Bactérias intestinais e obesidade
A obesidade é uma doença associada a uma alta
ingestão energética e uma das principais abordagens de seu tratamento é a
restrição calórica. Muitos estudos estão em andamento sobre os
mecanismos que levam algumas pessoas a desenvolver obesidade e outras
não. Aspectos de estilo de vida, sócio-culturais e econômicos certamente
têm uma contribuição importante. Alterações em mecanismos
neuroendócrinos que atuam no circuito de recompensa no cérebro, o que
leva a caracterizar a obesidade como um tipo de adição, também têm sido
propostas como fator associado à obesidade.
Recentemente tem surgido uma nova perspectiva
de compreensão dos mecanismos que levam à obesidade. Essa nova abordagem
está vinculada às recentes descobertas indicando uma grande quantidade e
diversidade na composição dos microrganismos que habitam o organismo
humano. Os resultados de um projeto internacional (Human Microbiome
Project Consortium) que visa caracterizar o “segundo genoma humano” –
chamado de microbioma humano – demonstram que este microbioma consiste
em mais de 10.000 espécies de micróbios, abrangendo 8 milhões de genes
microbianos. Estima-se que em uma pessoa pesando 90 kg, de 3 a 6 kg
sejam micróbios, a maior parte deles coexistindo saudavelmente com os
humanos e resultando em benefícios mútuos.
Pois parte dessas bactérias habitam o sistema
digestivo e parecem influenciar o desenvolvimento de sobrepeso e
obesidade. Pessoas que têm maior facilidade de engordar apresentam em
seu trato intestinal um maior nível de certas espécies de bactérias
quando comparados com indivíduos magros. O intestino, sendo o órgão onde
o alimento é processado e absorvido, desempenha um papel crucial no
ganho e na perda de peso.
Além disso, os dados também sugerem que o tipo
de alimento influencia decisivamente o padrão do microbioma intestinal.
Dessa forma, a dieta ocidental vigente, com alto conteúdo de gordura
saturada, carboidratos simples e alimentos refinados, colaboraria para o
desenvolvimento de um microbioma intestinal que predispõe à obesidade,
enquanto os alimentos integrais e ricos em fibras favoreceriam o
microbioma contrário à obesidade.
Mesmo que não se saibam os mecanismos exatos
pelos quais estas bactérias regulam a absorção energética, estes
resultados indicam uma complexa interação entre o ser humano e a
natureza, incluindo, além dos conhecidos ecossistemas externos, um novo e
inexplorado ecossistema interno.
Fontes
- - Science 341, (2013); 6 SEPTEMBER 2013 - DOI: 10.1126/science.1241214
- - Nature - 29 AUGUST 2013 | VOL 500; 585
- - Nature - 14 JUNE 2012 | VOL 486; 223
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