já comprovou que estar em contato com um ambiente natural ajuda a manter a saúde física e mental em dia
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Poucas coisas são mais revigorantes do que passar o tempo em um espaço repleto de plantas ou em uma bela praia. Parece que as tensões diminuem, os problemas encolhem, ficamos mais dispostos e todo o corpo é tomado por um enorme bem-estar. Dá pra se sentir até mais saudável. Pois saiba que isso é não só impressão – é fato mesmo.
“Existem diversas pesquisas que comprovam que o contato com a natureza tem um efeito extremamente benéfico sobre o organismo e a mente”, conta Jo Barton, professora da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Essex, no Reino Unido. “Somos animais feitos para viver em locais abertos, por isso nos sentimos mais confortáveis e muito menos estressados quando estamos próximos da natureza”, afirma Jo. “Os seres humanos foram lavradores e caçadores por 300.000 gerações, e somente há oito passaram a viver em um mundo industrializado”, completa.
Mas como a natureza age sobre os seres humanos? “Ela estimula todos os nossos sentidos, e de maneiras diferentes, ao contrário do que acontece nas cidades, principalmente porque nelas passamos muito tempo em espaços pequenos e fechados”, responde o psiquiatra Leonard Verea, da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. “Além disso, segundo a cromoterapia, o verde e o azul são cores calmantes”, acrescenta.
“Observar a movimentação de elementos como as árvores, o vento e as ondas também ajuda a acalmar”, acrescenta Hélio Ricardo Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade de São Paulo. “Isso porque eles têm um ritmo muito mais próximo ao de nossa natureza, ao contrário da agitação com a qual convivemos no dia a dia.” De acordo com o professor, outro ponto relevante é que nos campos e praias não há tanto contato com o excesso de informação e de exigências que o mundo moderno impõe – e que pode gerar muita frustração.
Mas quem não pode parar tudo e correr para o campo ou para a praia tem condições de lançar mão de outras opções. Fazer uma pausa na rotina para ir a um parque, por exemplo, ajuda a mudar o foco de atenção e liberar as tensões acumuladas com o tempo. “Manter vasos de planta em casa, fazer uma horta, ter um animal de estimação ou passar um tempo em um parque da cidade são boas ideias”, diz Deliberador. “A quantidade de natureza presente em nossa casa, em nosso trabalho e nos lugares que visitamos também ajuda a proporcionar esse efeito positivo”, complementa Jo Barton.

BOM PARA A MENTE
ANSIEDADE
Com mais vitalidade e menos ansiedade. É assim que fica uma pessoa em contato com a natureza por pelo menos 20 minutos. Esse foi o resultado de uma série de estudos publicados na revista científica Journal of Environmental Psychology. E o que chamou mais a atenção dos especialistas é que os participantes afirmaram sentirem-se mais felizes, energizados, relaxados e saudáveis também quando se lembravam dos momentos agradáveis que haviam passado em locais repletos de verde, mesmo que já estivessem novamente imersos na correria e no estresse do cotidiano.
HUMOR
Cinco minutos de exercício numa área verde ou em contato com a natureza, seja plantando uma horta ou simplesmente contemplando uma paisagem, é um ótimo remédio contra o mau humor. E ainda ajuda a melhorar o raciocínio e a concentração, garante uma equipe de pesquisadores da Universidade de Essex, da qual Jo Barton faz parte. Eles avaliaram pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e de várias classes sociais, e notaram que, se esse contato for frequente, além de agir sobre o humor, é possível que faça aumentar a autoestima, reduzir a fadiga e melhorar a saúde mental e física como um todo, elevando a longevidade. Segundo o professor Jules Pretty, um dos líderes da pesquisa, o contato com a natureza pode ser utilizado com um ótimo remédio para a população, reduzindo até mesmo os custos do serviço de saúde. Por isso, ele defende a ideia de que os arquitetos precisam aumentar o espaço verde de seus projetos e as crianças devem ter um período diário ao ar livre na grade escolar.
ESTRESSE
O combate a esse mal tão comum nos dias de hoje foi o foco de um trabalho realizado na Universidade de Uppsala, na Suécia. Na investigação, jovens foram submetidos a tarefas estressantes, como dirigir um carro em um local desconhecido, e, em seguida, metade deles foi colocada para descansar em uma sala com vista para uma paisagem arborizada. Eles também passearam em um local cheio de árvores, enquanto o restante ficou em uma sala sem janelas. O resultado não poderia ser outro: o primeiro grupo se recuperou muito mais rápido emocionalmente e fisicamente do estímulo negativo.

BOM PARA O CORPO
Também não faltam evidências de que a natureza é benéfica para a saúde do organismo. Pesquisas já revelaram que ela dá uma força para o sistema imunológico, ajuda a combater problemas do coração, reduz a pressão arterial e diminui a tensão muscular. O contato com o verde também é um grande aliado das pessoas que passam por sessões de quimioterapia. “Os pacientes que são submetidos ao tratamento em ambientes abertos sentem menos náusea do que aqueles que são mantidos dentro do hospital”, conta o oncologista Sergio D. Simon, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Um estudo recente da Universidade de Helsinque, na Finlândia, revelou mais uma boa notícia para quem vive em áreas com grande biodiversidade: essas pessoas têm maior imunidade contra doenças respiratórias e alergias. Segundos os cientistas, essa proteção está relacionada ao contato desses indivíduos com uma classe de bactérias que aumenta a resistência do sistema imunológico contra esse tipo de problema e é facilmente encontrada no solo e na vegetação. Outra investigação, esta da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, mostrou que pacientes internados em quartos com vista para a natureza se recuperam mais prontamente de cirurgias, em comparação com aqueles que ficam em um lugar sem vista tão privilegiada.

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