sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Prioridades diferentes para um país melhor

Prioridades diferentes para um país melhor
Notícia disponibilizada no Portal www.cmconsultoria.com.br às 09:36 hs.
13/12/2013 - Pesquisa do Ipea mostra que pobres e ricos têm opiniões diferentes quando listam as áreas nas quais o governo deveria agir com mais intensidade. Enquanto os mais carentes sonham com emprego e segurança, os mais favorecidos querem ética na política

Da varanda de seu barraco repleto de lama, na Estrutural, a catadora de material reciclável Ana Paula Barbosa dos Santos, 25, responde com desânimo à pergunta sobre o que poderia melhorar a vida dela. Mãe de três filhos e à espera do quarto, ela lida todos os dias com a falta de água limpa, o mau cheiro do aterro sanitário e as crianças fora da escola. Diante de “tantas faltas”, ela diz que mais segurança contra a violência é uma das prioridades para o “mundo” dela ser melhor.

Com quase a mesma idade de Ana Paula, a estudante da Universidade de Brasília (UnB) Daiana Nasário, 24 anos, tem outras prioridades. Cursando bacharelado em artes plásticas, a jovem acredita que os brasileiros precisam de políticos mais honestos e responsáveis.

As diferenças de opinião entre as duas jovens brasilienses de classes econômicas distintas refletem alguns dos resultados do estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O levantamento revela que, entre os mais pobres, as pessoas acreditam que trabalho, assistência aos desempregados e proteção contra a violência são essenciais para um Brasil melhor. Já os mais ricos priorizam liberdades políticas, proteção do meio ambiente e governos mais honestos.

Intitulado Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) – Nossos Brasis: prioridades da população, o estudo foi a campo em agosto de 2013 e ouviu 3.819 pessoas em mais de 200 cidades do país. Cada entrevistado listou seis prioridades para sua família dentre 16 opções apresentadas aleatoriamente. O levantamento faz parte da pesquisa Meu Mundo (My World), das Nações Unidas, que define as prioridades da população mundial até 2015.

Para Daiana, só a presença de políticos mais atuantes e responsáveis poderá mudar a realidade precária de pilares fundamentais da sociedade, como a educação pública. “Precisamos de um governo que invista em ações de educação e, assim, os cidadãos serão mais conscientes e poderão cobrar por políticas melhores”, afirma. Já Ana Paula, com a filha pequena nos braços, pede, principalmente, pela segurança da família. “Aqui tem muita violência, por causa das drogas”, afirma. Ela suspira e acrescenta: “Tem morte demais”.

Aluna de engenharia ambiental, Alana Mioranza, 21 anos, não tem dúvidas de que mais políticos honestos e comprometidos com o povo fariam toda a diferença para um Brasil melhor. “O começo para todas as políticas públicas está na articulação do poder público com a sociedade”, disse. A jovem estava acompanhada dos também estudantes Guilherme da Silva, 20, e Rafael Garcia, 21. Os dois apontaram a “governança atuante e honesta” como a principal prioridade listada na pesquisa das Nações Unidas.

Além da renda, a pesquisa apurou ainda as diferenças de prioridade de acordo com as diversas características dos indivíduos, como idade, gênero, raça, região geográfica e os beneficiários das políticas de transferência de renda. Entre os que recebem o Bolsa Família, por exemplo, a maioria quer água limpa, alimento e apoio à quem não pode trabalhar.

A comparação entre as regiões Nordeste e Sudeste foi a que apresentou as maiores diferenças de prioridades. Os nordestinos dão muito mais importância ao acesso à água, seguido pelo acesso a alimentos e por medidas para minimizar as mudanças climáticas — reflexo da seca que assola a Região. Já quem mora no Sudeste elege com mais frequência a boa governança, a educação de qualidade e a defesa ambiental, prioridades destacadas também pelas pessoas de mais alta renda de todas as regiões do país.

Em relação à pesquisa mundial, os brasileiros têm duas prioridades diferentes. No Brasil, a proteção contra o crime e a violência está na quarta posição do ranking, enquanto essa é apenas a sétima preocupação dos estrangeiros. E lá fora, a procura por oportunidades de trabalho ocupa a terceira maior prioridade, enquanto os brasileiros deixaram o trabalho no oitavo lugar da listagem.

"Aqui tem muita violência, por causa das drogas. Tem morte demais”
Ana Paula Barbosa dos Santos, catadora de material reciclável

"Precisamos de um governo que invista em educação. Cidadãos mais conscientes podem cobrar políticas melhores”
Daiana Nasário, estudante da UnB

Por um país melhor
Ranking das prioridades dos brasileiros

» Melhorias nos serviços de saúde
» Educação de qualidade
» Proteção contra o crime e a violência

» Melhores oportunidades de trabalho
» Governo honesto e atuante
» Acesso a alimentos de qualidade

Mais pobres querem:
» Apoio a quem não pode trabalhar
» Mais oportunidades de trabalho
» Proteção contra a violência

Mais ricos querem:
» Liberdades políticas
» Governo honesto e atuante
» Proteção da natureza

Autor(es): DANIELA GARCIA
Fonte: Correio Braziliense

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