Meditação é tão eficaz quanto remédios para tratar depressão?
Aposto que você já ouviu falar de pelo menos um ou dois benefícios da meditação, por exemplo, que ela melhora o sistema imunológico ou que aumenta a nossa capacidade de atenção.
Cada vez mais cientistas descobrem as vantagens dessa prática, principalmente para o cérebro. O tratamento da depressão pode ser a mais nova a ganhar respaldo científico.
Um novo estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA), uma revisão de pesquisas sobre o assunto, concluiu que a meditação de atenção plena pode rivalizar com antidepressivos para aliviar os sintomas da depressão.
A revisão é notável porque os autores analisaram milhares de estudos anteriores sobre meditação, chegando a um pequeno número de ensaios clínicos randomizados (o padrão de ouro na ciência) para exame. Meditação de atenção plena pode não curar tudo, mas quando se trata de depressão, ansiedade e dor, a prática pode ser tão eficaz quanto medicação.
47 ensaios clínicos randomizados, que juntos englobaram mais de 3.500 participantes que ou praticaram meditação (atenção plena ou mantras) ou se engajaram em um outro tratamento, como exercício físico, foram analisados.
Alguns definiam a atenção plena como a prática de prestar atenção aos próprios processos internos (pensamentos e/ou sensações corporais) de maneira curiosa, mas sem julgamento. “Muitas pessoas têm a ideia de que meditação é sentar e não fazer nada. Isso não é verdade. A meditação é um treinamento ativo da mente para aumentar a conscientização, e diferentes programas abordam isso de formas diferentes”, afirma o principal autor do estudo, Madhav Goyal.
O tamanho do efeito da meditação sobre a depressão foi considerado moderado, de 0,3. O que torna esse resultado impressionante é que o tamanho médio do efeito da medicação antidepressiva, principal método de tratamento da doença, também é 0,3. Assim, no que diz respeito a tratar da depressão, doença com uma taxa de cura notoriamente baixa, a meditação pode ser uma escolha igual ou ainda melhor do que drogas, já que, ao contrário dos remédios, não possui efeitos colaterais.
Não houve evidência de um efeito da meditação sobre outras medidas, como atenção, humor positivo, uso de substâncias, hábitos alimentares, sono e peso. Mantras não pareciam ter o mesmo sucesso que a meditação de atenção plena, mas isso pode ser, em parte, porque os pesquisadores tinham muito poucos estudos sobre a modalidade para tirar conclusões reais.
Goval ainda alerta que a maioria dos estudos incluídos na revisão utilizaram períodos de treino muito curtos – geralmente oito semanas ou menos – e que é possível que os resultados sejam ainda melhores com períodos mais longos de meditação.
“Em comparação com outras habilidades, a quantidade de treinamento recebida pelos participantes nos estudos foi relativamente breve. No entanto, vimos um benefício pequeno, mas consistente para sintomas de ansiedade, depressão e dor. Então, podemos ver efeitos maiores com mais treinamento e prática”, diz.
O próximo passo do estudo, inclusive, deve se concentrar nesta questão.
Como não há nenhum grande mal conhecido da meditação, e a prática não vem com quaisquer efeitos secundários, uma boa opção é se engajar na atividade junto com outros tratamentos que o paciente já esteja recebendo.
“É importante mencionar que a psicoterapia ou terapia da conversa, particularmente a terapia cognitivo-comportamental, é conhecida por ser pelo menos tão eficaz quanto antidepressivos e ainda mais eficaz quando combinada com os remédios”, argumenta Goval.
Embora os mecanismos por trás do efeito da meditação sobre a depressão não sejam totalmente claros, os pesquisadores têm alguns palpites. A prática pode aumentar a regulação de atenção, a consciência corporal e a regulação emocional, bem como alterar a autoperspectiva das pessoas (por exemplo, descentramento), o que por sua vez pode desempenhar um papel na doença.
Em um nível puramente biológico, exames de ressonância magnética mostraram que a meditação está ligada a uma redução de atividade na amígdala, a área do cérebro que regula a resposta ao estresse, e também a uma redução da atividade na rede do cérebro que fica “acesa” quando nossa mente está vagando de pensamento em pensamento, situação que muitas vezes causa sentimentos de infelicidade e estresse. [Forbes]
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