Só, somente só
Edson Vidigal
De que adianta o círculo de áulicos, os salamaleques em derredor, o poder que engana?
De que adiantam os
aplausos resultantes da mera formalidade e nem carregam a sinceridade da
emoção mais verdadeira silente e omissa deixando espaços ao silêncio?
De que adianta,
moçoila, acreditar nas estatísticas em torno de um mundo que ninguém
conhece nem ouviu falar de sério por aqui e ainda assim achares que nós,
da plebe rude, te somos devedores?
Além da atmosfera,
num espaço ainda sossegado num latifúndio azul celeste, circulam velozes
os meteoritos e com eles aquelas pedras gigantescas e uma delas num
cascudo de leve no coco da terra pode, assim num piscar de olhos, com
tudo acabar.
E aí do que vai
adiantar teu dinheiro de origem duvidosa, aquela cirurgia plástica que
só te fez parecer mais velha, ah meu Deus que horror, do que vai
adiantar tua coleção de vitórias se as coleciona sem vencer, mas tomando
na marra, ludibriando, trapaceando?
Outrora cruzavas
com uns dissimulados, meio encabulados, e parecias encantá-los. Uns até
se deram bem. Outros não se deram mal. Investiste e perdeste. Do que
adiantou?
De que adianta
escaladas maiores se não consegues sobreviver sem o teu baralho, teu
cigarrim e teu uisquim, tendo teus dóceis amiguins em derredor fingindo
que perdem o jogo só para em troca de amaciar teu ego levarem vantagens,
outras vantagens, que não diminuem em nada o teu baú?
Ah nem percebes que
a cada dia mais quando convocas os teus áulicos para o teu derredor e
os aumenta em quantidade, de nada adianta porque só amplias a longa
avenida da tua solidão.
Mais duro que estar
só é não perceber a solidão roendo quieta, comendo em silêncio,
multiplicando calmamente os átomos devoradores de sonhos e de amplidão.
Oh tu, moçoila
orgulhosa, orgulhosa não porque tiveste em algum dia alguma razão nobre
de que pudesses te orgulhar! És incansável, sim, mas no desassossegar,
no transgredir, no xingamento com os nomes mais feios. Nem teu pai nem
tua mãe te os ensinaram.
Mas de que adianta
tu te achares a linda, a tosa, e não inspiras aos homens mais que um
gesto de piedade, aquela piedade de levar cristão a velórios ou, quando
muito, um soneto do Vinicius, daqueles tristes, como o que tenta
decantar a solidão.
Depois foi só. O amor era mais nadaSentiu-se pobre e triste como Jó.Um cão veio lamber-lhe a mão na estradaEspantado, parou. Depois foi só.
Há um tempão que eu
não te via assim bem de perto. Pôxa, mas como estás feia. Quem sabe se
tirando essa raiva de dentro de ti talvez melhores.
E ficando doce e menos infeliz, até melhores.
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.
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