Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes conseguiu destaque em diferentes campos das artes: literatura, teatro, cinema, música. Mesmo após tantos anos de sua morte, ele segue encantando gerações.
Vinicius de Moraes, ícone das artes, fez com que o mundo conhecesse o Brasil através da sua inesquecível Garota de Ipanema.*
Marcus Vinicius da
Cruz e Mello Moraes nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913,
em uma família de apaixonados pela arte. Seu pai dividia-se entre o
serviço como funcionário da prefeitura e seu lado artístico (violinista
amador e poeta), e sua mãe, Lídia Cruz, era pianista. Por ter crescido
em meio às artes, tornou-se, então, desde muito pequeno, um interessado
pela poesia, ainda na escola primária Afrânio Peixoto, onde em 1916
iniciou seus estudos.
Aos nove anos, já demonstrando sua
personalidade decidida, foi juntamente a sua irmã Lygia a um cartório no
centro do Rio para mudar seu nome, passando a se chamar simplesmente
Vinicius de Moraes.
Em 1924, no colégio Santo Inácio,
Vinicius iniciou sua “vida artística”, pois nessa época já cantava no
coral da escola e montava pequenas peças teatrais. Em 1927, deu início
ao seu lado compositor, junto aos irmãos e recém-amigos, Haroldo e Paulo
Tapajós. As apresentações restringiam-se a festas de amigos.
Já na faculdade de Direito do Catete,
hoje UFRJ, conheceu e tornou-se amigo de Otávio Faria, um romancista,
que muito o incentivou em sua vocação literária. Graduou-se, em 1933, em
Ciências Jurídicas e Sociais. Após três anos, tornou-se censor
cinematográfico do Ministério de Educação e Saúde. Dois anos mais tarde,
foi presenteado pelo Conselho Britânico com uma bolsa de estudos para a
Universidade de Oxford, lá estudou língua e literatura inglesa. Em
1941, voltou ao Brasil, tornando-se crítico de cinema, no jornal “A
manhã”, e colaborador da revista “Clima”, do Instituto dos Bancários.
Em 1943, foi aprovado no Ministério de
Relações Exteriores e, em 1946, tornou-se vice-cônsul em Los Angeles. Em
1950, retornou ao Brasil em razão da morte de seu pai, mas voltou a
servir ao país no exterior, em Paris e Roma. Sua carreira diplomática
foi seguida até 1968, quando teve sua aposentadoria compulsória
decretada pelo AI-5 (decreto feito pelo governo a fim de controlar os
meios de comunicação e as manifestações artísticas da época). A
justificativa dada foi que, em razão do comportamento boêmio, Vinicius
não estava conseguindo cumprir sua função.
Vinicius de Moraes era boêmio, fumante,
amante de uísque e de mulheres (casou-se nove vezes), diplomata,
dramaturgo, jornalista, advogado, poeta, compositor, um homem
multifacetado, que viveu em “um labirinto em busca de uma saída”.
Era um apaixonado pela vida, que para ele era a arte dos encontros, entretanto, mostrava sua forma paradoxal de enxergá-la, pois completava o verso com embora haja tantos desencontros pela vida. Vinicius era ao mesmo tempo: viril e terno; transcendente e carnal; o branco mais preto do Brasil.
Suas obras são múltiplas, como o próprio Poetinha
– termo com que era carinhosamente chamado por Tom Jobim (um de seus
parceiros na música), e estão presentes na literatura, no teatro, no
cinema e, claro, na música. Suas obras são lugares de encontros e
despedidas, caminhando para a percepção do material da vida, do amor e
da mulher. Ele é considerado um dos poetas mais sensuais – fama iniciada
entre 1943 e 1946 com as obras “Cinco Elegias” e “Poemas, sonetos e
baladas”. No entanto, ao se autodefinir, Vinicius de Moraes dizia ser
“só um poeta do cotidiano”.
O cotidiano está presente em todas as suas obras. Compartilhando a temática das gerações de 30 e de 45, Vinicius preocupava-se com as questões universais do homem e com os problemas da sociedade capitalista.
Vinicius de Moraes teve sua consagração literária em 1954, com a publicação de Antologia Poética e da peça Orfeu da Conceição.
Em 1956, iniciou sua parceria com Tom Jobim. Músicas como “Eu sei que
vou te amar” e “Garota de Ipanema” são alguns dos exemplos dessa
parceria vitoriosa. Em 1958, os parceiros Vinícius e Tom, juntos a
outros renomados artistas, deram início ao célebre movimento musical
conhecido por Bossa Nova.
A década de 60 pode ser considerada como o período áureo da MPB. Nessa
época, Vinicius de Moraes teve aproximadamente 60 de suas composições
gravadas.
O Poetinha foi um ícone em sua
geração e segue encantando as próximas. Teve participação renomada no
movimento da Bossa Nova, rompeu convenções sociais, foi da poesia culta à
popular e revolucionou a literatura ao escrever soneto (composição
poética contendo as duas primeiras estrofes com quatro versos e as duas
últimas com três) mesmo após a revolução modernista de 1922, que rompeu
com esse tipo de construção. Cantou como ninguém as belezas de sua
cidade natal, Rio de Janeiro, e a mulher carioca.
O poema social de Vinicius, eternizado com o “Operário em construção”, alcançou tanto prestígio quanto os de temática lírico-amorosa. A seguir, leia o Soneto da separação, um dos exemplos que compõem a sua extensa obra lírico-amorosa.
Soneto de separação
“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente”.
“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente”.
Além de Tom Jobim, também foram
parceiros de Vinicius: Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque,
Carlos Lyra e Toquinho. Este último o acompanhou até sua morte, ocorrida
em 9 de julho de 1980. Os parceiros estavam acertando os últimos
detalhes de mais um trabalho juntos, o álbum Arca de Noé, que só foi lançado em 1981.
A música e a obra de Vinicius seguem
encantando gerações. Ele obteve o reconhecimento de seu trabalho em
vida, mas não de forma plena. Após tantos anos de sua morte, percebe-se
que o que Carlos Drummond de Andrade falou em seu depoimento sobre
Vinícius tem se concretizado “Daqui a 20, 30 anos, uma nova geração
julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que nós
não somos capazes de ter. Eu acredito que a poesia dele sobreviverá
independente de modas e teorias, porque responde a apelos e necessidades
do ser humano.”
Vinicius de Moraes tem sido amplamente homenageado, incluindo a anistia,
que lhe foi concedida em 1998 (18 anos após sua morte), o título de
Ministro de 1ª classe do Ministério de Negócios Estrangeiros (cargo
equivalente ao de embaixador), em 2010, além de edições de sua obra
literária e musical. 2013 é o ano de seu centenário, por isso, muitas
outras homenagens estão programadas.
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*Créditos da imagem: Neftali e Shutterstock.com
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