Água e Desenvolvimento: caminhando de mãos dadas
A importância da água não deve ser subestimada. Os problemas ambientais, a pobreza, a fome e as doenças poderiam ser combatidos diretamente e revertidos significativamente se a luta pelo acesso à água fosse considerada um alvo prioritário. Índices de mortalidade materna e infantil cairiam drasticamente.
Em Maio de 2004 uma reportagem
publicada no The Economist a respeito do “Consenso de Copenhague” previa
que investimentos de US$ 2 bilhões em água e saneamento na África
Sub-Saariana gerariam US$ 16 bilhões em benefícios diversos para o
Continente africano. Há muito tempo a Suécia sabe que a água é um
excelente estimulador de diferentes tipos de desenvolvimento: econômico,
social e, principalmente, do desenvolvimento ambiental.
Os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio da ONU (ODM) e suas Metas são agora as peças principais da
agenda para o desenvolvimento global. A água é uma das chaves para se
combater a pobreza, a fome, as doenças, o analfabetismo, a deterioração
ambiental e a desigualdade entre os sexos. Veja por quê.
A importância da água não deve ser
subestimada. Os problemas ambientais, a pobreza, a fome e as doenças
poderiam ser combatidos diretamente e revertidos significativamente se a
luta pelo acesso à água fosse considerada um alvo prioritário. Índices
de mortalidade materna e infantil cairiam drasticamente.
Outras questões também importantes,
como a educação e a igualdade entre os sexos, se beneficiariam
indiretamente ao melhorar o fornecimento de água potável e saneamento
básico, objetivos identificados nos Objetivos do Milênio. Atualmente,
1.1 bilhão de pessoas sofrem pela falta de acesso à água potável; e 2.4
bilhões pela falta de sistemas de saneamento – trata-se do “maior
escândalo dos últimos 50 anos”, segundo o Water Supply and Sanitation
Collaborative Council (WSSCC). Hoje em dia, a realidade limita as
perspectivas de desenvolvimento em geral e, principalmente, na área
econômica.
A água é fundamental, por exemplo, para
se alcançar três objetivos relacionados à saúde contidos nos ODM:
reduzir em dois terços os índices de mortalidade entre as crianças
abaixo de cinco anos; reduzir em três quartos os índices de mortalidade
materna e iniciar o processo de reversão da AIDS, da malária e de outras
doenças graves. Doenças de veiculação hídrica são as que mais matam
crianças entre 1 e 3 anos de idade.
Melhorar a quantidade e a qualidade da
água e do saneamento reduzirá diretamente a mortalidade infantil. De
acordo com o WSSCC, mais da metade dos pobres dos países em
desenvolvimento ficam doentes devido à precariedade de higiene,
saneamento e abastecimento de água. Só as doenças diarréicas matam seis
mil crianças por dia. Melhorar a nutrição e a segurança alimentar, para
os quais o acesso à água é fundamental, reduzirá a suscetibilidade a
várias doenças e produzirá um decréscimo nos índices de mortalidades
materna e infantil. A malária, por exemplo, poderia ser reduzida com
sucesso através da gestão hídrica, minimizando as áreas de risco dos
hábitats onde proliferam os mosquitos.
Sustentabilidade ambiental
Os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio pretendem também aumentar a expectativa de vida dos moradores
das favelas, para os quais a melhora dos serviços de fornecimento de
água e saneamento é essencial. Os pobres das cidades sofrem pela pouca
qualidade, pela deficiência e pelos altos custos desses serviços, e,
além do mais, são obrigados a enfrentar longas filas quando e se há água
disponível. Aliás, na maioria dos países em desenvolvimento apenas
cerca de 1 a 2% das despesas do governo são destinados à água e
saneamento. Segundo o WSSCC, mais dinheiro é despendido em serviços de
alto custo para poucos do que em serviços de baixo custo para muitos.
Para o abastecimento de água potável e acessível, melhor saneamento e a
proteção da população contra alagamentos e poluição, serão necessários
investimentos consideráveis e projetos de reformas: esses devem ser os
pontos principais das melhorias para os pobres. Os ganhos nessa área
devem ser vistos como significativos na erradicação da pobreza extrema,
da fome, e das doenças por elas causadas.
Os avanços no que se refere à água
também ajudam a atingir as Metas que visam criar a igualdade entre os
sexos e a conseguir promover a educação fundamental em todo o mundo.
Mulheres pobres em áreas urbanas e rurais são, quase sempre, os membros
da família ou dos povoados que carregam a água, o que geralmente
significa uma longa caminhada até a sua fonte. Com melhor abastecimento
de água, as mulheres poderiam utilizar esse tempo em educação. Isso
permitiria que as mulheres tivessem acesso à educação fundamental (que é
uma das Metas), incitando o seu fortalecimento: a meta de igualdade
entre os sexos seria, então, atingida. Estudos também mostram que há uma
relação direta entre o acesso à água nos povoados e a capacidade que
esses povoados têm de atrair professores e outros profissionais.
O cuidado com a água ajuda a garantir a
sustentabilidade ambiental, isto é, de se reverter a perda de recursos
ambientais. Reduzir à metade o número de pessoas sem acesso à água
potável faz parte do Objetivo 10. Ecossistemas dependentes de água como
charcos, mangues, recifes e estuários estão em deterioração, o que
representa uma ameaça. Atividades com o propósito de estimular padrões
de exploração mais sustentáveis e de melhorar a gestão da água, são
fundamentais para se atingir essa Meta. Uma das soluções para que isso
se torne viável é desenvolver a administração integrada dentro das
bacias dos rios onde a gestão de ecossistemas sustentáveis consegue
atenuar os impactos do rio a montante e a jusante.
A saúde, a produção de alimentos para
diminuir a fome e a desnutrição, e as atividades produtivas através das
quais as comunidades pobres consigam obter rendas: todas essas Metas têm
como elo a água. O encadeamento entre as causas será criado nos locais
em que as atividades que ajudem a atingir algumas metas originem
problemas para se alcançar outras metas.
Portanto, é importante lembrar:
alcançar várias metas também pode causar interesses conflitantes. A água
é uma ligação entre todas as atividades que têm por objetivo atingir os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e usá-la como exemplo também
pode realçar o quanto é importante que metas potencialmente conflitantes
sejam bem administradas.
Diminuir a fome e a pobreza implica no
aumento da produção de alimentos e num maior desenvolvimento econômico.
Os efeitos colaterais podem atrapalhar a Meta de Água Potável Segura (em
especial), através do aumento da poluição, e a Meta da Sustentabilidade
Ambiental (em geral), através do esvaziamento dos rios e da poluição.
É essencial, portanto, definirmos
sustentabilidade: O “que” isso significa e “por que” deve ser
respeitada. Além disso, o estabelecimento de um critério mínimo
relacionado com a água é fundamental para que o cumprimento de uma das
Metas não impeça o sucesso de outra.
Criando parcerias para o desenvolvimento
Os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio também pretendem “criar uma parceria global pelo
desenvolvimento”, um veículo importante para atingir outras 7 Metas.
Parcerias no setor de água teriam um papel fundamental para atingir os
objetivos relacionados à saúde, pobreza e meio ambiente, assim como na
educação e na igualdade entre os sexos. Com água, o desenvolvimento da
sustentabilidade das agriculturas locais (onde for possível) ajudaria a
combater a fome e a pobreza e também a criar mercados locais; o
saneamento seria implantado para vencer as doenças que se transmitem
através da água e para minorar os índices de mortalidade. Proteger as
bacias hidrográficas contribuiria para a sustentabilidade desse precioso
recurso.
Para “criar uma parceria global pelo
desenvolvimento”, será enfatizada a função dos novos acordos de
assistência e comércio globais, o perdão da dívida externa e as
estratégias de desenvolvimento. Esse foco nas parecerias globais
requereria uma grande provisão de recursos hídricos e uma estrutura de
gestão de recursos que visasse sua implementação local.
Pesquisas do Banco Mundial mostram que
os subsídios à agricultura nos países ricos – que gira em torno de
US$300 a 350 bilhões ao ano – afetam os preços mundiais, minando assim
as exportações provenientes de países em desenvolvimento. O valor desses
subsídios é maior do que o rendimento econômico total da África
inteira. Os gastos com subsídios não representam nem um sexto dos gastos
com a assistência ao desenvolvimento. Parcerias descentralizadas provêm
respeito às culturas e aos costumes regionais, com o bônus adicional
de, com as mesmas ferramentas usadas para o desenvolvimento, se estimula
a educação e a economia local. Sem implementações locais, os países em
desenvolvimento podem nunca se tornar independentes de tais parcerias.
Consequentemente, os benefícios trazidos pelo desenvolvimento, como a
educação e a geração de empregos, também serão tolhidos.
“Reduzir à metade, até 2015, a
proporção de indivíduos sem acesso à água própria para o consumo e sem
saneamento básico”, conhecido como 10º Objetivo, é um dos elementos
fundamentais para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
É uma mistura entre o objetivo da água potável dos ODM e a Cúpula de
Johanesburgo de 2002 sobre o saneamento.
Obviamente, também é crucial para o
conceito de Integrated Water Resources Management (IWRM). A Cúpula de
Johanesburgo também enfatizou o quanto é importante para os países a
criação de “Planos de Ação” para o IWRM até 2005, pois viu que tais
planos mostravam o caminho para se atingir os ODM. A água é crucial para
todos os tipos de desenvolvimento social e econômico, assim como são
para muitos dos processos da natureza, e é a peça básica para a saúde, a
produção de alimentos, a sustentabilidade econômica e a melhoria da
qualidade de vida.
A água é fundamental por três razões:
os seres humanos a bebem, e sua potabilidade define a saúde de seus
consumidores; a produção de alimentos e as atividades econômicas
dependem dela; e, é finita e móvel, circulando constantemente entre o
mar, a atmosfera e os continentes, num gigantesco e natural sistema de
dessalinização: o ciclo global da água. Suas várias e diferentes funções
na vida dos seres humanos a tornam um denominador comum dos ODM.
2005 – Hora de ação
O ano de 2005 é muito importante na
luta contra a pobreza. Já quase se passaram cinco anos desde o acordo
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e muitos processos terão
que ser iniciados agora, caso o objetivo seja mesmo cumpri-los. O foco
precisa mudar dos problemas de segurança para as questões do
desenvolvimento.
Neste mês de Março, o Secretário-Geral
da ONU, Kofi Annan, relatará como foram os primeiros cinco anos. Outros
relatórios importantes serão divulgados ao longo do ano. O Stockholm
International Water Institute (SIWI) participará de vários processos
importantes; entre outros, a 13ª Reunião da Comissão de Desenvolvimento
Sustentável, em Abril de 2005, e, obviamente, organizará a Semana
Mundial da Água, que acontecerá em Estocolmo entre os dias 21 e 27 de
Agosto. O progresso que já está acontecendo também deve ser enfatizado
em 2005, de modo a manter o ímpeto pelos ODM.
Várias iniciativas estão surgindo.
Programas de implementação do Integrated Water Resources Management
Plans estão a caminho num número crescente de países, assim como novas
iniciativas para melhorar a água e o saneamento nas cidades. Estamos
presenciando o nascimento de uma nova conscientização, tanto nos
governos quanto entre os países doadores.
Em alguns países – cujos governos
tiveram uma efetiva determinação na tomada de decisões – já há um avanço
significativo em direção aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Em 2004, o SIWI produziu, em Estocolmo,
junto com o Projeto Milênio da ONU, um resumo de seu Plano de Ação,
intitulado Investindo no futuro: o Papel da Água para atingir os
Objetivos do Milênio.
O Stockholm International Water
Institute, nesse sentido, também continuará trabalhando para tornar mais
conhecida a evidente conexão entre a água e os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio.
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