Aquele a quem todos chamam de “formiguinha” pode ser um viciado em
açúcar, substância presente em alimentos doces e salgados que pode ser
tão perigosa à saúde quanto as citadas anteriormente. Segundo a
nutricionista americana Brooke Alpert, uma das autoras do livro The
Sugar Detox [“A desintoxicação de açúcar”, sem tradução para o
português], tal consumo exagerado tornaria o indivíduo mais propenso a
desenvolver certos tipos de cânceres, como o de mama e o colorretal.
Além disso, boa parte do açúcar que você come é convertida em gordura
visceral e, consequentemente, em prejuízos. “Ela se deposita
principalmente ao redor da cintura, fazendo com que o corpo adquira uma
forma de maçã. E acarreta todos os problemas médicos associados à
ingestão da substância”, afirma a autora, em entrevista exclusiva à
VivaSaúde. “Se você engordar comendo 3.000 calorias com duas dietas
diferentes, uma com 20% de açúcar e outra com 10%, a primeira
multiplicará mais as células de gordura, apesar de o número de calorias
ser o mesmo”, acrescenta Wilmar Accursio, endocrinologista e nutrólogo,
que também é Diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (SP).
Doce veneno
Dentre os quadros clínicos desencadeados pelos excessos, estão as
doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial e a obesidade. Esse
último facilita o surgimento do diabetes tipo 2, patologia crônica
subestimada pelos “formigas”. A doença torna o organismo resistente à
insulina, que é um hormônio produzido pelo pâncreas para controlar a
entrada de açúcar nas células. Se a insulina produzida é insuficiente ou
ineficaz, os açúcares acabam retidos na corrente sanguínea, acarretando
uma série de complicações e até a morte — caso a enfermidade não seja
devidamente tratada. Carlos Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista da
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), fala que o sobrepeso
“resulta em danos na coluna, aterosclerose (fechamento dos vasos que
fornecem sangue e oxigênio ao coração) e lesões no fígado”. Aumento do
volume do abdome e flatulência são outros problemas comumente
apresentados por viciados em açúcar. “Tais alterações, podem, entre
outros fatores, relacionar-se a mudanças na microbiota intestinal. O
excesso de açúcares simples (caso da sacarose, que é o tipo usado nos
lares) leva à maior fermentação, o que gera desconforto abdominal e
gases. Além disso, fungos e bactérias patogênicas utilizam-no para
crescer e se proliferar”, diz Clarissa Poletti, nutricionista e diretora
de Pesquisa e Desenvolvimento da Essential Nutrition (SC).
Realmente necessário?
Você já deve ter ouvido falar que o corpo humano precisa de açúcar para
desempenhar suas atividades rotineiras. Pois saiba que a substância em
questão não é a sacarose, mas sim a glicose, que atua como principal
combustível no funcionamento de órgãos, tecidos e músculos. É
considerada um carboidrato simples, pois sua absorção pelo organismo é
feita rapidamente. Isso não significa, contudo, que uma alimentação
saudável deve ser baseada somente em glicose pura, tampouco em outros
carboidratos simples, como a frutose (derivado das frutas e do xarope de
milho), a lactose (presente no leite) e também a maltose (cerveja e
cereais).
Desejo incontrolável
Exagerar nessas substâncias pode desencadear compulsões. “Dependentes
de açúcar sofrem assim como viciados em álcool e drogas. A causa disso
está na forma como o ingrediente é metabolizado: quando ingerimos
alimentos ricos em carboidratos simples, acontece um pico no nível de
glicose no corpo, que é seguido por uma baixa. Durante essa baixa,
sentimos falta de disposição e passamos a desejar mais açúcar. Isso cria
um ciclo vicioso”, diz Patricia Farris, dermatologista e coautora da
obra The Sugar Detox. Além disso, a glicose estimula o sistema límbico —
parte do sistema nervoso central responsável pela sensação de prazer.
Accursio explica que, ao ingerirmos doces, há secreção de insulina. A
reação química acaba priorizando a entrada de triptofano no cérebro. Tal
aminoácido serve como matéria-prima para a fabricação de serotonina,
levando o corpo à sensação de calma, prazer e bem-estar. “Faz parte da
nossa cultura consumir um doce como sobremesa, recompensar boas atitudes
com guloseimas, tomar um café com bolo com os amigos no final da tarde.
Por anos, essas situações nos condicionaram a associar o açúcar a
lembranças de bons momentos”, completa a nutricionista Clarice.
Solução complexa
O certo é investir nos carboidratos complexos, presentes em alimentos
como arroz, cereais, pães e massas, eles garantem maior saciedade e não
geram picos no índice glicêmico. “Por exemplo, se você consome 2.000
kcal/dia, não deve exceder 200 kcal de açúcar ou carboidratos. Isso
equivale a 2 colheres de sopa (24 g). Mas atenção: essa quantidade se
refere ao total consumido durante o dia, em todos os alimentos. Ou seja:
abrange desde a colher de chá que você usa para adoçar o café da manhã
até a quantidade presente em biscoitos, bolos, tortas e outros doces”,
recomenda Accursio.
O efeito do controle
Por isso, é preciso ficar atento aos alimentos e condimentos que contêm
açúcares escondidos. Accursio fala ainda que o uso controlado de
adoçantes, mel e açúcar mascavo ajuda a livrar-se da sacarose. Embora
esteja comprovado que o excesso de frutose pode ser mais prejudicial do
que o de glicose, a nutricionista Clarisse lembra que o problema está no
xarope de milho, e não nas frutas. O ideal é fugir da primeira opção.
“As frutas são acompanhadas por minerais, vitaminas e fibras, que
reduzem os malefícios do vilão no organismo. Já o xarope de milho,
utilizado pela indústria, é uma combinação quase em partes iguais de
glicose e frutose. Isso porque essa última é 70% mais doce que a
sacarose, e seu custo mais barato. A frutose é mais estável em soluções
líquidas como os refrigerantes, justificando seu uso disseminado
nestes”, conclui a especialista.
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