13/12/2013 21h27
- Atualizado em
13/12/2013 21h50
Fumantes são mais infelizes, indica estudo feito na PUC de Porto Alegre
Segundo aponta pesquisa, tabagismo pode levar à ansiedade e depressão.
Estudos estão desmitificando a ideia de que o cigarro pode ser calmante.
A pesquisa foi realizada com 1.021 pacientes do Ambulatório de Cessação do Tabagismo do Hospital São Lucas da PUCRS e comparou grupos de fumantes, ex-fumantes e pessoas que nunca fumaram. Os resultados mostraram que os primeiros atingiram, em média, 50% a mais de pontos do que os demais em uma escala usada para medir o grau de depressão.
Entre o grupo de tabagistas, os que fumavam mais cigarros por dia e por mais tempo apresentaram quadros de depressão mais profundos. Para o pneumologista José Miguel Chatkin, coordenador do estudo, os resultados reforçam a noção de que a nicotina ou outras substâncias inaladas na fumaça do cigarro podem ser causadores de ansiedade e depressão.
“Inúmeros trabalhos têm mostrado que o grau de ansiedade e de depressão de fumantes são maiores. Não fumantes e ex-fumantes são mais felizes em vários aspectos da vida, como satisfação com a posição profissional e com a vida pessoal”, explica o médico.
O pneumologista diz que até poucos anos atrás predominava, mesmo entre os profissionais de saúde, a noção de que o fumante utilizava o cigarro como uma automedicação, um ansiolítico ou antidepressivo, para aliviar o mal-estar que sentia. As pesquisas recentes, no entanto, estão derrubando esse mito e demonstrando que o tabagismo pode estar associado a outros malefícios, além dos já conhecidos pela medicina.
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O estudo não constatou diferenças significativas entre homens e
mulheres. Também mostrou que ex-fumantes apresentavam grau de ansiedade
ou depressão praticamente igual ao do grupo de pessoas que nunca fumou,
resultado considerado importante para orientar o trabalho de
especialistas no tratamento de pacientes que desejam abandonar o vício.“Esse é um argumento fundamental para ser utilizado com o tabagista. Durante o tratamento, existe um momento de turbulência, provocado pela crise de abstinência, que dura cerca de uma semana. O fumante fica pensando em como será a vida dele sem a 'bengala' que é o cigarro. Mas ele precisa entender que, passada essa fase, ele terá um ganho de qualidade de vida significativo”, destaca Chatkin.
Parte da tese de doutorado de uma bióloga, o estudo feito na PUCRS foi publicado no British Journal of Psychiatry e apresentado em uma conferência nos Estados Unidos. Agora, ele dará origem a outra pesquisa, mais completa, com acompanhamento de pacientes antes e depois de largarem o cigarro. A intenção é saber se a melhora no humor tem relação com o tabagismo ou se deve ao fato do ex-fumante sentir-se melhor por ter conseguido vencer a batalha contra o fumo.
Hábito de fumar pode levar à depressão, diz
pesquisa (Foto: Reprodução)
SUS oferece tratamentopesquisa (Foto: Reprodução)
Segundo dados do Ministério da Saúde referentes a 2012, o número de fumantes em Porto Alegre caiu 10% nos últimos seis anos. Ainda assim, a cidade segue sendo a capital brasileira com maior incidência de adultos fumantes, com 18% do total da população. A capital gaúcha também tem a maior proporção de pessoas que fumam 20 cigarros ou mais por dia: 7%.
Levantamentos semelhantes indicam que 80% dos fumantes desejam parar de fumar, mas apenas 3% conseguem a cada ano. A maior parte abandona o cigarro sozinha, mas muitas pessoas precisam de tratamento especializado, que inclui acompanhamento psicológico e até o uso de medicamentos. Nesse caso, as chances de sucesso são maiores, diz a coordenadora do Programa Municipal de Controle do Tabagismo da capital, Fabiana Reis Ninov.
O tratamento para parar de fumar é oferecido de graça no sistema público de saúde. De acordo com Fabiana, o interessado precisa procurar o seu posto de saúde de referência. Lá, ela será encaminhado para a consulta com um médico, que fará uma abordagem clínica e solicitará exames. Depois disso, o paciente é convidado a participar de encontros com um grupo de apoio e, dependendo do grau de dependência, pode receber remédios.
“Normalmente, quando o tabagista nos procura ele tem um alto grau de dependência, com consequências sérias para a saúde. Nesses encontros, ele vai aprender a mudar o seu comportamento, a se conscientizar. O cigarro está relacionado a hábitos. A pessoa fuma depois do café, quando está ansiosa, triste, etc. Ele apreende com os profissionais a mudar esse comportamento e a lidar com os sintomas da crise de abstinência”, diz a especialista.
Em torno de 20 a 30% dos pacientes conseguem deixar de fumar após os primeiros quatro encontros com o grupo de apoio. Muitos tem recaídas, consideradas normais pelos especialistas. São poucos os que conseguem abandonar o vício logo nas primeiras tentativas. Isso porque, segundo Ninov, a dependência da nicotina é a mais forte entre as drogas, superior à do crack e da heroína, por exemplo.
O empresário Omar Ballestrin Outeral só consegui vencer a batalha contra o tabagismo após três tentativas. Fumante por 49 dos 61 anos de vida, ele lembra exatamente a data em que se livrou do vício: 29 de janeiro de 2013. Desde então, notou benefícios não só no humor, mas em vários outros aspectos. Tanto que hoje se considera uma pessoa completamente diferente da que fumava dois maços de cigarro por dia.
Como muitos fumantes, ele decidiu largar o cigarro quando começou a ter problemas de saúde. No caso dele, de pressão. Após o tratamento, largou o cigarro e ganhou 12 quilos. Desde então, mudou seu estilo de vida e adotou hábitos mais saudáveis. Fez dieta para perder o peso extra e começou a caminhar cerca de um quilômetro diariamente.
“Eu fumava de meia em meia hora. O cigarro era meu maior companheiro. Depois que parei, a melhora foi geral. Acabou aquela tosse maldita que eu tinha. Tenho mais disposição, não sinto mais dores nas pernas, e estou dormindo melhor. Até a minha pele melhorou. Meu bigode e meus dentes até estão mais brancos”, garante Omar.
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